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Governo Lula domina debate, mas precisa melhorar comunicação nas redes sociais, apontam pesquisadores

Equipe do petista teve escorregão no caso da taxação de compras em varejistas asiáticas, mas tem melhor avaliação do que Bolsonaro

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São Paulo

O recente caso da taxação de compras em varejistas asiáticas, como Shein, Shopee e Aliexpress, causou desgaste na estratégia de comunicação do governo Lula (PT) nas redes sociais. A medida era impopular e, após ruído, foi descartada pelo ministério da Fazenda a pedido do presidente Lula.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião ministerial dos 100 dias de governo, no Palácio do Planalto - Gabriela Biló /Folhapress

O assunto ganhou força após a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ter saído em defesa da medida nas redes sociais. Em resposta a um tuíte do portal Choquei, ela disse que "a taxação é para as empresas e não para o consumidor". Influenciadores digitais também foram mobilizados para tentar explicar o tema.

O vaivém do assunto revelou uma estratégia de comunicação desencontrada, avaliam pesquisadores ouvidos pela Folha.

"Eu acho que diferentes autoridades podem e devem falar, mas tudo isso tem que ser pesado de um ponto de vista de comunicação institucional. Neste lugar de fala, o discurso toma outros poderes, outras implicações e precisa estar unificado", diz Raquel Recuero, professora e pesquisadora do Centro de Letras e Comunicação da Universidade Federal de Pelotas e do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O analista de redes sociais Pedro Barciela avalia que a dificuldade de unificar o discurso ocorre devido à formação da Frente Ampla para derrotar Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022.

"O antibolsonarismo tem laços ideológicos mais fracos, e isso tem seus prós e contras. Nesse caso, pensando na capacidade de comunicação do governo, os contras vão ser justamente a dificuldade de encontrar quais serão as pautas que vão ser abraçadas por todos esses perfis que estão no campo anti-Bolsonaro. Nesses quatro primeiros meses, o governo vem tateando, ao menos nas redes, para encontrar a melhor maneira de dialogar com todas essas forças", disse.

Apesar da pluralidade de opiniões em assuntos governamentais nas redes, a maioria dos internautas menciona o governo Lula de forma positiva, de acordo com levantamento da Buzzmonitor feito a pedido da Folha. O petista foi citado em 7,3 milhões publicações nas redes sociais (Instagram, Facebook e Twitter) nos primeiros cem dias de governo. Destas, 59,9% foram menções positivas e 39% negativas.

Os episódios que geraram o maior número de menções foram o dia da posse, a divulgação de gastos no cartão corporativo de Bolsonaro, a minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres, o pedido de revogação de visto de Bolsonaro, o encontro com o vocalista do Coldplay, Chris Martin, e entrevista à CNN sobre ação da PF que identificou plano do PCC para assassinar Moro.

No mesmo período, o ex-presidente Bolsonaro registrou 3,9 milhões de menções. Destas, 36,2% foram positivas e 56,2% negativas. Lula conseguiu se manter no centro do debate público inclusive durante o retorno de Jair Bolsonaro ao Brasil, em 30 de março. No mesmo dia, o ministro da Fazenda Fernando Haddad anunciou o novo arcabouço fiscal.

De acordo com levantamento feito pela Quaest, com a divulgação do arcabouço fiscal, o governo obteve 10 mil menções a mais do que a volta de Bolsonaro, que alcançou aproximadamente 483 mil citações.

O IPD (Índice de Popularidade Digital), calculado diariamente pela empresa de pesquisa e consultoria Quaest, indica que a popularidade digital de Jair Bolsonaro segue em queda após seu retorno ao Brasil, o que mostra sua dificuldade em se manter em evidência na oposição.

Ele e o presidente Lula têm uma diferença de 17 pontos no índice, que vai de 0 a 100. O petista marcou 57 pontos no IPD, e o ex-presidente, 40.

O presidente Lula teve uma queda na popularidade digital após falas sobre o ataque planejado pelo PCC contra o ex-juiz Sergio Moro, mas recuperou parte de sua popularidade na internet em meio à comemoração do marco de cem dias do governo.

No Twitter, durante os primeiros cem dias do governo Lula, temas como direitos humanos, saúde e combate à fome foram destacados. Segundo análise feita pela Folha, 42% das publicações feitas pelo perfil do presidente no Twitter desde a posse tratam desse grupo temático, principalmente por publicar a íntegra de discursos.

O viés mais institucionalizado de uso das redes sociais de Lula, diferente das redes de Bolsonaro que volta e meia levantaram discussões sobre o decoro parlamentar, foi destacado pelos pesquisadores.

"O governo Bolsonaro primava muito por essa coisa mais informal, uma estratégia ‘eu liguei a minha câmera aqui e estou falando com vocês’, um ar caseiro. Já o governo Lula tem um aspecto muito mais profissional nas redes sociais e no tratamento da comunicação", diz Recuero.

A estratégia de discurso alinhado com influenciadores digitais também pode ser uma forma de uso mais profissionalizado das redes sociais e para mobilizar perfis fora do espectro polarizado, avalia Barciela. "Eu acredito que o governo tem essa percepção de que esses influenciadores são aqueles que de certa maneira mantém esse anti-bolsonarismo vivo. Eles são as portas de diálogo com outros perfis para além do núcleo duro, do que a gente poderia considerar a base governista."

"O uso de influenciadores, de pessoas que são simpáticas ao governo, que tem muitos seguidores, não é exatamente uma estratégia nova. Isso já tinha sido usado por outros candidatos em outros momentos, mas a impressão que eu tenho nesse primeiro momento é que foram mantidas as estratégias de campanha, focando um pouco mais no trabalho com influenciadores", diz Recuero.

Entretanto, as críticas ao governo e a avaliação da medida impopular são vistas como produtivas.

"Toda vez que eu tenho uma voz oficial e essa voz está online vão ter críticas, vão ter pessoas se colocando contra, vão ter pessoas querendo discutir e eu acho que as instituições precisam se preparar para isso, porque a instituição deixa de ser um ente abstrato quando ela está na plataforma e passa a ser alguém com quem eu posso falar e cobrar. Isso é importante porque é democrático e participativo", diz Recuero.

"Como bolsonarismo é o bolsonarismo, a gente cansou de ver balões de ensaios sendo utilizados para ver se o governo ia ou não tomar alguma medida. Aquilo era testado pelas redes sociais e, dependendo de como fosse recebido, a proposta era retirada, acabava a discussão e pronto. O anti-bolsonarismo não pode ter essa fraqueza. Tudo vai ter que ser muito debatido, tudo vai ser questionado e isso é positivo", avalia Barciela.

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