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Com o término de algumas das séries dramáticas mais populares dos últimos anos e com intervalos cada vez mais longos entre as temporadas de algumas produções, a lista de indicados ao Emmy anunciada nesta quarta-feira apresenta um cenário inusitado para grandes premiações. Neste ano, os nomes mais fortes estão nas categorias de comédia e minissérie, não em drama, considerada em geral mais nobre.
Isso pode ser reflexo do que críticos apontam como o ocaso da "era de ouro da televisão", quando predominam as fórmulas delimitadas por algoritmos em detrimento da inventividade na indústria.
Sim, há um amornamento da qualidade nesta 76ª edição, e sim, na edição passada a sensação era "mais do mesmo" com tramas —boas e não tão boas— que se arrastavam havia algumas temporadas e recorriam a preceitos consagrados partilhando indicações. Mas essa premissa só é verdade quando se olha apenas para séries dramáticas.
Fora dessa rubrica, há muita coisa boa sendo feita, e mesmo dentro dela o cenário se movimenta, finalmente.
O recorde da vez, por exemplo, coube às 23 indicações para a segunda temporada de "O Urso", algo inédito para uma comédia, embora neste caso a classificação escolhida pelos produtores seja controversa dado o baixo teor de comicidade dentro da cozinha de excelência retratada por Christopher Storer.
Concorrem com a nova recordista outros títulos de fãclube bem mais extenso que seus pares dramáticos —"Abbott Elementary", sobre professores de uma escola pública primária, "Hacks", que trata de uma diva envelhecida e sua relação com uma assistente jovem, e as já consagradas "Only Murders in the Building" e "Segura a Onda", esta ainda surpreendente em sua 12ª e última temporada.
Dois títulos excepcionais, "Bebê Rena" e "True Detective: Terra Noturna", são, na verdade, minisséries —nada na raia do drama neste ano gerou tanto burburinho como a história real de perseguição do comediante Richard Gadd e a ressurreição da antologia criada por Nic Pizzolatto pelas mãos de Issa López, escaramuças entre os dois incluídas.
A segunda coisa notória na lista é que, nos 12 meses considerados, coube aos roteiros dessas categorias preteridas trazer histórias realistas e contemporâneas, enquanto no escaninho dramático reinaram a fantasia e os romances de época ou históricos.
Uma interpretação possível é a de que, em tempos de avalanche de informação, espectadores preferiram tratamentos mais brandos, seja em termos de tempo ou de tom, para temas espinhosos. Assim, enredos tradicionalmente mais longos se voltaram a gêneros escapistas, com exceção apenas para a atual
"The Morning Show" e suas nove indicações de atuação.
Finalmente, chama a atenção que o duopólio HBO-Netflix perdeu força nas categorias mais cobiçadas. Ainda que as duas redes dominem a lista como um todo, a vantagem é mais tímida do que em outros anos —foram 107 indicações para a Netflix e 91 para HBO, com a FX com 93 entre as duas. As plataformas Disney , Apple TV e Prime Video também ganharam peso na lista principal de indicados, o que promete um calendário de exibição mais movimentado.
Nos dramas, a liderança em indicações para "Xógum: A Gloriosa Saga do Japão" fazem da série da Disney sobre a era dos samurais uma favorita. Sinaliza a cristalização entre o gosto do público médio e da crítica de uma lavra globalizada e mais diversa, com histórias menos "americanocêntricas" —ainda que se parta aqui de um romance americano.
Este é provavelmente um dos maiores efeitos da emergência das plataformas de streaming. Enquanto o cinema tem caminhado para uma supremacia dos filmes de heróis e servido essencialmente ao público mais jovem, os canais online se prestam a experimentar com gêneros, pontos de vista e elencos mais diversos, sem precisar se enquadrar em amarras de bilheteria.
É como se uma janela maior tivesse sido aberta. Se os grandes "players" do setor ainda tem os pés plantados no mesmo lugar, os Estados Unidos, seus olhos passaram a enxergar um campo mais largo.
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