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Guerra na Ucrânia: Sinais de Putin no conflito levantam debate sobre 'stalinização'

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São Paulo

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O presidente russo Vladimir Putin escolheu um estádio lotado que já sediou a final da Copa do Mundo e a data de celebração de uma vitória militar —os oito anos da anexação da Crimeia— para fazer a sua primeira aparição pública desde o início da invasão russa na Ucrânia, que ocorre há 25 dias.

Rodeado por bandeiras da Rússia e de cartazes com frases de apoio, Putin declarou que o país "nunca teve tanta força".

O megaevento, na última sexta (18), encerrou uma semana de discursos com forte tom nacionalista que acenderam um sinal amarelo para um cenário de endurecimento de seu governo —já marcado pelo cerceamento da imprensa e pela repressão de opositores— rumo a uma ditadura de fato.

  • Na quarta (16), Putin declarou na TV que o povo russo "sempre distinguirá os verdadeiros patriotas da escória e dos traidores" e que é preciso "autopurificar" o país;

  • Também acusou o Ocidente de espalhar mentiras sobre a guerra e de aplicar sanções econômicas para "cancelar a Rússia".

A classificação de críticos à guerra como "traidores" foi repetida pelo porta-voz do Kemlin, Dmitri Peskov, na quinta (17). Cerca de 15 mil pessoas foram presas no país por protestarem contra a guerra.

Oficialmente, o Kremlin justifica a invasão do território ucraniano como uma tentativa de impedir o avanço da Otan (aliança militar na qual a Ucrânia pleiteava entrar), o que poderia trazer insegurança para a Rússia. Também alega a necessidade de "desnazificar" a região e de garantir a autonomia de províncias separatistas pró-Rússia.

Mas analistas vêm apontando como motivação central um projeto restaurador de Putin: retomar a influência sobre a região que um dia já foi um grande império e conter a desintegração econômica e simbólica da Rússia intensificada com o fim da União Soviética, em 1991.

"Putin certamente avalia a perda geopolítica da Ucrânia, com a aproximação do país a estruturas modeladas pelos EUA, como a principal derrota de seu projeto nacionalista", analisa o colunista Jaime Spitzcovsky, ex-correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

O conceito

"Quando Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia, sonhava em restaurar a glória do império russo. Mas acabou restaurando o terror de Josef Stálin", descreveu, no último dia 12, artigo da revista The Economist. É um exemplo de como a "stalinização" da Rússia sob Putin virou um termo corrente para falar da centralização do poder e do temor de uma escalada repressiva.

Putin comanda o país há quase 23 anos —alternando-se nos cargos de presidente e de primeiro-ministro desde 1999. Seu tempo no poder só supera os 29 anos do ditador Josef Stálin (que governou de 1924 a 1953, quando morreu).

Para discutir o uso desse conceito, convidamos o colunista Celso Rocha de Barros, cientista político e doutor em sociologia pela Universidade de Oxford.

Como o resgate do passado soviético está presente no discurso de Putin? A URSS entra nesse imaginário como um momento da afirmação nacional russa que vem de muito mais longe. O bolchevismo não teve sempre a mesma relação com o nacionalismo russo. Stálin abraçou com mais força o nacionalismo grão-russo, até porque ele ajudava a mobilizar na guerra ("a grande guerra patriótica", veja só).

quer se apropriar da simbologia soviética porque a URSS foi o auge da influência mundial da Rússia, mas ele sempre faz isso como parte de uma narrativa mais longa de nacionalismo grão-russo.

Putin comanda a Rússia há 23 anos, tempo só superado por Stálin. Que elementos aproximam e distanciam os dois regimes? O regime de Putin é muito diferente do regime de Stálin. O regime de Putin tem algumas semelhanças com o de governos comunistas "liberais" (jamais democráticos) como o do húngaro Janos Kadar, que, depois da invasão de 1956, adotou a atitude "se você não está contra mim, está comigo", ao contrário do "se você não está comigo, está contra mim" do stalinismo.

Putin reprime a oposição, mas, até agora, pelo menos, não instalou um regime de terror em que qualquer um possa ser morto pela suspeita paranoica de que, em algum cenário, se torne opositor. A diferença de brutalidade dos dois regimes é muito grande.

Concorda que exista processo de "reinstalinização" da Rússia por Putin? Não acho certo usar "stalinização" para o regime de Putin, embora entenda que o termo possa ser útil politicamente para a oposição russa (ou para os ucranianos, de longe as maiores vítimas do stalinismo).

É perfeitamente possível identificar semelhanças com outros períodos autoritários da Rússia, ou da URSS, mas o totalitarismo stalinista é um fenômeno muito mais brutal, nascido em uma conjuntura histórica muito específica e, se Deus quiser, limitado a ela.

Não se perca

Os cartazes com a letra Z vistos nas arquibancadas do estádio Luzhniki, onde Putin discursou na sexta, são um dos elementos da guerra simbólica travada no conflito da Ucrânia. Explicamos esse e outros sinais:

  1. Letra Z : Inscrita em tanques e caminhões do lado russo, a letra Z virou um sinal de apoio à invasão da Ucrânia. Sua função primordial na guerra é identificar os veículos para evitar o fogo amigo —já que, por fora, os equipamentos de cada lado são muito semelhantes. Mas a escolha da letra latina gerou diferentes teorias que a associaram até ao sobrenome do presidente ucraniano Volodimir Zelenski. Segundo o Ministério da Defesa russo, o Z significa "Za pobedu" (pela vitória, em português).
  2. Azul e amarelo: Entre os críticos da guerra e defensores da Ucrânia, as cores azul e amarelo da bandeira adotada desde 1992 no país são o maior símbolo de apoio —assim como a paisagem de céu azul sobre um campo de trigo que muitos apontam como sendo seu significado, embora haja outras versões. São também essas cores que identificam os veículos militares ucranianos em combate.
  3. Bandeira soviética: As imagens de um veículo blindado com uma bandeira da URSS entrando no território ucraniano foram divulgadas pelo Ministério da Defesa russo no início do mês. O gesto foi interpretado como uma referência aos anos finais da Segunda Guerra Mundial: a derrota da ocupação nazista pelo Exército Vermelho na mesma região. Putin acusa o governo Zelenski de apoiar grupos nazistas, e a "desnazificação" é um dos objetivos declarados pela Rússia para invadir o país.

O que aconteceu neste domingo (20)


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Imagem do dia

Fiéis levantam a bandeira da Ucrânia na missa dominical na praça São Pedro, no Vaticano; no sábado, papa Francisco visitou crianças feridas na guerra - Vatican Media/AFP

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