Análise: Possível intervenção na Síria traz dúvidas e riscos para o Ocidente
Os líderes de Reino Unido, EUA e França passaram os últimos dias mergulhados em planejamento militar e diplomático em resposta ao ataque com armas químicas que teria sido cometido pelo governo sírio na semana passada.
Esse planejamento sugere que eles vão lançar um ataque militar contra o regime do ditador Bashar al-Assad nas próximas semanas.
Isto dito, existem aspectos- chave desse ataque que ainda não foram esclarecidos.
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Primeiro: qual seria a base legal da ação militar? William Hague, o chanceler britânico, disse que a resposta poderia ser tomada com base "no grande sofrimento e carência humana". Desse modo, disse ele, uma decisão sobre uma ação militar poderia ser tomada sem passar pela ONU.
Mas os EUA e seus aliados serão pressionados a explicitar quais são as bases legais de tal ação. Ela irá se basear no "direito de proteger" civis, como quando a Otan bombardeou a Sérvia em 1999? Ou na necessidade de impedir violações das convenções internacionais que proíbem o uso de armas químicas?
Em segundo lugar, os EUA e seus aliados já afirmaram categoricamente que o regime de Assad foi responsável pelo ataque químico maciço nos arredores de Damasco. Mas ainda não deram detalhes das informações de inteligência que os levaram a uma conclusão tão firme.
As evidências circunstanciais de que o ultraje teria sido cometido pelo regime parecem ser imensas. Mas qual foi o agente químico utilizado? Quem deu a ordem de atacar? Em algum momento, os países serão pressionados a detalhar o que sabem.
Em terceiro lugar, há a questão de qual será o objetivo de uma possível ação militar. A impressão dada por autoridades britânicas é a de que será um acontecimento único para dissuadir o regime de Assad de empregar armas químicas novamente.
Mas o fato é que um ataque sério aos equipamentos militares do país pode fazer a balança pender em favor dos rebeldes que há mais de dois anos combatem o regime.
Finalmente, quais são os riscos da ação militar? A Síria de Assad não é um Estado pária e sem aliados, como era a Líbia de Muammar Gaddafi. O regime recebe ajuda de assessores russos e iranianos e também de militantes do grupo xiita libanês Hizbullah.
O risco de que uma ação militar aprofunde as tensões com os importantes aliados de Assad e desencadeie represálias terroristas por parte do Hizbullah é grande.
Tradução de CLARA ALLAIN
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