Ian Bremmer

Fundador e presidente do Eurasia Group, consultoria de risco político dos EUA, e colunista da revista Time.

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Eleição nos EUA pode ser decidida por uma Suprema Corte cada vez mais politizada

Número de americanos que afirma ter 'muita/bastante' confiança na Suprema Corte caiu para 38%, contra 47% em 2000

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O presidente dos EUA, Donald Trump, está no cargo há três anos. Nesse período, ele inverteu as normas políticas no país e no exterior, realinhou as divisões políticas dos EUA de "esquerda x direita" para "nós x eles" e reescreveu as regras sobre a comunicação presidencial, um tuíte de cada vez.

No entanto, a república se mantém, um testemunho da resistência da democracia americana e das instituições que a apoiam. Mas o pior está por vir.

Há algumas coisas que podemos dizer com certeza sobre os próximos 12 meses da política americana. A primeira é que o Senado dos EUA fará um julgamento de impeachment do presidente Donald Trump; a segunda é que Trump será absolvido pela Câmara de maioria republicana.

A verdadeira questão é o que acontecerá depois... e praticamente todos os caminhos levam a uma eleição presidencial apertada em 2020, que quase a metade da população dos EUA considerará ilegítima, independentemente de quem vencer. É por isso que o Eurasia Group escolheu "Manipulada! Quem governa os Estados Unidos" como o maior risco geopolítico do mundo em 2020.

Donald Trump faz pronunciamento sobre mísseis iranianos que atingiram bases americanas no Iraque - Jonathan Ernst/Reuters

Para os democratas e seus apoiadores, a exoneração de Trump pelo Senado será baseada em cálculos políticos, e não em fatos objetivos, e assim qualquer vitória nas eleições pós-impeachment de Trump será manchada por essa falsa absolvição. Igualmente preocupante para eles, um Trump triunfante verá sua exoneração pelo Senado como prova positiva de que as regras tradicionais da política dos EUA não se aplicam a ele, e agirá de acordo.

Isso tornará mais provável que ele peça a interferência de atores externos que, ele acredita, querem vê-lo ganhar a reeleição. Do mesmo modo, tanto a Casa Branca quanto o Senado, controlado pelo Partido Republicano, mostraram um apetite limitado em reforçar as defesas dos EUA contra interferências estrangeiras nas eleições, oferecendo muito material aos críticos.

Se Trump for declarado vencedor nas eleições de novembro, seus adversários políticos ficarão furiosos tanto por sua presença contínua no cargo quanto pelo processo deslegitimado que o terá reeleito.

Mas não há garantia de que Trump vencerá a eleição, mesmo depois que for liberado das acusações de impeachment pendentes —afinal, Trump continua sendo um presidente americano cuja aprovação em todo o país nunca superou 50%.

E se Trump perder estas eleições em 2020 é altamente possível (alguns diriam provável) que ele se vire e acuse as mesmas forças estrangeiras das quais seus críticos estão reclamando como razões para sua derrota. Também está longe de certo que ele realmente admita sua derrota na eleição, manchando ainda mais a legitimidade do processo eleitoral dos EUA.

Tudo isso significa que há uma chance significativa de que a próxima eleição presidencial dos EUA precise ser decidida pela Suprema Corte cada vez mais politizada do país, e num momento em que o número de americanos que afirma ter "muita/bastante" confiança na Suprema Corte caiu para 38%, contra 47% em 2000.

E diferentemente de 2000 —a última vez que a Suprema Corte teve que decidir uma eleição presidencial— há muito menos chances de que o lado perdedor o admita graciosamente, pelo bem da democracia americana, especialmente depois de passar meses em campanha afirmando que seus oponentes representam uma ameaça existencial ao sistema político dos EUA.

Não estamos afirmando que 2020 é o ano em que a democracia americana vai arder em chamas. Não vai; os EUA passaram séculos construindo seu caráter democrático, e as instituições que o país estabeleceu para proteger esse caráter democrático permanecem resistentes.

Mas, com exceção de uma vitória presidencial esmagadora (do tipo que o país não vê há gerações) e dado que o provável ciclo de impeachment/eleições/corrida aos tribunais ganhará destaque, está se tornando impossível que as eleições de 2020 sejam vistas como qualquer coisa, a não ser manipuladas, por uma parcela substancial da população dos EUA.

E, por pior que isso seja para os americanos, também é preocupante para o resto do mundo, pois o caos doméstico dos EUA se espalhará para o âmbito internacional. Aliados nervosos estarão olhando para o presidente mais fraco dos EUA desde que Richard Nixon se envolveu no Watergate; se você pensou que os aliados estavam temerosos de vincular seus destinos aos EUA, espere até o próximo ano.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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