José Henrique Mariante

Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

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Descrição de chapéu jornalismo mídia

Diretor de Redação da Folha responde aos leitores

No 103º aniversário do jornal, Sérgio Dávila fala sobre direita, democracia, Lula, Bolsonaro e inteligência artificial

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A Folha completou 103 anos na segunda-feira (19) e vai bem, obrigado, afirma seu diretor de Redação. Em resposta a perguntas enviadas por leitores, Sérgio Dávila refuta a ideia de que a Folha "endireitou" ou que está a serviço do mercado. Diz também que o ano de 2023 foi positivo para o jornal. "Nunca tantas pessoas leram a Folha como nos últimos anos." O ombudsman reúne nesta coluna uma versão ampliada, dividida em tópicos, do conteúdo publicado no impresso.

Opinião

A Folha "endireitou"? O que leva um jornal que por tanto tempo influenciou leitores a pensar e a agir fora dos extremos a caminhar para a ultradireita? (pergunta condensada, vários leitores)

A Folha não endireitou, muito menos caminha para a ultradireita. Assim como víamos com naturalidade quando alguém dizia que a Folha era petista, de extrema esquerda, durante o governo Bolsonaro, agora vemos também com naturalidade quando acusam a Folha de direita, de bolsonarista. A alternância das acusações, reflexo da coloração política do governante de turno, é o melhor testemunho da equidistância do jornal.

Em um governo de esquerda, porque jornalistas são em sua grande maioria de esquerda, das quatro características do Projeto Folha, plural, apartidário, independente e crítico, o último é o de mais difícil execução. Todos querem sempre estar ao lado do vencedor. Vale na política e no jornalismo. Para a Folha, jornalismo sem crítica é um jornalismo sem razão de existir.

Vale lembrar que, mesmo antes de assumir o governo, Jair Bolsonaro elegeu o jornal como seu arqui-inimigo, pregando um "Brasil sem Folha de S.Paulo" em seu discurso de vitória e dizendo que o jornal "por si só" acabaria, em uma de suas primeiras entrevistas eleito. Foi o único presidente a processar o jornal, seus diretores e jornalistas, antes mesmo de assumir.

Por que a Folha só ouve economistas de direita ou vozes do mercado? Por que cobram tanta responsabilidade de Lula quando deixaram Bolsonaro dar o calote nos precatórios e aprovar medidas eleitoreiras? (pergunta condensada, vários leitores)

A Folha procura contemplar um leque amplo de vozes da sociedade em suas reportagens. O mesmo ocorre em seu elenco de colunistas. A impressão dos leitores pode vir da posição expressa pelo jornal em seus editoriais. Ali, sim, a Folha defende a economia de mercado e o receituário liberal, tanto para economia como para liberdades individuais.

Os dois fatos apontados pelos leitores (medidas eleitoreiras e calote dos precatórios) foram amplamente noticiados pelo jornal —ambos mereceram mais de uma manchete da edição impressa, e a Folha foi a única a chamar o calote justamente de calote em seu noticiário—, além de merecer mais de um editorial criticando essas ações.

Para citar frases de apenas três desses editoriais: "PEC que cria emergência é lance desvairado de gastança anticrise e por eleição" ("Vale-tudo", de 2.jul.2022); "Congresso aprova gastos de R$ 41,2 bilhões para tentar turbinar as chances de Jair Bolsonaro" ("A PEC da reeleição", 13.jul.2022); e "Saldo do gasto com derrotas judiciais não pode ser enfrentado com pedaladas" ("Pago quando puder", 3.ago.2021).

Editoriais e manchetes refletem a linha de pensamento de um jornal a serviço da Faria Lima. Por que a Folha sempre defende propostas liberais que não deram certo em governo nenhum no mundo? (pergunta condensada, vários leitores)

Parece inexato dizer que propostas liberais não deram certo em governo nenhum do mundo. Estados Unidos, as maiores economias da Europa e o Japão são exemplos importantes do sucesso dessas políticas. Aproveitando a provocação do leitor, sobre o slogan do jornal, ele mudou agora, provisoriamente, para "Um jornal em defesa da energia limpa", uma das atuais prioridades editoriais da Folha.

Um pregador de madeira segura, precariamente, em um varal uma folha de jornal. O fundo é marrom texturizado.
Carvall/Folhapress

Por que o jornal é sempre tão hostil ao serviço público e aos servidores? Sem estabilidade, que pode ser cuidadosamente vigiada, não se garante honestidade do trabalho. (pergunta do leitor Carlos Brisola Marcondes)

A Folha não é hostil ao serviço público, tanto que é o único dos grandes veículos de imprensa a manter uma editoria dedicada ao assunto, chamada Vida Pública, em parceria com o Instituto República. Nela são contados exemplos de iniciativas do serviço público que estão funcionando ou deram certo.

Ao mesmo tempo, o jornal defende em seus editoriais um Estado mais enxuto e eficiente e um plano de carreira mais definido, o que em última análise beneficia a sociedade e os servidores. É fato também que a estabilidade no emprego público no Brasil parece ser exagerada e deve estar entre as mais abrangentes do mundo. Na opinião da Folha, a regra deveria valer para carreiras típicas de Estado, como a de juiz. Para outras, como administrativos, professores e mesmo médicos, ela pode prejudicar o desempenho.

É público e notório o poder do Congresso sobre o Orçamento. Porém não tenho visto nenhuma crítica contundente aos presidentes das duas Casas (Arthur Lira e Rodrigo Pacheco), como vemos com o governo Lula por "seus gastos". Não lhe parece que a Folha usa pesos e medidas diferentes? (pergunta do leitor Claudio Roberto Marigheto)

Para citar dois exemplos recentes, a Folha publicou os editoriais "Emendas da Desigualdade" e "Farra das Emendas" criticando contundentemente o sequestro de fatia importante do Orçamento por parte do Legislativo. Do mesmo modo, o jornal publica desde o ano retrasado reportagens que revelam os desmandos no uso das verbas do chamado "emendoduto", principalmente na estatal Codevasf, série que foi agraciada pelo Grande Prêmio CNT de Jornalismo em 2023.

Por que a Folha não é plural nas charges como é no rol de colunistas? (pergunta do leitor Badger Vicari)

De fato, falta uma maior diversidade de opiniões no elenco de chargistas do jornal, que poderia usar autores mais críticos ao atual governo federal. O jornal busca ativamente artistas que se encaixem nesse perfil para se agregarem aos nomes atuais.

Política

Após o governo Bolsonaro, houve amadurecimento com relação à defesa da democracia? (pergunta do leitor Cleber Cordeiro da Silva)

A Folha defende o Estado democrático de Direito e as liberdades individuais. O item 4 de seus princípios editoriais, atualizados em 2017, diz que o jornal deve "promover os valores do conhecimento, da solução pacífica dos conflitos, da livre-iniciativa, da equalização de oportunidades, da democracia representativa, dos direitos humanos e da evolução dos costumes".

Ocorre que durante os quatro anos de governo Bolsonaro, pela primeira vez desde a redemocratização, estes valores estiveram sob ataque constante do então presidente e seus asseclas. Foi por isso que o jornal decidiu, no segundo ano daquele mandato, lançar uma campanha pelo fortalecimento da democracia, que incluiu a mudança de seu slogan até que as eleições presidenciais fossem realizadas e um curso gratuito sobre o que foi a ditadura militar brasileira voltado a jovens, entre várias outras iniciativas.

Qual é a política da Folha para melhor gerir ou evitar o uso de manchetes sensacionalistas que possam acirrar discursos de ódio? (pergunta do leitor Antonio Moacir Silveira)

A Folha evita títulos que possam passar uma leitura sensacionalista dos fatos, assim como os enunciados "caça-cliques", infelizmente cada vez mais comuns no meio digital. Eles trazem audiência para quem os publica mas roubam prestígio dos veículos que cedem a essa tentação.

É programa do jornal expor seus leitores ao contraditório, na crença de que a circulação de ideias diversas ajuda a evitar a radicalização das convicções e o discurso de ódio.

Quando o cenário político é catastrófico e complexo, como priorizar corretamente os tipos de pautas e conteúdos veiculados? (pergunta da leitora Camily Rocha da Silva)

Eis um desafio com o qual nos deparamos no dia a dia. A notícia negativa, excepcional, fora do comum, tem um apelo jornalístico óbvio —todos os dias 130 mil voos comerciais acontecem sem incidentes no mundo; no entanto, apenas aquela ínfima minoria que apresentar problemas chegará aos sites noticiosos.

Uma maneira de mitigar isso é contar mais histórias positivas, casos de sucesso, eventos de superação —e o mundo e o Brasil estão cheios deles, ainda bem. Foi daí que nasceu a seção "Dias Melhores", em que a Folha busca jogar luz nesse aspecto do noticiário.

A Folha produz, faz meses, conteúdo publicitário para a Prefeitura de São Paulo e muitas vezes, por sinalização falha, não se distingue as reportagens do material produzido pelo Estúdio Folha. A prática não nubla o jornalismo? (pergunta do leitor Thiago Candido da Silva)

Assim como os principais jornais do mundo, como o New York Times, a Folha tem um departamento do chamado "branded content", conteúdo patrocinado. Ele funciona de maneira independente e autônoma da Redação, respondendo ao departamento comercial. A lógica é a mesma dos anúncios convencionais. Além da Prefeitura de São Paulo, são clientes diversos governos estaduais e órgãos do governo federal. A intervenção da Redação é sempre no sentido de tentar deixar cada vez mais claro ao leitor que aquele conteúdo é pago, não jornalístico. A busca pelo aperfeiçoamento dessa diferenciação é constante.

Se a prefeitura fosse ocupada pelo PT ou PSOL a cobertura da violência na cracolândia seria tão branda com o prefeito como está sendo agora com Ricardo Nunes? (pergunta do leitor Antonio Barbanti)

A Folha é certamente o veículo de imprensa que mais frequente e veementemente cobre as mazelas da cracolândia, até por uma questão de localização: a sede da empresa é vizinha das ruas conflagradas. O tom das reportagens é crítico. O problema infelizmente dura décadas e segue sem solução por sucessivas prefeituras de diferentes matizes ideológicos.

Guerra

Por que o genocídio em Gaza não merece destaque diário? Trata-se do maior número de vítimas em conflito armado do século 21. Em que um lado é absolutamente mais poderoso. O que teme a Folha? (pergunta da leitora Dagmar Zibas)

O principal assunto do noticiário internacional coberto pela Folha nos últimos meses tem sido a guerra Israel-Hamas. Desde o ataque do grupo terrorista, não há um dia em que o jornal deixe de publicar conteúdo alusivo ao conflito —reportagens, entrevistas, vídeos, infográficos, análises, textos de opinião, editoriais. Simpatizantes de ambos os lados frequentemente acusam a Folha de estar privilegiando o seu opositor, o que é um sinal de que talvez estejamos no caminho certo.

Por que tanta assimetria nas análises feitas pelos colunistas? A grande maioria totalmente a favor de Israel, e os que tentavam olhar os dois lados o faziam pisando em ovos e passando pano delicadamente… Mesmo quando as visões pró Palestina tiveram espaço, acho que o resultado foi apenas o aumento de uma bipolaridade tóxica. (pergunta do leitor Cassio Chamy Farkuh)

A Folha mantém uma contagem interna com os artigos externos de opinião que podem ser considerados mais identificados com um ou outro lado do conflito. Na última medição, de sexta-feira (23), esse escore era de 15/14/4, respectivamente de textos que podem ser considerados mais simpáticos a Israel, Palestina e neutros. Sobre seus colunistas e blogueiros, eles são livres para se posicionar como quiserem em relação ao conflito, e o resultado tem sido equilibrado, na avaliação do jornal. Por fim, a Folha tem se posicionado também em repetidos editoriais sobre o conflito, por um lado condenando inequivocamente o ataque terrorista que matou e sequestrou jovens, mulheres e crianças, por outro criticando a desproporção da reação do governo de extrema direita de Israel, que levou à mortandade também de mulheres e crianças.

Crise climática

Na opinião do jornalista George Monbiot (The Guardian), os meios de comunicação são os maiores responsáveis pela destruição da vida em nosso planeta. A mídia é o único setor que pode mobilizar a sociedade, com a urgência necessária, para desencadear mudanças abrangentes, forçar os governos a agir e cobrar responsabilidade dos setores destrutivos. Para isso deve tratar a crise climática como ela é: o maior desafio na história da humanidade. O que falta para a Folha acordar? Conflito com interesses dos anunciantes? Medo de parecer alarmista? É disso que precisamos: soar os alarmes. Os cientistas estão fazendo isso há décadas. (pergunta do leitor Rineu Santamaria Filho)

A Folha cobre consistentemente o assunto, por acreditar que diversidade, desigualdade e crise do clima são temas fundamentais para o Brasil. Desde a última segunda-feira (19), data do aniversário de 103 anos do jornal, uma prioridade foi acrescentada dentro do último item: a energia limpa. O jornal lançou uma campanha —algo que só faz em ocasiões especiais, como preconiza seu Manual da Redação (as últimas foram a das Diretas Já, nos anos 80, e a pela Democracia, no segundo ano de Bolsonaro)— em defesa desse tema e montou uma estrutura dedicada a isso.

Além disso, a Folha segue sendo o único dos grandes jornais a manter um correspondente fixo na Amazônia, frequentemente acompanhado de um repórter fotográfico; idem para uma editoria exclusivamente dedicada ao tema, já há algum tempo.

A Folha tem milhares de anunciantes ativos, o que ajuda a garantir a independência editorial do jornal —nenhum deles, de nenhum setor, tem peso suficiente para fazer qualquer tipo de pressão sobre o lado editorial, pressão essa que de resto seria rechaçada de pronto.

Astrologia

Atualmente há uma coluna de astrologia no F5. Em que isso ajuda a sociedade e os leitores do jornal? Um jornal deve ser racional, baseado em fatos e seguir a ciência, não deveria dar espaço para pseudociências e coisas sem comprovação científica. (pergunta do leitor Juliano Marconi Lanigra)

A Bíblia já dizia que nem só de pão vive o homem —o jornal encara sua coluna de astrologia como um possível respiro num noticiário frequentemente muito duro. O mesmo propósito tem a seção de quadrinhos, a de cruzadas e a de sudoku, entre outras.

Jornalismo

Qual é a posição do jornal sobre o uso da inteligência artificial na produção de conteúdo? Há um código de ética do jornal a esse respeito? (pergunta do leitor Nilson Monteiro)

A Folha criou um núcleo de Inteligência Artificial no ano passado voltado a desenvolver e trazer para o jornal programas que ajudem o trabalho jornalístico. Já estão em funcionamento ferramentas como transcrição de áudio e vídeo, tradução de textos estrangeiros, auxílio na criação de títulos, subtítulos, legendas, testes de performance de conteúdos, entre outros.

O objetivo é melhorar o que é oferecido ao leitor, facilitar o trabalho do jornalista, liberando-o para produzir conteúdo original e auxiliando-o nos aspectos mais braçais da atividade. Quanto ao código de ética, há um novo verbete no Manual da Redação, reproduzido em parte abaixo:

"Profissionais da Folha podem utilizar aplicações de inteligência artificial (IA) em seu trabalho. A ferramenta não substitui o julgamento humano nem exime o jornalista de responsabilidade pelo resultado final, mas, se bem empregada, oferece diversas oportunidades para aumentar a eficiência da Redação, desde a concepção de uma pauta até a apresentação final da apuração, passando pela escrita de mensagens para fontes e pela coleta e/ou análise de grandes volumes de dados, entre outras possibilidades. A revisão humana é recomendável em qualquer uma dessas situações e é obrigatória nos conteúdos voltados à publicação, sejam eles parciais ou integrais."

Cada vez mais, os títulos das notícias são usados por muitos leitores para tirar conclusões apressadas sobre todo o conteúdo da matéria (veja o caso da fala do presidente Lula elogiando a estagiária da Volkswagen que ganhou um prêmio na Alemanha). O jornal não deveria se preocupar em ser mais objetivo e evitar tirar declarações do contexto, induzindo uma reação negativa enorme dos leitores? Ou o objetivo é esse mesmo? (pergunta do leitor Wilson Roberto Theodoro)

De todas as tarefas da atividade jornalística —que se dá numa luta inglória contra o relógio, os vieses, as pressões internas e externas—, uma das mais difíceis e importantes é a de dar título. Em poucos caracteres, é preciso resumir com precisão o que vem a seguir. A importância cresce quando se sabe que a maioria dos leitores se informa apenas por título, subtítulo, legenda, destaque e imagem. Como em toda atividade humana, erros são cometidos, e é importante que sejam corrigidos com rapidez e transparência. Não parece ser o caso do título em questão. De fato, o presidente Lula cometeu uma gafe ou não soube se expressar direito.

O que fazer para alterar o perde-perde da imprensa, leitores e faturamento, perdendo qualidade? (pergunta do leitor Vital Romaneli Penha)

Vale discordar educadamente da premissa. Num mundo de bombardeio incessante de notícias verdadeiras e falsas, de conteúdo duvidoso, de adulterações imperceptíveis proporcionadas pela tecnologia, o jornalismo profissional nunca foi tão necessário. A curadoria feita pelas marcas noticiosas de qualidade como a Folha ganha cada vez mais valor por isso.

Nunca tantas pessoas leram a Folha como nos últimos anos. O jornal tem hoje 1,8 milhão de leitores por dia, 25 milhões por mês. A empresa teve um bom ano em 2023, com a circulação digital puxando a alta. São quase 300 jornalistas e outros 150 colunistas e blogueiros produzindo conteúdo de qualidade para seus leitores, e não apenas texto, foto e arte, mas vídeos, infográficos animados, podcasts, newsletters. A experiência que um consumidor de notícias tem hoje é infinitamente mais rica do que se tinha há 10, 20 ou 30 anos.

O Brasil é um país em que se lê pouco. Segundo a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, o brasileiro lê, em média, 4,96 livros por ano, sendo que, dentre esses livros, apenas 2,43 são lidos do início ao fim. Dito isso, qual a melhor estratégia para o jornalismo pensando na realidade brasileira? Como manter informada uma população que lê pouco? (pergunta do leitor Marcelo Gensas Spielmann)

O leitor busca a notícia em momentos de precisão. Foi assim durante a pandemia, em que os sites noticiosos bateram recorde de audiência, e no começo da Guerra da Ucrânia; tem sido assim em períodos eleitorais mais intensos, como os últimos no Brasil. Manter-se relevante é a melhor maneira de atrair as pessoas para o jornalismo profissional. Melhorar cada vez mais a experiência da leitura, com vídeos curtos, podcasts interessantes, infográficos didáticos, são mecanismos que ajudam a informação a chegar a seu destino final, o consumidor de notícias.

Folha

Por que a Folha não é mais transparente sobre a disputa familiar que mudou os rumos do jornal? Não cabe uma reportagem ouvindo, inclusive, a versão da Maria Cristina Frias? (pergunta do leitor Vinicius Galante)

O assunto é da alçada da Justiça empresarial e não impacta o funcionamento da Redação, o jornalismo praticado pela Folha ou seus leitores.

De que modo a visão pessoal e as idiossincrasias do proprietário da Folha interferem no noticiário? (pergunta do leitor Murilo Belezia)

A Folha contemporânea é resultado de uma iniciativa editorial e empresarial da família Frias, na figura de Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), que comprou o jornal em 1962, Otavio Frias Filho (1957-2018), um dos artífices do Projeto Folha, que desde os anos 80 dá sustentação aos princípios editoriais, e Luiz Frias, atual publisher. Nesse sentido, o jornal de hoje reflete o que o trio imaginou então, mas com as atualizações e mudanças de rumo que se fizeram necessárias ao longo dos anos. A Folha é um jornal sem amigos nem inimigos, sem lista de assuntos proibidos ou privilegiados. Se o fato for de interesse público e/ou de interesse do público, ele será reportado pela Folha com independência.

O Grupo Folha pertence ao mesmo proprietário do UOL e também do PagSeguro. Toda vez que há notícias sobre mercado financeiro e também na parte de opinião, por que a Redação não manifesta que há potencial conflito de interesse? (pergunta do leitor Marcelo Frontini)

A Folha procura ser transparente quanto às relações entre as empresas que compõem os dois grupos com os quais tem ligação. As empresas (dos dois lados) possuem acionistas e composição acionárias distintas. A PagSeguro, por exemplo, é uma empresa listada em Bolsa com mais de mil acionistas e tem o Grupo UOL como acionista de referência. Em cima do Grupo UOL existe uma holding na qual o Grupo Folha (que edita a Folha) possui participação minoritária, com ações preferenciais sem direito a voto. Não há, portanto, qualquer influência das outras empresas no material produzido pela Redação da Folha, que tem um comando independente.

Se a Folha era um jornal laico, começa a virar um jornal evangélico, pois tem um colunista que só fala para evangélicos e uma colunista que elenca em seus créditos a religião. O jornal teme não ser aceito pelos evangélicos? (pergunta do leitor Marcos Barbosa)

Os evangélicos são fatia crescente e importante da população brasileira, cerca de 30%, segundo o Censo. Um jornal de interesse geral e alcance amplo como a Folha é deveria ter mais nomes que se dedicam ao tema. Dos cerca de 150 colunistas e blogueiros, há apenas 1.

Reforma visual à vista? O jornal vai virar tabloide? (pergunta do leitor André Gustavo Pancione)

A Folha tem a tradição da ruptura. Isso vale para seu projeto gráfico e visual, que é revisitado de tempos em tempos, às vezes para atualizá-lo, às vezes para que seja implantado um novo. O último é de 2018, então está mais do que na hora.

Em 1996, São Paulo tinha 4.500 bancas de jornal. Hoje, são 2.426. Nesse ritmo, vão desaparecer ou se transformar em lojas de conveniência. Existe plano para o jornal se tornar totalmente digital ou de a versão impressa ser enviada apenas a assinantes? (pergunta do leitor Alberto Villas)

No ano de 2000, um conhecido professor de jornalismo da Universidade Columbia, em Nova York, apregoava que o futuro da distribuição de conteúdo noticioso estava no CD-ROM, mídia que as pessoas receberiam toda manhã em casa. Jornalistas (e acadêmicos) deveriam evitar fazer previsões —já é difícil relatar o passado com precisão. Dito isso, hoje mais de 90% dos assinantes pagantes da Folha são digitais e, em 2023, aproximadamente metade da receita do grupo veio do digital.


Editoriais destacados pela Direção de Redação

SOBRE BOLSONARO

Ameaça autocrática, 22.out.2022
"Jair Bolsonaro (PL) valeu-se do cargo para constranger e ameaçar Poderes independentes, insultar autoridades e propagar uma farsa contra o sistema eleitoral diante de brasileiros e estrangeiros. Promoveu tratamentos ineficazes de uma doença letal, retardou a aquisição de vacinas, debochou de famílias enlutadas, protegeu os filhos de investigações e atiçou militares contra o poder civil. Conclamou arruaceiros a cercarem as seções de votação no próximo domingo (30)."

Presidente golpista, 19.jul.2022
"O presidente da República se empenha em destruir as eleições periódicas no Brasil. Como o êxito é improvável, a sua segunda linha de fogo é a de conturbar a vida cívica nacional, o que não dispensa a incitação de arruaças e sublevações."

Ensaio de ditador, 5.ago.2021
"Jair Messias Bolsonaro é um presidente contra a Constituição. Comete desvarios em série na sua fuga rumo à tirania e precisa ser parado pela lei que despreza."

Vacinação já, 12.dez.2020
"Passou de todos os limites a estupidez assassina do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia de coronavírus. É hora de deixar de lado a irresponsabilidade delinquente, de ao menos fingir capacidade e maturidade para liderar a nação de 212 milhões de habitantes num momento dramático da sua trajetória coletiva. Chega de molecagens com a vacina!"

SOBRE LULA

Democracia e economia, 3.jun.2023 
"Lula ensaia promover uma contrarreforma dos avanços renegados pelos ideólogos de seu partido. Assim se dá com o assédio obsessivo à autonomia do Banco Central, que favoreceu uma troca de governo sem maiores solavancos financeiros —em contraste, aliás, com a explosão do dólar e dos juros de 2002, na primeira conquista presidencial do petista."

Mesuras ao ditador, 30.mai.2023 
"De acordo com o mandatário brasileiro, a caracterização da Venezuela como uma ditadura não passa de uma "narrativa", que pode perfeitamente ser substituída por outra. (...) apequena a diplomacia brasileira e relativiza o sofrimento de milhões de cidadãos em um país devastado."

Retomada em risco, 22.dez.2022 
"A imprudência orçamentária, infelizmente, parece fato consumado. A chamada frente ampla, que ajudou Lula a chegar novamente ao poder, deve encarar a realidade: no lugar do esperado Lula 1, Lula 3 começa repetindo os erros de Dilma Rousseff."

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