Siga a folha

Descrição de chapéu
Maratona Emmy

Comédias brilham em Emmy fora do comum e menos centrado nos EUA

Premiação não emociona, mas reflete mudanças no público e nos produtores apesar dos algoritmos

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Com o término de algumas das séries dramáticas mais populares dos últimos anos e com intervalos cada vez mais longos entre as temporadas de algumas produções, a lista de indicados ao Emmy anunciada nesta quarta-feira apresenta um cenário inusitado para grandes premiações. Neste ano, os nomes mais fortes estão nas categorias de comédia e minissérie, não em drama, considerada em geral mais nobre.

Isso pode ser reflexo do que críticos apontam como o ocaso da "era de ouro da televisão", quando predominam as fórmulas delimitadas por algoritmos em detrimento da inventividade na indústria.

O ator Hiroyuki Sanada como Yoshii Toranaga em 'Xógum: A Gloriosa Saga do Japão', da Star+ - Kurt Iswarienko/Divulgação

Sim, há um amornamento da qualidade nesta 76ª edição, e sim, na edição passada a sensação era "mais do mesmo" com tramas —boas e não tão boas— que se arrastavam havia algumas temporadas e recorriam a preceitos consagrados partilhando indicações. Mas essa premissa só é verdade quando se olha apenas para séries dramáticas.

Fora dessa rubrica, há muita coisa boa sendo feita, e mesmo dentro dela o cenário se movimenta, finalmente.

O recorde da vez, por exemplo, coube às 23 indicações para a segunda temporada de "O Urso", algo inédito para uma comédia, embora neste caso a classificação escolhida pelos produtores seja controversa dado o baixo teor de comicidade dentro da cozinha de excelência retratada por Christopher Storer.

Concorrem com a nova recordista outros títulos de fãclube bem mais extenso que seus pares dramáticos —"Abbott Elementary", sobre professores de uma escola pública primária, "Hacks", que trata de uma diva envelhecida e sua relação com uma assistente jovem, e as já consagradas "Only Murders in the Building" e "Segura a Onda", esta ainda surpreendente em sua 12ª e última temporada.

Dois títulos excepcionais, "Bebê Rena" e "True Detective: Terra Noturna", são, na verdade, minisséries —nada na raia do drama neste ano gerou tanto burburinho como a história real de perseguição do comediante Richard Gadd e a ressurreição da antologia criada por Nic Pizzolatto pelas mãos de Issa López, escaramuças entre os dois incluídas.

A segunda coisa notória na lista é que, nos 12 meses considerados, coube aos roteiros dessas categorias preteridas trazer histórias realistas e contemporâneas, enquanto no escaninho dramático reinaram a fantasia e os romances de época ou históricos.

Uma interpretação possível é a de que, em tempos de avalanche de informação, espectadores preferiram tratamentos mais brandos, seja em termos de tempo ou de tom, para temas espinhosos. Assim, enredos tradicionalmente mais longos se voltaram a gêneros escapistas, com exceção apenas para a atual
"The Morning Show" e suas nove indicações de atuação.

Finalmente, chama a atenção que o duopólio HBO-Netflix perdeu força nas categorias mais cobiçadas. Ainda que as duas redes dominem a lista como um todo, a vantagem é mais tímida do que em outros anos —foram 107 indicações para a Netflix e 91 para HBO, com a FX com 93 entre as duas. As plataformas Disney , Apple TV e Prime Video também ganharam peso na lista principal de indicados, o que promete um calendário de exibição mais movimentado.

Nos dramas, a liderança em indicações para "Xógum: A Gloriosa Saga do Japão" fazem da série da Disney sobre a era dos samurais uma favorita. Sinaliza a cristalização entre o gosto do público médio e da crítica de uma lavra globalizada e mais diversa, com histórias menos "americanocêntricas" —ainda que se parta aqui de um romance americano.

Este é provavelmente um dos maiores efeitos da emergência das plataformas de streaming. Enquanto o cinema tem caminhado para uma supremacia dos filmes de heróis e servido essencialmente ao público mais jovem, os canais online se prestam a experimentar com gêneros, pontos de vista e elencos mais diversos, sem precisar se enquadrar em amarras de bilheteria.

É como se uma janela maior tivesse sido aberta. Se os grandes "players" do setor ainda tem os pés plantados no mesmo lugar, os Estados Unidos, seus olhos passaram a enxergar um campo mais largo.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas