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Twitter verifica blogueira bolsonarista investigada por fake news, e usuários protestam

MPF questiona critérios para concessão de selo de autenticidade; rede afirma que discute mudanças

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Fortaleza

Apontada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como disseminadora de fake news, a blogueira bolsonarista Bárbara Destefani, da página "Te Atualizei", ganhou selo de verificação de autenticidade no Twitter. A concessão foi estopim para protestos de usuários, que acusam a rede de apoiar a desinformação e de agir com descaso diante de conteúdos falsos relacionados à pandemia.

Com 730 mil seguidores, Bárbara compartilha em seu perfil posts antivacina e sobre outras pautas alinhadas ao bolsonarismo. Em 2020, ela foi alvo do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal (STF) e viu seu canal no YouTube ser desmonetizado por decisão do TSE.

A YouTuber Bárbara Destefani, de canal bolsonarista, é tietada por apoiadores na chegada à av. Paulista no sete de setembro
A YouTuber Bárbara Destefani, de canal bolsonarista, é tietada por apoiadores na chegada à av. Paulista no sete de setembro - Rogério Pagnan/Folhapress

A ativista se diz vítima de perseguição ideológica. "Nossa sociedade machista tem dificuldades em aceitar o sucesso de mulheres e trabalha para sabotá-las. É o que tenho sentido agora. Perseguição ideológica a uma mulher que querem calar", afirma em entrevista ao jornal O Globo.

Tuiteiros apontam outros perfis com postagens de teor semelhante e que possuem o selo azul do Twitter. Até o ator Théo Becker, mais conhecido por sua turbulenta participação em A Fazenda, da RecordTV, entrou na lista.

O Ministério Público Federal (MPF) pediu à plataforma, nesta quinta-feira (6), explicações acerca de sua política para lidar com postagens inverídicas sobre Covid-19. O órgão também questionou quais critérios são utilizados para verificar perfis da rede.

O Twitter tem dez dias para responder ao ofício da pasta. A rede diz que não comenta sobre processos judiciais ou administrativos, e que se manifestará dentro do prazo legal nos autos do procedimento.

Na hashtag #TwitterApoiaFakeNews, postagens cobram do site uma posição sobre o assunto. "Por que razão as políticas da plataforma são diferentes nos EUA e no Brasil? Por que a ferramenta ‘denúncia de conteúdo falso sobre Covid-19’ já existe em português, mas não funciona em território nacional?", questiona a jornalista Cristina Tardáguila, fundadora da Agência Lupa, que atua na checagem de notícias.

A campanha ganhou apoio de outros profissionais da imprensa, de divulgadores científicos e de acadêmicos ligados à comunicação e à saúde pública.

Há quem aponte motivo para a diferença de abordagem adotada pelo Twitter nos EUA e no Brasil. David Nemer, antropólogo e professor no departamento de Estudos de Mídia na Universidade da Virgínia, diz que a resposta está na Seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações, legislação americana semelhante ao Marco Civil da Internet. Essa lei, que protege as big techs de serem responsabilizadas pelo conteúdo publicado por usuários, tem sofrido ameaças de reformulação.

Para a jornalista Tai Nalon, diretora e cofundadora da agência de checagem Aos Fatos, uma simples varredura poderia filtrar tuítes antivacina que continuam no ar.

"Nossa abordagem à desinformação vai além de manter ou retirar conteúdos e contas do ar. O Twitter tem o desafio de não arbitrar a verdade e dar às pessoas que usam o serviço o poder de expor, contrapor e discutir perspectivas. Isso é servir à conversa pública", disse o Twitter em nota.

Questionado pela Folha, o microblog respondeu que consertou equívocos em alguns aspectos do processo de verificação e que está discutindo internamente como tornar esse e outros fluxos mais efetivos. "Comunicaremos assim que tivermos novidades."

Fake news

Apesar de a versão brasileira não ter a função para denunciar conteúdo falso, algo já em teste noutros países, a rede social diz que emprega "detecção proativa" e que usa uma combinação de heurística de palavras-chave e modelos de aprendizagem de máquina para identificar "formas prejudiciais de informações enganosas relacionadas à pandemia".

A rede diz ainda que sua política para lidar com postagens sobre Covid-19, em vigor desde março de 2020, não prevê a atuação em todo conteúdo inverídico ou questionável sobre a pandemia, mas em tuítes que possam expor as pessoas a mais risco de contrair ou transmitir a doença –posts que negam a eficácia de medidas de proteção, que sugerem tratamentos não aprovados ou que distorcem estudos sobre vacinas.

Na aba Central de Ajuda, o Twitter lista penalidades para contas que se encaixem nessas características. As medidas começam com o uso de uma etiqueta para sinalizar que o tuíte é enganoso e podem chegar à suspensão permanente de um usuário, quando ele comete a partir de cinco transgressões.

Selo azul

A plataforma também afirma que concede o selo de verificação quando confirma que uma conta de interesse público é "autêntica, notável e ativa". A autenticidade é avaliada por meio de documentos, websites e e-mails oficiais.

Para ser notável, o perfil precisa estar associado a uma marca proeminentemente reconhecida ou se encaixar em critérios de popularidade elencados na Central de Ajuda. A atividade, por sua vez, é verificada pela frequência de uso da conta, além de mecanismos de segurança.

Segundo o Twitter, não estão qualificados para receber o selo azul: contas de paródias, feed de notícias, comentários, fã-clubes não oficiais, animais de estimação e personagens fictícios; contas envolvidas em violações graves de política de manipulação de plataforma e spam; contas de indivíduos ou grupos associados a atividade prejudicial coordenada, ou conteúdo de incitação ao ódio.

Foi com base nesses critérios que o usuário O Gato, também citado na lista de perfis bolsonaristas que compartilham fake news, perdeu recentemente o selo de verificação que havia conquistado, já que se trata de um personagem fictício.

Exposição de funcionários

Na tentativa de cobrar explicações da plataforma, tuiteiros começaram a mencionar em suas postagens os nomes de usuário de contas pertencentes a funcionários do Twitter. Foi o que aconteceu com a diretora-geral do microblog no Brasil, Fiamma Zarife.

A tática foi criticada até mesmo por apoiadores da campanha.

"Ninguém no Twitter é responsável, sozinho, por nossas decisões, e é lamentável ver pessoas que trabalham na empresa sofrerem cobranças dirigidas como se respondessem pelas medidas isoladamente", disse nota da rede.

Pagamento milionário do governo

Segundo o site Núcleo, que cobre assuntos relacionados a redes sociais, a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo Bolsonaro ocultou R$ 2,7 milhões em gastos com impulsionamento no Twitter em 2021. O texto, publicado nesta sexta-feira (7), diz ainda que a Secom utilizou agências terceirizadas como intermediárias para promover conteúdo, evitando que os gastos entrassem no Portal da Transparência.

Tuiteiros também trouxeram à tona um print que indica que a rede social recebeu mais de R$ 3,9 milhões do governo federal. No detalhamento, o Portal da Transparência mostra que os recursos são provenientes de pagamentos feitos por unidades que compõem a Presidência da República, os ministérios e as secretarias do governo, mas que já ocorrem pelo menos desde a gestão Temer.

A captura de tela com o valor milionário tem sido usada pelos manifestantes para justificar suposta inação do Twitter diante de perfis alinhados ao pensamento do governo Bolsonaro.

A Folha também questionou o microblog sobre o conteúdo do print. Segundo a rede, valores eventualmente recebidos do governo federal são pagamentos pela prestação dos serviços de publicidade. "A empresa não abre dados segmentados de receita por anunciante ou campanha específica."

Confira abaixo algumas reações à resposta do Twitter sobre críticas à sua política de verificação de usuários e combate às fake ​news:

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