O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro

Coerção de Rubiales a Jenni Hermoso envolveu dirigentes, irmão e amiga

Após beijar jogadora espanhola sem consentimento, cartola pressionou-a insistentemente para alterar versão do caso

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Na semana que passou, o Ministério Público da Espanha pediu dois anos e seis meses de prisão para Luis Rubiales, ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF).

Meses atrás, o cartola renunciou ao cargo em decorrência da repercussão causada pelo beijo que deu na boca da meia Jennifer "Jenni" Hermoso, sem consentimento da camisa 10, durante a cerimônia de premiação da Copa do Mundo de 2023.

A Espanha ganhou pela primeira vez o Mundial, disputado na Austrália e na Nova Zelândia, ao superar a Inglaterra na decisão.

Sequência de três imagens mostra Luis Rubiales, então presidente da Real Federação Espanhola, abraçando Jenni Hermoso e depois beijando-a na boca após a conquista da Copa do Mundo pela Espanha
Luis Rubiales, então presidente da Real Federação Espanhola, beija Jenni Hermoso na boca depois da conquista da Copa do Mundo pela Espanha, em agosto de 2023 - Reprodução/Sportv

Ao tratar do assunto, o diário catalão AS esmiuçou o relatório produzido pela Promotoria, e impressiona o número de tentativas feitas por Rubiales e aliados para tentar coagir Jenni a mudar sua versão e declarar que o beijo fora consensual.

A atleta de 33 anos, que joga pelo mexicano Tigres, passou por um período de forte pressão, com assédio constante e ameaças.

Segundo o Ministério Público, após a entrega das medalhas na Copa, Rubiales pediu, por meio da diretora de futebol feminino da RFEF, que Jenni deixasse o vestiário para falar com ele. Nessa conversa, "instou a jogadora a fazer uma declaração pública sobre a aceitação do beijo recebido".

No avião que levava a delegação de volta à Espanha, Rubiales novamente interpelou a meio-campista "para que ela concordasse em fazer uma declaração conjunta durante a escala [no Qatar], afirmando que o beijo havia sido consensual, ao que a jogadora recusou mais uma vez, expressando seu cansaço e desconforto devido à pressão exercida por ele".

A estratégia seguinte do então presidente da RFEF foi recorrer a familiares de Jenni que estavam no voo. O encarregado da tarefa foi o treinador da seleção, Jorge Vilda, que ao longo da preparação para o Mundial teve atritos com várias atletas da Fúria.

O técnico estabeleceu contato com Rafael, irmão de Jenni, de acordo com a Promotoria, com "o propósito único" de que ele "convencesse a irmã a realizar a manifestação pública pretendida" por Rubiales. "Dada a relutância, [Vilda] disse que, se sua irmã não aceitasse gravar um vídeo, haveria consequências negativas, tanto em nível pessoal como profissional".

A comemoração do título da Espanha ocorreu na ilha de Ibiza, badalada estância turística no mar Mediterrâneo. Lá, nova investida. "[Rubén] Rivera, chefe do marketing da RFEF, insistiu, repetida e persistentemente" para que Jenni revisse sua posição. Ela deu nova negativa e pediu que "a deixassem em paz".

Rivera, entretanto, não desistiu do assédio e decidiu envolver uma amiga da jogadora que a acompanhava na viagem. Ele abordou Ana Ecube e solicitou-lhe que convencesse Jenni a conversar com Albert Luque, diretor da seleção que tinha um relacionamento amigável com a camisa 10. Tentativa infrutífera, pois a atleta não quis se encontrar com Luque.

Encarregado da vez de persuadir Jenni a gravar o vídeo desejado por Rubiales, ele insistiu por um app de mensagens, sem êxito. Partiu então para uma oferta de emprego pós-aposentadoria, mediante a imediata mudança de versão.

"Diante da contundente recusa", diz a Promotoria, "Luque enviou mensagens de WhatsApp para a amiga de Jennifer, aludindo ao fato de a jogadora, devido à idade, ter dois anos de carreira e que, se ela ajudasse, certamente poderia obter um cargo na federação".

Ainda de acordo com o relatório, o diretor, antes de fazer a proposta, classificou Jenni, na conversa com Ecube, de "pessoa má", desejando que ela acabasse "muito sozinha na vida".

A jogadora espanhola Jenni Hermoso com a mão esquerda na cabeça em partida do Pachuca, time que defendia, contra o Monterrey no Campeonato Mexicano
A espanhola Jenni Hermoso, quando defendia o Pachuca, em partida contra o Monterrey no Campeonato Mexicano - Daniel Becerril - 23.set.2023/Reuters

Como é sabido, Jenni Hermoso rechaçou todas as tentativas de coerção e abriu processo contra Rubiales.

Devido à participação nas investidas que pressionaram a atleta, Vilda (que deixou o cargo de treinador da Espanha depois da Copa do Mundo), Rivera e Luque também correm risco de serem presos.

A Promotoria pede à Justiça um ano e meio de cadeia para cada um –os três, além de Rubiales, poderão apresentar suas defesas durante a disputa judicial.

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