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Falta de recursos e duração reduzida da campanha força candidatos a se reinventarem

Reinaldo Canato/UOL
Candidatos à Prefeitura de São Paulo
Candidatos à Prefeitura de São Paulo

Eles foram cobaias. Os candidatos a prefeito e vereador que se lançaram na corrida municipal deste ano tiveram metade do tempo de seus antecessores para conquistar o eleitorado, foram submetidos a uma dieta forçada de recursos financeiros e fizeram campanha em meio à maior crise política e econômica da história recente do Brasil.

Foram os primeiros a disputar o voto de 144 milhões de eleitores em 5.568 cidades sob as novas regras eleitorais, forjadas pelo Congresso e pela Justiça. Regras que, de início, pareciam favorecer nomes com recall, já conhecidos do eleitorado –projeção que acabou frustrada.

"Esta é a eleição em que está faltando racionalidade", diz Emídio de Souza, presidente do PT em São Paulo, uma das siglas mais desgastadas pela Lava Jato. "É a eleição da vitória da antipolítica, que está levando ao surgimento de salvadores da pátria."

Candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, João Doria –o que é "empresário, e não político"– surfa na onda formada pela combinação da nova legislação com o cansaço do eleitorado. Neófito em eleições, ele lidera a disputa.

Autodeclarado rico, não sofreu tão fortemente os efeitos da proibição de doações de empresas às campanhas eleitorais imposta pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Ele é o principal financiador de sua candidatura: doou a si mesmo quase R$ 3 milhões.

Com a ajuda de seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), reuniu a maior coligação da disputa paulistana, 13 siglas, o que lhe rendeu o maior tempo de propaganda na TV.

TV EM PÍLULAS

Em outra inovação legal, neste ano o horário gratuito foi diferente. Os programas, que antes ocupavam meia hora da programação na hora do almoço e meia hora à noite, foram reduzidos a blocos de dez minutos, nos mesmos horários. O grosso da publicidade foi feito nas chamadas inserções, peças de 30 segundos ou um minuto.

"O peso da propaganda neste ano foi um escândalo", diz o vice-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), aliado de Doria. "Sempre disse que a televisão em 'pílulas' era fulminante", conclui, numa referência às inserções. Doria chegou a exibir 26 comerciais em um dia.

Havia ainda uma promessa de que as campanhas, sem doação empresarial e mais curtas, inclusive na TV, seriam mais baratas.

Mas a vedação à doação empresarial abriu um flanco para outras práticas. A chamada "venda de CPF", em que candidatos a prefeito e a vereador declaram doação de pessoa física cuja renda é incompatível com o valor desembolsado, tornou-se alvo de investigações.

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) identificou 93 mil doadores suspeitos em todo o país, que contribuíram com um total de R$ 300 milhões, a despeito de serem beneficiários do Bolsa Família, desempregados, de baixa renda ou estarem mortos.

"Foi-se, corretamente, a doação empresarial, mas não colocaram nada no lugar. Vamos ter que rever isso. O PT defende o financiamento público", diz Emídio.

"De alguma maneira tem que se enfrentar um fato óbvio: a democracia custa. Quem paga? É o contribuinte? Tem que perguntar se ele está disposto a pagar", avaliou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista à Folha na semana passada. "Não é fingir que não tem custo, nem criminalizar tudo o que é financiamento, que é o que está acontecendo."

A campanha mais curta foi avaliada de forma positiva pela classe política. "Noventa dias é um massacre. O candidato chega ao final morto. E é falso que isso diminuiu o interesse do eleitor. Ele sempre decide na última semana", diz o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

teto

Coordenadores de campanha concordam, mas lembram que, neste ano, a corrida foi entrecortada por: 1) impeachment, 2) Jogos Olímpicos, 3) Paraolímpicos e 4) as diversas ações da Lava Jato.

"Se me perguntar o que deve mudar, eu diria que é o autofinanciamento", diz Maia sobre a legislação atual. "É preciso estabelecer um teto para que os candidatos banquem suas campanhas, ou daqui a pouco os partidos só escolherão candidatos ricos para representá-los."

Há expectativa de que o Senado aprove, após as eleições, duas novas regras, proibindo as coligações proporcionais e retomando a chamada cláusula de barreira, que põe limites a partidos que não elegem um número mínimo de deputados.

Desde já, Maia prevê que a Câmara não chancelará o fim das coligações proporcionais. São elas que permitem que "um Tiririca" eleja uma série de deputados.

"O Senado aprova, mas o impacto é na Câmara. Mudar na Casa dos outros é sempre mais fácil", reconhece.

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