No velório de Ruth Cardoso, Lula menciona "laços" entre PT e PSDB
O velório da ex-primeira-dama Ruth Cardoso, ontem, em São Paulo, foi marcado pela aproximação e solidariedade entre petistas e tucanos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado de oito de seus ministros, fez questão de confortar o antecessor no Palácio do Planalto, Fernando Henrique Cardoso: "Leva tempo, leva muito tempo, mas chegará o dia em que irá doer menos", afirmou o presidente a FHC, durante o velório, realizado na Sala São Paulo (região central). "Quem sofre é quem fica, para a morte não há consolo", dizia FHC na cerimônia.
Antes de se casar com a atual primeira-dama, Marisa Letícia, que o acompanhava ontem, Lula perdeu sua primeira mulher, Maria de Lourdes, em 1971.
O ex-presidente (1995-2002) e sociólogo também ressaltava sua extensa relação com a mulher: "Eu conheci a Ruth em 1948. São 60 anos".
A ex-primeira-dama morreu às 20h40 de anteontem, aos 77 anos, na residência do casal, no bairro de Higienópolis (região central de São Paulo). A causa, segundo boletim médico, foi arritmia cardíaca grave decorrente de doença coronariana.
O enterro está marcado para a manhã de hoje, no cemitério da Consolação. O corpo deixará a Sala São Paulo às 10h.
Ao ser abraçado por Lula, que permaneceu na Sala São Paulo cerca de 30 minutos, FHC retirou os óculos para enxugar as lágrimas. Marisa Letícia ficou praticamente o tempo todo ao lado do caixão de Ruth e chegou a chorar em dois momentos.
O governador de São Paulo, José Serra, amigo da ex-primeira-dama, também foi cumprimentado por Lula e esteve o tempo todo ao lado de FHC.
Ao atual presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves, Lula fez o seguinte comentário: "Os laços do PSDB com o PT são tantos que, quando fomos perguntar aos ministros quem gostaria de vir, quase não teve lugar no avião".
O clima amistoso entre tucanos e petistas fez com Lula brincasse com o governador de Minas: "Aécio, você tem que casar para aprender a fazer um laço como este", disse o presidente, referindo-se a um detalhe do vestido de Marisa. "Já tentei, mas não consigo achar uma dona Marisa", respondeu o mineiro.
Ao se despedir, por volta das 18h, Lula disse a FHC: "Tudo o que você precisar de mim, peça, estou à disposição".
Passaram pela Sala São Paulo políticos, intelectuais, empresários e artistas. Entre eles, Jorge Gerdau Johannpeter (grupo Gerdau), Lázaro Brandão (Bradesco), Regina Duarte e Maitê Proença. Todos destacaram a importância da antropóloga na defesa do que chamaram de "camadas desprotegidas da sociedade".
Além de Lula e de seus ministros --Dilma Rousseff, Franklin Martins, José Múcio, Miguel Jorge, Nelson Jobim, Fernando Hadadd, Hélio Costa e Edison Lobão--, outros petistas, como a ex-prefeita Marta Suplicy, compareceram à cerimônia, que, após as 21h, ficou reservada aos familiares.
Passaram ainda pelo velório outros quatro candidatos a prefeito de São Paulo neste ano: Geraldo Alckmin (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM), Paulo Maluf (PP) e Soninha Francine (PPS).
Alvorada
Dois funcionários do Palácio da Alvorada, que trabalharam com o ex-presidente e com Ruth, também foram trazidos a São Paulo pelo casal Lula e Marisa. FHC ficou emocionado ao encontrá-los na cerimônia.
O velório foi aberto ao público ontem por volta das 11h. Segundo a organização do evento, pelo menos 2.000 pessoas estiveram no local. Dois lanceiros da Polícia Militar estavam o tempo todo ao lado do corpo, que foi em parte coberto pela bandeira nacional.
Antes de o corpo deixar o local do velório, o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, comandará uma celebração ecumênica, também reservada somente à família.
A ex-primeira-dama havia sido internada no Hospital Sírio-Libanês na sexta-feira passada, com angina (dores no peito) e chegou a ficar na UTI.
Na segunda-feira, ela foi submetida a um cateterismo no Hospital do Rim, da Universidade Federal de São Paulo.
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