Irmandade Muçulmana convoca "dia de cólera" no Egito
A Irmandade Muçulmana convocou seus seguidores para que ocupem as ruas do Cairo nesta "sexta-feira de cólera", após o massacre provocado pela repressão aos partidários do presidente deposto, Mohamed Mursi, que na quarta deixou quase 600 mortos no país.
"As manifestações contra o golpe de Estado partirão de todas as mesquitas do Cairo e se dirigirão à Praça Ramsés após a oração, para uma "sexta-feira de cólera'", disse o porta-voz Gehad El Haddad.
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O chamado ocorre em meio à ação das forças de segurança contra os militantes da Irmandade Muçulmana, e após a polícia invadir uma mesquita no Cairo onde estavam os corpos de dezenas de manifestantes islâmicos mortos na véspera.
"Cercaram a mesquita e lançaram bombas de gás lacrimogêneo. Agora estão dentro e nós saímos", disse Ibrahim, um médico que se encontrava dentro do prédio, de onde foram retirados os corpos de mais de 200 vítimas da repressão ao longo do dia.
Na quarta-feira, o Egito viveu o dia mais sangrento de sua história recente, que deixou quase 600 vítimas. Ao menos 300 pessoas morreram durante a ofensiva militar e policial contra os simpatizantes do ex-presidente islâmico Mohamed Mursi, deposto pelo Exército.
Nesta quinta, um ataque contra a sede administrativa do governo da província de Gizé, no subúrbio do Cairo, e a morte de nove policiais e militares, ambos atribuídos a grupos islâmicos, levou o ministério do Interior a autorizar seus homens a utilizar munição real contra qualquer um que atacar prédios governamentais ou as forças de ordem.
O banho de sangue provocado pelas forças da ordem chocou a comunidade internacional e foi condenado energicamente pelo presidente Barack Obama, que cancelou os exercícios militares conjuntos EUA-Egito e alertou que o país está em "um caminho muito perigoso".
A presidência egípcia reagiu à condenação de Obama afirmando que este tipo de declaração, "que não se baseia em fatos, pode estimular grupos armados violentos".
"A presidência agradece a preocupação dos Estados Unidos pelos acontecimentos no Egito, mas gostaria que tivesse esclarecido os fatos. O Egito enfrenta atos terroristas contra instituições governamentais e instalações essenciais", declarou a agência oficial Mena.
Os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que se reuniram para consultas na noite desta quinta-feira, afirmaram a importância "de se acabar com a violência no Egito e que as partes demonstrem o máximo de contenção".
O presidente francês, François Hollande, afirmou "que se deve fazer todo o possível para evitar a guerra civil" no Egito, e que "a França está comprometida em encontrar uma solução política e deseja que eleições sejam organizadas o quanto antes, conforme os compromissos assumidos pelas autoridades egípcias de transição".
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, denunciou uma "matança muito grave" no Egito e pediu que sejam tomadas ações. O premier também criticou a "hipocrisia" da comunidade internacional.
Erdogan, chefe do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), de inspiração islâmica, atacou desde o início a destituição de Mohamed Mursi, a qual classificou de "golpe de Estado" - ao contrário da postura prudente adotada pelas nações ocidentais.
O mundo ficou chocado com as imagens dos acampamentos de partidários de Mursi, em duas praças do Cairo, devastados após a ação do Exército e da polícia.
Imagens aéreas mostraram um mar de barracas em chamas na praça Rabaa al-Adawiya, ocupada por mais de um mês por milhares de manifestantes, incluindo mulheres e crianças.
Segundo o chefe dos serviços de emergência egípcios, mais de 200 pessoas morreram apenas na praça Rabaa al-Adawiya. A Irmandade Muçulmana indicou, por sua vez, 2.200 mortos e mais de 10.000 feridos.
Nesta quinta-feira, dezenas de pessoas tentavam identificar parentes tapando o rosto com lenços para evitar o forte cheiro. Entre eles, uma mulher afirmou à AFP que tinha ido buscar o corpo de sua filha. Uma outra mulher entrou em desespero ao encontrar um corpo calcinado sob um lençol.
Várias personalidades egípcias criticaram a intervenção das forças de ordem, principalmente o vice-presidente Mohamed ElBaradei, prêmio Nobel da Paz, que renunciou, e o grão-imã de Al-Azhar, a maior autoridade do Islã sunita.
A imprensa egípcia, entretanto, deu apoio ao Exército, como o jornal governamental Al-Akhbar, que destacou "O fim do pesadelo da Irmandade Muçulmana".
A Irmandade denuncia um golpe de Estado militar liderado pelo general Abdel Fattah al-Sissi contra Mursi, o primeiro presidente democraticamente eleito do país, e se recusa a participar do processo de transição no Egito.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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