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Reino Unido

Por que a direita populista é forte na Europa, mas não no Reino Unido

Seria ingênuo achar que país está imune a fenômeno da ultradireita; partido Reform UK ainda não está pronto

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John Burn-Murdoch
Financial Times

O partido Reunião Nacional (RN) de Marine Le Pen conquistou um recorde de 32% dos votos nas eleições legislativas francesas do último fim de semana, dobrando a parcela que conquistou há dois anos e garantindo 143 assentos no Parlamento. Embora tenha perdido para as coalizões de esquerda e centro, seu lugar como o maior partido único agora no Legislativo é, no entanto, emblemático da contínua ascensão da direita populista em toda a Europa continental.

Por outro lado, apesar de toda a conversa sobre um avanço do partido de ultradireita britânico Reform UK —e de especulações de que a sigla de Nigel Farage poderia ultrapassar os Conservadores—, o Reform acabou com 14% dos votos nas eleições gerais do Reino Unido. Isso foi apenas uma leve melhora em relação aos 13% de seu antecessor, o Ukip, nas eleições gerais de 2015, e com menos segundos lugares nos distritos eleitorais do que o Ukip tinha naquela época.

O líder do partido Reform UK, o parlamentar Nigel Farage, apresenta o programa da sigla para os próximos anos em Londres - Oli Scarff - 5.jul.24/AFP

Evidentemente, os eleitores britânicos permanecem como bastiões de sanidade e moderação contra as forças sombrias que varrem o continente. Ou será que não?

O problema com a narrativa da "ascensão da direita" sempre foi que o sucesso ou fracasso dos partidos da direita radical tem tanto, se não mais, a ver com a oferta de partidos e políticos eficazes quanto com a demanda por eles.

Uma pesquisa recente da FocalData apontou que 37% dos britânicos considerariam apoiar um partido hipotético que acredita que a imigração, os direitos LGBTQIA+ e o ambientalismo foram longe demais e que a cultura do país está sob ataque.

Esta é uma parcela maior do que as pessoas que responderam à mesma pergunta na França, Alemanha, Itália ou na Holanda. Os dois últimos países são atualmente governados por coalizões dos quais os partidos de extrema direita são o componente principal.

Por que esse apetite pelo populismo de direita é atendido em alguns países, mas não em outros?

Um fator é a competição, tanto nos temas caros ao eleitor quanto na profundidade do apego aos partidos existentes. A FocalData descobriu que muitos simpatizantes da direita populista do Reino Unido costumam votar no Partido Trabalhista, seguido pelos conservadores, com o Reform UK em terceiro. Os laços estabelecidos há muito tempo com os partidos principais duradouros são difíceis de quebrar.

Igualmente importante é o que os partidos oferecem além das posições de direita sobre a cultura. Os partidos mais bem-sucedidos desse tipo na Europa, como o Fidesz na Hungria e o conservador nacionalista Lei e Justiça na Polônia, são de esquerda em questões econômicas, enquanto são de direita em questões sociais, posicionando-se claramente no quadrante habitado pela maioria dos eleitores.

Na França, a RN tem seguido uma direção semelhante, assim como o partido PVV de Geert Wilders, que agora faz parte do governo holandês. O partido Irmãos da Itália de Giorgia Meloni não é um defensor dos mercados livres.

As posições libertárias do Reform UK apelam a uma base muito menor. Farage oferece cortes de impostos abrangentes e alívio fiscal para saúde privada e seguro de saúde. Talvez essa plataforma funcione na direita americana, mas tem um público muito limitado no Reino Unido.

Outro fator é o tamanho e alcance da máquina do partido. A RN tem centenas de conselheiros locais eleitos em toda a França há décadas, dando ao partido um histórico local em muitas áreas, bem como os recursos para fazer campanha de forma eficaz em quase qualquer lugar. Por outro lado, o Reform UK tem apenas 15 conselheiros locais: até agora, é mais um culto à personalidade do que um partido sério.

Finalmente, há a questão da representação visível. A proeminência de Le Pen e do presidente da RN, Jordan Bardella, de 28 anos e experiente em mídias sociais, provavelmente desempenha um papel em conquistar tantos votos de pessoas na casa dos vinte anos quanto de sessentões, e entre mulheres e homens.

Por outro lado, o Reform UK, liderado por um elenco mais velho e exclusivamente masculino, até agora teve muito menos sucesso com eleitores mais jovens do que mais velhos, embora haja sinais crescentes de algum sucesso em atrair homens britânicos jovens. Em 4 de julho, nas últimas eleições, o Reform UK ficou em segundo lugar, atrás apenas dos trabalhistas, entre homens de 18 a 24 anos, e foi mais popular com esse grupo do que com homens de 30 anos.

O Reino Unido pode estar contrariando parte do que vimos em outros lugares da Europa, mas os liberais britânicos não devem ser nem arrogantes nem complacentes. O Reform UK tem um teto tão baixo não porque os eleitores no Reino Unido sejam menos nativistas ou reacionários do que seus homólogos continentais, mas porque se distanciou do eleitorado em outras questões-chave, carece de uma máquina partidária séria e não reflete os rostos da Grã-Bretanha moderna.

Dê tempo, e uma equipe de políticos mais eficaz poderá trazer a ascensão da direita radical para terras britânicas.

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