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Indiferença com democracia abre espaço para autoritarismo na América Latina, diz pesquisa

Latinobarómetro divulgou dados de seu levantamento anual nesta quinta, no Chile

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Buenos Aires

Um quarto dos latino-americanos afirma não se importar se vive em uma democracia ou não, desde que suas demandas possam ser atendidas. A cifra foi revelada nesta quinta-feira (7) pela 25ª edição da pesquisa realizada pelo instituto Latinobarómetro sobre o estado da democracia na região.

"Temos aí um caldo perigoso, em que se podem formar governos populistas ou autoritários", disse a socióloga Marta Lagos, diretora da ONG chilena, na apresentação do levantamento, em Santiago.

A sondagem, feita anualmente em 18 países, é a mais importante referência na medição da satisfação dos latino-americanos com a democracia. Esta edição revelou ainda que 13% das pessoas dizem que apoiariam um governo autoritário; que 49% se definem satisfeitos com o regime democrático; e que 70% estão insatisfeitos com a atual gestão de seu país.

Manifestantes a favor do presidente Jair Bolsonaro na avenida Paulista durante o 7 de setembro - Danilo Verpa - 7.set.21/Folhapress

"No começo da pandemia, houve um apoio maior dos cidadãos aos seus governos, mas, com o passar do tempo, vimos um desgaste. Embora o latino-americano tenha culpado seus governantes pelo desgaste econômico durante a crise sanitária, não houve uma queda da preferência pela democracia como forma de governo", disse Lagos.

A pesquisa ouviu mais de 20 mil pessoas na região —em 17 países de modo presencial e na Argentina, devido às restrições de viagem ao país, virtualmente.

Não houve mudança em 2021 em relação aos países que mais apoiam a democracia. Assim como nos últimos anos, quem lidera esse quesito é o Uruguai, com 74% da população. Na sequência, outros dois que o acompanharam no topo da lista, Costa Rica (67%) e Chile (60%), e ainda a Argentina (55%), apesar dos abalos de crises políticas recentes.

No outro extremo vem Honduras, em que apenas uma cifra de 30% dos habitantes afirma valorizar esse sistema. O Brasil, com 40% e a classificação de uma democracia frágil, está na parte de baixo do ranking.

Apesar de a rejeição a um regime militar ser alta na região (média de 62%), ainda assim há espaço para líderes autoritários, populistas ou, na linguagem latino-americana, "caudilhos", segundo o relatório. "É preciso prestar atenção especialmente aos países da América Central, onde a população se mostra mais propensa a aceitar esse tipo de política paternalista que pode levar a um autoritarismo", disse Lagos.

"Os países do chamado Triângulo Norte [El Salvador, Honduras e Guatemala] mostram níveis altos de desencanto com o sistema e a urgência de alguém que surja com soluções rápidas. Nesse território estamos vendo crescer, por exemplo, o autoritarismo de Nayib Bukele [presidente salvadorenho]."

Também nesses países identificou-se uma maior aceitação da perseguição ao jornalismo. À pergunta "em caso de necessidade, considera que o governo deve intervir nos meios de comunicação?", 66% responderam afirmativamente em El Salvador e 49% na Guatemala. O Brasil vem pouco atrás, com 38%.

O estilo de Bukele tem agradado aos salvadorenhos: 66% da população afirma estar satisfeita com o caminho que o país está tomando, e apenas 19% estão insatisfeitos.

Desde que a região deixou de ser totalmente democrática, em 2018, com Nicarágua e Venezuela passando a ser classificadas como ditaduras pelo Latinobarómetro, o apoio à democracia vem caindo. Nos últimos anos, a queda foi mínima, mas continua estável e em um patamar baixo —diferença marcante para as cifras vistas nos anos 1990. "Naquela época, com as democracias ainda muito jovens, o encanto e o apoio era muito maior. Estamos num momento delicado, porém não gravíssimo", afirmou Lagos.

A pesquisa, por fim, emitiu outros sinais aos governos da região. Apenas 22% dos latino-americanos dizem que seus governantes se preocupam com os demais, e só 17% creem que a distribuição de riquezas de seus países é justa.

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