Normalitas

Espanholices, maravilhas do ordinário, brotos de brócolis

Normalitas - Susana Bragatto
Susana Bragatto
Descrição de chapéu LGBTQIA+ machismo

Campanha da ultradireita espanhola lança feminismo e LGBTQIA+ no lixo

Justiça Eleitoral obriga a retirada de cartaz do partido Vox em Madri, poucos dias antes das celebrações do Orgulho LGBT+

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Que o Vox, principal partido de ultradireita espanhol, faz das suas, todos nós já sabemos.

E que os Vox maniac se manifestam reiteradamente contra a imigração, o movimento feminista, o coletivo LGBTQIA+, o independentismo catalão (e qualquer outro que ameace a "unidad española") e qualquer átomo que lhes cheire a "comunismo", também já sabemos.

Mas eles sempre vêm com uma nova.

Vide o cartaz gigantesco em forma de lona pendurado em um edifício comercial na rua de Alcalá, uma das principais e a mais extensa de Madri, no último dia 17 de junho.

A imagem, encabeçada pela frase "Decida o que importa", mostra uma mão jogando no lixo os símbolos de muito do que menciono acima, além de outros como o da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável ou o emblema dos "okupas".

Isso, a poucos dias das comemorações do Orgulho LGBTQIA+, celebrado este ano em todo o país com paradas no fim de semana do 1 de julho.

Nesta última terça-feira (26), a Junta Eleitoral de Madri finalmente ordenou a retirada do cartaz, por considerá-lo propaganda eleitoral irregular.

Notem: o cartaz não caiu porque fosse afrontoso, desrespeitoso, absurdo. A Junta só pôde derrubar o bagúio porque fere o artigo 53 da lei eleitoral espanhola, que proíbe propaganda pré-campanha em qualquer meio que não seja o site oficial do partido ou suas redes sociais.

cartaz em edifício mostra mão lançando a uma lata de lixo bandeiras com símbolos feministas, independentistas e lgbt
Cartaz do partido de ultradireita espanhol Vox em Madri "joga no lixo" movimento feminista, direitos LGBTQIA+ e o independentismo catalão. - Twitter / @vox_es

Na lateral direita do cartaz, figuram, em fundo verde (cor do partido), palavras-chave do discurso de Vox como "família", "fronteiras", "indústria", "segurança". Já à esquerda, em vermelho, aparecem: insegurança, pobreza, abandono, divisão, imposição, invasão...

***

Não é a primeira vez que o partido ganha as manchetes pela agressividade de suas campanhas.

Em maio, uma semana antes das eleições regionais e municipais espanholas, Vox divulgou um cartaz no metrô de Madri reproduzindo um documento de 2021 que mostrava uma lista de pessoas que receberam auxílio-moradia do governo -- todas com nomes árabes como Kamal, Aziz e Samira.

Ao lado, os dizeres: "os madrilenhos destinam 57% de seu salário para o aluguel, que não para de subir... mas são sempre os mesmos que ganham as ajudas. Vote seguro".

A provocação gerou polêmica entre os que a consideraram puramente racista e os que argumentaram que, sim, os espanhóis devem ter prioridade.

Na época, o líder do partido, Santiago Abascal, tascou um "isto não é Marrocos, é Espanha", em referência ao país de onde vem o maior número de imigrantes atualmente residentes no país.

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Este sábado (1 de julho), coincidindo com as celebrações do Orgulho LGBTQIA+ em todo o país, diversos coletivos conclamaram os participantes das marchas a também se manifestarem contra a campanha "de ódio" pregada por Vox.

"Estaremos nos visibilizando, de frente, sem medo, porque conquistamos direitos e vamos defendê-los", declarou Uge Sangil, presidenta da Federação Estatal de Lésbicas, Gays, Trans, Bissexuais, Intersexuais e mais (FELGTBI+).

Com seu discurso, diz, "Vox não apenas ameaça as pessoas LGBTQIA+ como também toda a nossa sociedade e seus valores democráticos".

Em tempo: Abascal (amigo do señor Bolsonaro e, como ele, notório produtor de frases memoráveis) já avisou aos meios de comunicação esta semana, no mesmo dia em que o cartaz de Alcalá foi retirado: não celebra o dia do Orgulho porque é "heterossexual".

Em entrevista à rede de televisão espanhola TVE, afirmou que a data "tem muito menos importância do que alguns políticos e lobbies querem fazer crer".

Também afirmou desconhecer o Convênio de Istambul, referência europeia na luta contra a violência contra mulheres e a violência doméstica, base importante para elaboração de políticas relacionadas em todo o continente -- Espanha incluída.

"Não conheço o convênio de Istambul, mas tampouco me parece relevante. O gênero é um conceito ideológico", disse.

Vox vem ganhando espaço na política espanhola, num reflexo claro da onda conservadora que vivem outros países da Europa.

Nas últimas eleições parciais de maio, preâmbulo para as gerais de 23 de julho, o partido avançou em 10 grandes cidades espanholas -- a metade, em aliança com o Partido Popular (PP), principal partido de centro-direita.

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