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'Vice' torna Dick Cheney vilão shakespeariano e desanca republicanos

Filme de Adam McKay, que concorre a oito estatuetas no Oscar, estreia nesta quinta (31)

Christian Bale em cena de "Vice", de Adam McKay - Divulgação

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São Paulo

Desde que o diretor Adam McKay se lançou em obras mais dramáticas com “A Grande Aposta”, em 2015,
tornou-se uma versão de Michael Moore na ficção. Isto é, ficou obcecado em desancar a direita americana, valendo-se de certa estridência e, não raro, de algum maniqueísmo. 

Mas McKay achou um filão dentro do coro liberal que é Hollywood: traduzir temas muito áridos em obras envolventes graças a seu estilo ágil, lotado de quebras da quarta parede e de levada sarcástica.

Se em seu filme anterior, o mote eram os intrincados bastidores da crise econômica de 2007-2008 (com direito a Margot Robbie seminua explicando o que são créditos de risco), em “Vice”, ele escolhe como alvo uma figura tão cativante quanto uma declaração de Imposto de Renda: o ex-vice-presidente Dick Cheney.

O político em questão padece do mal de toda grande eminência parda, como foi o seu caso durante o governo de George W. Bush: por atuar na penumbra, seu potencial dramatúrgico é nulo, a priori.

Só que o cineasta viu um componente shakespeariano na relação entre Cheney e sua mulher, Lynne, e tornou-os uma espécie de casal Macbeth de Washington. Na tela, os dois ganham os corpos de Christian Bale e Amy Adams, ambos transfigurados debaixo de maquiagem e enchimento.

Ele é pintado como um caipirão alcoólatra; ela, sagaz desde o início, é quem o impele para o poder, vislumbrando, talvez, que como mulher jamais alçaria voos tão altos. 

À volta deles, os personagens são menos complexos: Donald Rumsfeld (Steve Carell) é o mentor imoral. George W. Bush é o estrupício alavancado ao Salão Oval por conveniência. Colin Powell (Tyler Perry) é o aliado relutante. 

A trupe é retratada como raposas num covil que se aproveitam do rescaldo do 11 de Setembro para planejar a invasão do Iraque e se apropriar dos poços de petróleo dali. De quebra, McKay inclui menções à criação da Fox News, referência ao casamento da emissora com os republicanos que se daria na era Trump.

A sombra do atual mandatário, claro, paira em “Vice”, o que torna o filme um dos títulos mais politizados e urgentes entre os concorrentes ao Oscar. A obra concorre em oito categorias, entre elas a de melhor filme, mas as suas chances de vitória vêm minguando na temporada de premiações.

No último Globo de Ouro, o longa despontou como recordista de indicações, mas levou apenas o prêmio de melhor ator, para Christian Bale. No Oscar, as chances do intérprete britânico, que engordou 18 quilos para viver Cheney, diminuíram após a recente vitória de Rami Malek (“Bohemian Rhapsody”) na cerimônia do Sindicato dos Atores —boa parte dos membros dessa entidade integram a Academia.

Em entrevista ao jornal The New York Times, McKay deu algumas pistas sobre o que o levou a abordar o assunto de que trata em “Vice”. Falou do “desgosto” ao saber que sua mãe votara em Trump e se disse irritado quando ouve alguém dizer que, com o atual presidente, até sente falta do governo de Bush e Cheney.

“Seria o equivalente a ter a casa em chamas e se dizer saudoso da época em que ela estava infestada de abelhas”.

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