Após vitória, presidente turco avalia consulta para expandir seu poder
Três dias após uma importante vitória eleitoral, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, reiterou sua intenção em reformar o sistema político do país e expandir os poderes do Executivo, atualmente limitados. Segundo um porta-voz de Erdogan, o país pode organizar um referendo sobre a questão.
No domingo (1º), o conservador Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco), fundado por Erdogan, venceu as eleições legislativas antecipadas e reconquistou a maioria das cadeiras do Parlamento. O resultado foi surpreendente até mesmo para os líderes da legenda.
Adam Altan/AFP | ||
Erdogan faz discurso no palácio presidencial em Ancara |
Apesar da vitória eleitoral, falta ao AKP 13 cadeiras das 330 necessárias para aprovar reformas constitucionais e mudar o sistema político.
Em seu primeiro grande discurso desde a eleição, Erdogan disse nesta quarta-feira (4), em Ancara, que o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu consultaria líderes da oposição sobre uma reforma da Constituição. Caso as negociações falhem, o governo deve apoiar uma consulta à população sobre a mudança do sistema político, disse o presidente.
Mais cedo, o porta-voz de Erdogan, Ibrahim Kalin, havia anunciado a jornalistas a intenção do governo de organizar um referendo.
"Uma questão como o sistema presidencial não pode ser decidida sem a nação. Se o mecanismo requerer o referendo, então organizaremos um referendo", disse Kalin. "Qual é o melhor modelo para nós? Levando em conta os resultados da eleição de 1º de novembro, isso é algo que será resolvido ao perguntarmos para as pessoas."
AUTORITARISMO
A ideia de expandir os poderes da Presidência turca é defendida há muito tempo pelo AKP. A proposta é rechaçada pela oposição, que acusa Erdogan de autoritarismo e de fazer uso de uma retórica polarizada.
Na terça (3), um tribunal de Istambul, a maior cidade da Turquia, determinou a prisão de dois diretores da revista de oposição "Nokta", que criticaram a vitória do partido de Erdogan chamando-a de "princípio de guerra civil".
A corte os acusou de "tentativa de golpe de Estado" e ordenou que todos os exemplares da revista fossem retirados das bancas.
Na semana anterior ao pleito, a polícia invadiu os canais de televisão do grupo Koza-Ipek, ligado à oposição, e interrompeu suas transmissões. Desde então, segundo a mídia turca, 58 jornalistas do grupo foram presos.
Osman Orsal-1º.nov.2015/Reuters | ||
Pessoas seguram bandeiras e um retrato de Erdogan em frente à sede do Partido AK, em Istambul |
CURDOS
Durante seu discurso em Ancara, Erdogan disse que a Turquia vai continuar seu combate contra insurgentes curdos até que o último militante seja "liquidado" e que não é hora para negociar.
Em julho, o governo e insurgentes curdos no sul da Turquia romperam um cessar-fogo negociado em 2013. Desde então, centenas de pessoas morreram em ofensivas do governo e ataques dos curdos contra as forças de segurança.
Os curdos, minoria étnica concentrada em áreas da Turquia, da Síria, do Iraque e do Irã, são considerados o maior povo apátrida do mundo e buscam estabelecer um Estado nacional na região.
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