A crise climática fica a cada minuto mais aguda. Experimentaremos tragédias sem precedentes se não produzirmos consensos que nos tirem dessa rota.
Contudo, o governo vai na contramão de tudo isso: propaga absurdos sobre o ambiente, mudanças climáticas, sustentabilidade e biodiversidade; criminaliza o ativismo, nega cuidado a quem cuida da natureza; é hostil com as comunidades indígenas e cria condições para que milhões de brasileiros imitem esse comportamento; desdenha dos fóruns multilaterais; desmonta as instituições criadas para monitorar o que fazemos com nossas florestas e demite quem honra seu ofício e torna pública a nossa situação cada vez mais dramática.
A lista de posturas atrozes é infinita. Apenas na última semana, Bolsonaro manifestou dúvidas a respeito do assassinato de um líder indígena waiãpi por homens contratados por envolvidos com mineração ilegal e disputam terras protegidas dono Amapá. Dias depois, exonerou o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o engenheiro Ricardo Galvão, após criticar os dados coletados e publicitados pelo instituto que apontam alta do desmatamento nos últimos meses.
Tem mais: esse governo se negou a ser país-sede da Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas, a COP25. O Brasil de Temer tinha aceitado a missão, o Brasil de Bolsonaro desistiu dela. O Chile foi designado às pressas anfitrião da reunião que ocorrerá em dezembro. Além disso, o presidente Bolsonaro vira e mexe esbraveja contra o Acordo de Paris e contra a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, que rege medidas de redução de emissão de gases-estufa a partir de 2020.
No mundo todo, é notável o número crescente de feministas debatendo a crise climática. A reflexão sobre o tema vem ganhando fôlego. Atualmente, a discussão opõe as ecofeministas e as xenofeministas.
As ecofeministas surgiram nos anos 1970, da convergência entre os movimentos ambientalista, feminista e antinuclear. A corrente defende que as mulheres e a natureza têm muitíssimo em comum —são capazes de gerar vida e são maltratadas pelos poderosos.
Em oposição, as xenofeministas rejeitam premissas que atribuem à mulher comportamentos em função da biologia. A corrente que se define como antinaturalista tem ganhado relevância com a publicação do Xenofeminist Manifesto pelo coletivo feminista anônimo Laboria Cuboniks.
Contudo, ainda que desgostem das ecofeministas e da sacralização da fertilidade da mulher e da terra, as xenofeministas concordam que a mulher e o clima devem ser pensados como um binômio, já que os seres vulneráveis sentem mais cedo os efeitos sinistros da crise climática.
Independentemente da corrente, cada vez mais autoras se dedicam a estudar o clima e os direitos das mulheres, dois temas que o presidente Bolsonaro desprestigia.
Mais uma vez, caberá a nós, mulheres, organizar nossa raiva e mostrar os dentes para mais essa crueldade.
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