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Jornalista, trabalhou no Agora e no G1. Escreve sobre esporte no UOL.

Descrição de chapéu Copa do Mundo Feminina

Que a paixão vire amor

É essencial que, encerrada a Copa, o futebol feminino não seja esquecido

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Dizem que a paixão e o amor, apesar de parecerem próximos, são sentimentos bastante diferentes. A paixão, segundo os especialistas, seria aquele sentimento arrebatador, turbulento, que domina, perturba a paz e não nos dá brecha para pensar em outra coisa.

Algo semelhante ao que aconteceu durante esta Copa  feminina, que terminou no domingo (7). Começou com o emocionante desembarque da seleção da África do Sul na França, cantando e dançando, e chegou à assídua e numerosa torcida da Holanda, que tingiu as ruas francesas de laranja e fez todo o mundo se apaixonar.

Poderia ter sido só mais um campeonato, mas a Copa-2019 chegou com times afiados e futebol de alto nível. A cada jogo, uma nova descoberta, uma nova craque, uma nova paixão. Se alguém conseguiu resistir aos encantos de Alex Morgan, artilheira do Mundial com 6 gols, desconheço. E quem não se emocionou com o ativismo e o talento de Megan Rapinoe?

Diante de um Brasil racista, Wendie Renard liderou a seleção francesa num jogo veloz e irresistível. E o que dizer do futebol cirúrgico mostrado pela Inglaterra da goleadora Ellen White? E do espírito guerreiro levado a campo pela jovem e finalista seleção da Holanda, com Lieke Martens, eleita melhor do mundo em 2017?
Isso sem falar na seleção brasileira. A alegria de Cristiane balançando as redes adversárias foi paixão imediata. A luta de Marta para, além de mostrar um bom futebol e de se tornar a maior artilheira de todas as Copas, levantar questões importantes para as mulheres, como visibilidade, equidade, valores de patrocínio e salários justos, conquistou o coração de mulheres em todos os cantos. Sem esquecer da garra de Formiga que, aos 41 anos, representou a seleção em sua sétima Copa, um recorde entre homens e mulheres.

A meia-atacante Marta mais uma vez foi um dos destaques da seleção brasileira na Copa do Mundo feminina disputada na França - Jean Paul Pelissier/Reuters

Mas o que o mundo precisa agora é que essa paixão vire amor. Esse sentimento estável, sereno e, o mais importante, duradouro. É essencial que, encerrada a Copa, o futebol feminino não seja esquecido, que suas jogadoras não sejam colocadas de lado.

Até porque já ficou suficientemente claro que, sim, há interesse na modalidade. Há interesse de muitas mulheres, de alguns homens e de um número cada vez maior de crianças, o que torna essa torcida ainda mais preciosa. São meninas e meninos que estão crescendo assistindo a um futebol feminino de qualidade.

Mas é preciso também que as TVs continuem transmitindo os jogos. Que os estádios encham cada vez mais. Que as empresas sigam com suas parcerias e que os clubes enxerguem que esse é um investimento importante a ser feito. 

Que fique claro: apesar de no Brasil muitos atletas conquistarem títulos e medalhas importantes sem nenhum apoio, não é assim que um país se transforma em potência do esporte. E mais: essa ideia de que é preciso antes ganhar para depois ter reconhecimento é um dos conceitos mais cruéis, injustos e reversos já praticados.

Estão aí Europa e EUA para provar isso. Nigéria, China, Japão, Brasil, Camarões e Austrália são exemplos de países que chegaram às oitavas de final da Copa. Mas, para as quartas, foram apenas times europeus e a seleção americana. 

Esses são os países que mais apostam no esporte —alguns deles há décadas. Que incentivam as meninas a jogar desde cedo, que possuem categorias de base estruturadas. São países em que os clubes já veem o futebol feminino como investimento, e não como despesa. Que estimulam a torcida a comparecer aos jogos e que têm estádios cheios durante a temporada tradicional. Locais em que o futebol feminino não é mais uma paixão de Copa do Mundo ou de Olimpíada, mas um grande amor. Que seja assim também aqui no Brasil.

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