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Café na Prensa - David Lucena
David Lucena
Descrição de chapéu alimentação genética

Pesquisadores brasileiros criam café que já sai do pé descafeinado

Projeto inovador entra em fase final, mas ainda deve levar anos até chegar ao consumidor

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São Paulo

Pesquisadores brasileiros estão desenvolvendo um tipo de café que já sai do pé sem cafeína, no que deve ser o primeiro café descafeinado obtido por melhoramento genético do mundo –ou seja, naturalmente descafeinado.

O projeto começou há mais de duas décadas, quando pesquisadores do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), principal centro de pesquisa e melhoramento genético cafeeiro do Brasil, encontraram germoplasma –estrutura que armazena o material genético de uma espécie– de três plantas de café de origem etíope com menos de 0,10% de cafeína.

Colheita de café especial em fazenda de São Paulo - Eduardo Anizelli/ Folhapress

Segundo resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para que um produto seja considerado descafeinado, o valor máximo permitido de cafeína deve ser de 0,1% –um grão "normal" tem, em geral, entre 1% e 3%.

Ou seja, as plantas localizadas pelos pesquisadores Maria Bernadete Silvarolla e Paulo Mazzafera eram descafeinadas, segundo esse critério. Na ocasião, a descoberta chegou a ser publicada na revista científica Nature.

A partir daí, os pesquisadores começaram a clonar as plantas e a cruzá-las com variedades brasileiras, até chegar a cruzamentos que atendessem a dois requisitos: 1) menos de 0,1% de cafeína e 2) alta produtividade.

Agora, após anos de pesquisa, essas variedades finalmente foram selecionadas e começaram a ser de fato plantadas. Inicia-se, pois, uma das etapas finais do projeto. São os chamados testes regionais, nos quais as sementes são plantadas em diferentes regiões produtoras de café do Brasil.

Esta etapa é necessária para ter uma certeza sobre a viabilidade da planta. "Os dados obtidos até o presente foram animadores, mas, como vieram de um único experimento, há necessidade de submeter os materiais a experimentos em vários locais, para confirmar ou não os primeiros resultados", explica Silvarolla.

Apesar de estar entrando em uma fase final, o resultado ainda deve demorar para chegar aos consumidores. Para que uma muda de café comece a dar frutos, são necessários alguns anos. Além disso, o cafezal só dá frutos uma vez ao ano, e são necessárias algumas colheitas para avaliar os resultados.

O pesquisador Júlio César Mistro, que integra a equipe responsável pelo experimento, estima em mais ou menos oito anos o tempo para a conclusão efetiva do projeto. A partir daí, para que isso seja replicado em larga escala e chegue até a prateleira do supermercado, Mistro diz que serão necessários no mínimo mais quatro anos.

A espera, contudo, pode valer a pena, pois os impactos na indústria devem ser significativos.

Atualmente, o processo de descafeinização é feito utilizando água e solventes químicos, o que leva a um aumento dos custos de produção e uma queda na qualidade da bebida, já que o processo leva embora, além da cafeína, compostos aromáticos do café.

Assim, com a nova variedade naturalmente descafeinada, em tese seria possível obter um café descafeinado mais barato e mais saboroso.

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