Acordos com as Farc serão submetidos à aprovação popular na Colômbia
O governo do presidente Juan Manuel Santos submeterá à aprovação dos colombianos os acordos que alcançar com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) nas negociações de paz que acontecem em Cuba, anunciou o chefe da delegação oficial neste domingo (7).
"Nosso trabalho em Havana será submetido a um processo de referendamento por parte do corpo cidadão", escreveu o ex-vice-presidente Humberto de la Calle, em um texto divulgado no jornal "El Tiempo", de Bogotá.
O chefe dos negociadores enviados por Santos a Havana afirmou que "é a cidadania quem resolve, não os delegados do governo", no texto intitulado "Buscar a paz: imperativo moral". "Haverá algo mais distante desta ideia sinistra de negociar de costas para o país?", escreveu De la Calle, em alusão direta a críticas de alguns setores às negociações.
Ele assegurou entender que muitos colombianos acreditam que não se deve dialogar com as Farc. "É uma posição legítima", disse, mas rejeitou que se "recorra à propaganda negativa, ao truque de atribuir ao governo e sua delegação em Cuba intenções que não têm" quando não se está de acordo com a negociação.
ÁLVARO URIBE
Na sexta, Santos acusou seu antecessor e padrinho político, Álvaro Uribe (2002-2010), de fazer propaganda negativa contra o processo de paz iniciado em 19 de novembro de 2012. O atual presidente foi ministro da Defesa de Uribe e, no cargo, pôs em marcha a política do presidente de enfrentar com firmeza as Farc.
O chefe de negociações do governo também assegurou no texto que os acordos que forem costurados com a guerrilha não vão "transbordar os elementos centrais da dignidade humana e os fundamentos do Estado democrático de direito".
De la Calle também pediu aos colombianos que apoiem as negociações, participando na terça-feira de uma marcha convocada por diversas organizações de defesa dos direitos humanos, da busca da paz pela via negociada e pelo esquerdista movimento político Marcha Patriótica.
Por meio de sua conta no Twitter, Uribe pediu o boicote da "marcha pela impunidade" --como a denomina.
AS FARC
Em Havana, as Farc informaram hoje que darão "seu apoio moral" à marcha pela paz e pediram aos colombianos que façam "tremer" as ruas do país para forçar o governo a "fazer reformas".
"Gente proveniente de todos os setores políticos tomaram esta bandeira [da paz] e estarão nesta marcha todos os setores sociais possíveis. Nós, de Havana, a impulsionaremos com nosso apoio moral", disse o comandante da guerrilha comunista, Ricardo Téllez, em entrevista publicada no jornal "Juventud Rebelde".
"Deve ser uma manifestação que faça tremer a Colômbia para que o Estado saiba que precisa fazer reformas", acrescentou o líder guerrilheiro.
Com 8.000 combatentes, as Farc têm 48 anos de luta armada contra o Estado colombiano e são a guerrilha mais antiga da América Latina.
NEGOCIAÇÕES
As negociações de paz em Havana estão centradas no primeiro de uma agenda de cinco pontos, que é o polêmico tema agrário --que deu origem ao conflito.
Santos expressou a confiança de que em novembro um acordo final seja costurado , mas as Farc se recusam a por um prazo para as negociações.
As partes suspenderam as conversações em 21 de março e voltarão a se reunir a partir da terceira semana de abril em Cuba.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Um mundo de muros
Em uma série de reportagens, a Folha vai a quatro continentes mostrar o que está por trás das barreiras que bloqueiam aqueles que consideram indesejáveis