Igor Patrick

Jornalista, mestre em Estudos da China pela Academia Yenching (Universidade de Pequim) e em Assuntos Globais pela Universidade Tsinghua

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Descrição de chapéu China

Duas Sessões serão rara chance de entender para onde a China caminhará

No cardápio deste ano, ideias para a retomada econômica pós-Covid, além da cada vez mais conflituosa questão taiwanesa

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Quem acompanha a política chinesa sabe que, por lá, o circo a que estamos acostumados no Ocidente é menos aparente. Grande parte das decisões acontece a portas fechadas, e pouco é vazado à imprensa.

Não são, portanto, apenas os analistas internacionais a penar para entender o que está acontecendo; também os chineses tentam encontrar pistas para além dos enfadonhos discursos em reuniões oficiais.

Onde os principais líderes se sentam no Congresso, a ordem na fila ao entrarem em celebrações oficiais, a roupa e até o tom do cabelo dos políticos são alvo de especulação, com direito a estudos acadêmicos.

Reunião final das Duas Sessões, no Grande Salão do Povo, em Pequim, na China
Reunião final das Duas Sessões, no Grande Salão do Povo, em Pequim, na China - Li Xin - 11.mar.22/Xinhua

Essa tendência se acentuou com a chegada de Xi Jinping à liderança nacional. Dedicado a garantir a longevidade do Partido Comunista e a lealdade dos correligionários, conseguiu a proeza de praticamente eliminar a maioria das facções dentro da legenda e de centralizar as decisões mais cruciais.

No último Congresso Nacional, realizado em outubro, Xi garantiu mais um mandato de cinco anos e se cercou de oficiais fiéis com os quais trabalhou no passado. A luta interna de poder —que vez ou outra deixava vazar o que acontecia na caixa-preta do comando comunista chinês— foi quase toda suprimida.

Restaram aos especuladores os poucos eventos oficiais de grande porte no calendário político. Um deles acontece a partir do próximo dia 4. São as Duas Sessões, reuniões dos membros do Congresso Nacional do Povo (a Câmara Legislativa) e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (órgão sem poder para formular políticas, composto por cidadãos que opinam sobre leis e dão recomendações).

No cardápio deste ano, ideias para a retomada econômica pós-Covid, além da cada vez mais conflituosa questão taiwanesa e da confirmação de Xi e seus asseclas nas principais posições de liderança do país.

Iniciadas as preparações para a ocasião, já é possível notar quais as prioridades no próximo mandato de Xi. A lista com os membros da Conferência Consultiva, por exemplo, deixou de fora magnatas das big techs chinesas, como o fundador do buscador Baidu, Robin Li, e o CEO do gigante de conteúdo online NetEase, William Ding. O setor passou por um rigoroso escrutínio estatal em 2021 e, embora o pior pareça ter ficado para trás, a ausência desses nomes indica que empresas do ramo não encontrarão vida fácil.

Entre os novatos, a relação traz infectologistas que estiveram na linha de frente do combate à Covid no Centro de Controle e Prevenção de Doenças chinês. Talvez seja um merecido reconhecimento aos serviços prestados ao longo da crise, mas é também uma sinalização de que Pequim espera contar com a expertise dos novos membros para melhorar a resposta em situações do tipo no futuro.

Em geral, na abertura das Duas Sessões há o anúncio das metas econômicas para o ano. Há dúvidas se a liderança o fará em 2023, ainda que o estatal Diário do Povo tenha dado indícios de que a recuperação estará no centro da agenda. Considerado a voz do governo, o jornal já destacou a missão dos novos legisladores no Congresso —empregos, promoção do consumo interno e aumento na produção de grãos.

Há que se atentar, ainda, para os nomes de quem ocupará cargos ministeriais e a liderança em órgãos políticos. Embora o partido tenha feito essas indicações durante o Congresso do ano passado, tecnicamente são os legisladores os responsáveis por confirmar as nomeações.

Na coreografada dança da burocracia chinesa, quase não há dissidência, e é muito improvável qualquer mudança na lista do Comitê Permanente do Politburo escolhido por Xi em 2022, mas a relação oficial será um bom indicador do tom a ser adotado por Pequim nos próximos cinco anos.

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