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Como Game of Thrones dominou as principais empresas de mídia dos EUA

Interesse gerado por recapitulações da série é fenômeno da imprensa que não deve se repetir, diz autor de reportagem

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São Paulo

Na transição da mídia impressa para a internet, por volta de 2016, Google e Facebook dominaram o jornalismo, controlando a distribuição do conteúdo e os direcionamentos de publicidade. Grandes empresas de mídia, disputando os principais resultados de pesquisa nas plataformas, começaram, então, a produzir materiais para atrair o tráfego online.

Publicações do tipo "a que horas será o Super Bowl?", textos incorporando tuítes virais, e, às vezes, conteúdos nonsenses e apelativos começaram a pipocar. Cada vez que uma publicação descobria uma maneira de direcionar as buscas para suas páginas, todas as demais seguiam o exemplo. Até que chegaram às recapitulações da série "Game of Thrones".

A saga exibida pela HBO nas noites de domingo entre 2011 e 2019 gerava um interesse crescente do público após cada exibição. Se antes os analistas de tráfego online não conseguiam prever o que se tornaria viral, porque o movimento seguia direções aleatórias e caóticas, com a série não era preciso fazer nenhum esforço de suposição.

A imagem mostra os personagens Jon Snow e Daenerys Targaryen, da série  'Game of Thrones', em um cenário de inverno, com uma cachoeira ao fundo. Eles estão se encarando, ambos vestindo roupas pesadas e com detalhes de pele animal. O ambiente é coberto de neve e gelo, criando uma atmosfera fria e dramática
Jon Snow e Daenerys Targaryen, interpretados por Kit Harington e Emilia Clarke na oitava temporada de 'Game of Thrones' - Divulgação

É o que relata Kevin Nguyen em uma longa reportagem no site The Verge, onde é editor. O jornalista editava a revista GQ quando a trama estava no ar e acompanhou de perto o processo. Ele próprio chegou a fazer lives no Facebook, para a GQ, com outros colegas, analisando a guerra dos tronos.

Da Vanity Fair a The New Yorker, do BuzzFeed ao New York Times, passando pelo jornal The Guardian, a revista Time e a rede de rádio pública americana NPR, todos passaram a produzir o mesmo tipo de material, retomando episódios que tinham ido ao ar. A popularidade era tão grande que, segundo o jornalista da The Atlantic na época, Jared Keller, bastava criar o conteúdo que as pessoas iam até ele.

A série baseada nos livros de George R.R. Martin segurou o interesse do público por quase uma década. E este não foi um período qualquer, já que no intervalo várias mídias digitais surgiram e muitas revistas impressas tradicionais perceberam que o fim estava próximo. Alguns veículos desenvolveram áreas especializadas e entregavam análises diferenciadas.

O site Business Insider, focado em negócios e mercado financeiro, mas também com coberturas de cultura e lifestyle, destacou a redatora Kim Renfro para essa função. Com a história de Jon Snow, Daenerys Targaryen e Tyrion Lannister, as visualizações de página eram frequentemente na casa dos milhões. Só para uma temporada, Renfro publicou mais de 150 textos.

Já o jornalista e roteirista, James Hibberd, estima ter escrito mais de mil análises sobre "Thrones" no período em que trabalhou nas revistas The Hollywood Reporter e Entertainment Weekly.

Ao final da série, a redatora do Business Insider e Hibberd publicaram livros sobre a saga, que, apesar de bem avaliados, nem de longe tiveram o mesmo sucesso dos textos a quente na web. O mesmo aconteceu com a cobertura midiática de "A Casa do Dragão", obra sequencial que narra as origens da história, lançada pela HBO em 2022. O interesse dos leitores diminuiu.

O fenômeno de "Game of Thrones" nos veículos jornalísticos, escreve Kevin Nguyen, foi impulsionado por fatores da época em que foi exibido, quando o Facebook gerava muito tráfego online para as publicações e a fragmentação da cultura de massa ainda não era tão grande. Hoje, as plataformas deixaram de distribuir os artigos, o pico das visualizações de páginas passou e a mídia ainda busca se adaptar.

Para Nguyen, é improvável que um fenômeno similar volte a acontecer.

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