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É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Nova York elege um prefeito com várias versões

Uma previsão segura sobre Eric Adams é a de que ele não há de provocar tédio

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No discurso de vitória, o próximo prefeito de Nova York citou versos do rapper canadense Drake: "Começamos do fundo, agora estamos aqui". Como fez na campanha, o democrata Eric Adams destacou a própria biografia humilde —o filho disléxico da faxineira solteira que chegou à universidade, o negro que apanhou de policiais quando jovem e chegou a capitão da polícia de Nova York.

Mas ele poderia ter escolhido os versos de um nova-iorquino ilustre. "Eu me contradigo? Pois muito bem, eu me contradigo. Sou amplo, contenho multidões", escreveu o poeta Walt Whitman, no século 19.

O democrata Eric Adams em cerimônia de comemoração por sua eleição para a Prefeitura de Nova York - Winston Zhou - 3.nov.21/Xinhua

Assim que terminou a comemoração com apoiadores e membros da campanha, Adams rumou para um clube no bairro do Soho e foi brindar com grandes empresários e celebridades, numa festa privada. Aproveitou para, mais uma vez, alfinetar o atual prefeito, Bill de Blasio —que apoiou sua candidatura—, prometendo governar como amigo da elite local, combatendo a burocracia.

A política dessa cidade construída por imigrantes sempre produziu personagens controversos. Mas não é todo dia que emerge uma metamorfose ambulante como Eric Adams. Ele, que já foi filiado ao Partido Republicano, é vegano e adepto da meditação e de banho de banheira com pétalas, apresenta-se como o valentão que não leva desaforo para casa e avisa que pode entrar armado numa igreja.

Adams fez campanha como centrista pragmático, prometendo combater os preocupantes índices de crimes que voltaram a subir, desde o começo da pandemia de Covid-19. Ele tem planos ambiciosos, ainda que não necessariamente detalhados, de promover acesso a creches e a moradia para famílias de baixa renda.

O novo prefeito argumenta que, por ser negro e ex-policial, pode conquistar equilíbrio numa política severa de segurança que não viole direitos humanos, especialmente de negros e latinos.

Depois de se aposentar do departamento de polícia de Nova York, em 2006, Adams se elegeu senador na assembleia estadual e atualmente ocupa o cargo de administrador regional do Brooklyn. Mas o democrata de 61 anos sonha em governar a cidade desde os anos 1990, quando se aproximou de estrategistas políticos.

Além da ambição política, a outra constante na biografia do novo prefeito é a detalhada construção do mito Eric Adams. Nesse ponto, ele é adepto de uma máxima cunhada pelo escritor Mark Twain: "Nunca deixe a verdade atrapalhar uma boa história". Ao longo dos anos, acumulou muito mais histórias do que testemunhas de sua veracidade.

Com uma vida pessoal opaca e intensamente privada, Adams atraiu dúvidas até sobre seu endereço, quando repórteres perceberam que o candidato a prefeito de Nova York morava do outro lado do rio Hudson, em Nova Jersey, onde tem um apartamento com a companheira, Tracey Collins. Sempre performático, Adams levou câmeras de TV para uma casa que possui no Brooklyn, onde os sapatos encontrados pareciam pertencer a seu filho único, Jordan.

No momento, o largo sorriso, marca registrada de Eric Adams, está dominando a interação do candidato vitorioso com a combativa imprensa de Nova York.

Na comemoração da vitória na eleição primária democrata, em junho, a campanha de Adams barrou dois repórteres investigativos que haviam publicado perfis pouco lisonjeiros do político. Qual a versão de Eric Adams que vai prevalecer em janeiro? Uma previsão é segura: ele não há de provocar tédio nos nova-iorquinos.

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