Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Joe Biden costuma ser tema de piadas, mas dá sinais de que pode rir por último

Tio Joe pode não ser um Roosevelt, mas talvez seja o mais subestimado idoso a trabalhar do Salão Oval

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O presidente Joe Biden é um presente para comediantes. Ele fala usando bordões, apelidados de "bidenismos", que facilitam as imitações nos quadros de humor: "Agora é sério, pessoal", "não estou contando piada", "como meu pai dizia...", "Deus te ame" (quando se refere a alguém com ironia).

A idade e a lentidão visível de quem está perto dos 80 anos e vive em público desde 1972 são exploradas não só por comediantes, mas também de forma cruel pelos republicanos.

Biden irrita a ala progressista do Partido Democrata por sinalizar que vai tentar se reeleger quando tiver 82 anos, em 2024, abrindo um flanco para que um Trump jovem, energético e pornograficamente amoral como o governador da Flórida, Ron DeSantis, faça uma fácil comparação de gerações.

Joe Biden fala em evento na Pensilvânia - Michael M. Santiago - 30.ago.22/Getty Images/AFP

Mas poucos notam que o idoso Joe governa à esquerda do rock star Barack, que todo verão divulga sua playlist supercool, uma espécie de Nações Unidas musical para o Spotify. Ao contrário de Obama, ele não dá as melhores festas na Casa Branca, onde circulavam convidados como Jay Z e Beyoncé.

A imprensa americana passou boa parte desses 18 meses destacando como Biden ia mal nas pesquisas, prevendo o pior cenário nas eleições de meio de mandato de novembro, um pleito que costuma punir o ocupante da Casa Branca.

Mas não lembra que, desde George Bush filho, que foi brevemente aprovado por 88% na esteira do 11 de Setembro, nenhum presidente registra aprovação acima de 75%. Quando Obama estava em lua de mel com os eleitores, no primeiro mês de governo, era aprovado por 68% dos americanos.

Como anda o suposto inferno astral do tio Joe? Bem, na última semana, ele registrou a melhor aprovação em um ano -44%-, não exatamente motivo para abrir champanhe. Mas há outros sinais de que o presidente, que era tratado como um albatroz por candidatos democratas neste ano, está agora com jeito de vento nas costas para eles.

Esta coluna conversou com um veterano membro não eleito do Partido Democrata, que integrou o governo de Bill Clinton e mantém diálogo com a atual safra do partido no poder. Se Biden governa à esquerda, lembra ele, é porque usam o clichê "progressista" para políticas que são apoiadas por uma confortável maioria dos americanos, como regulação de porte de armas, seguro-saúde, combate ao aquecimento climático e políticas industriais.

O então candidato, em 2020, não se fez nenhum favor ao sugerir que tinha ambição de ser um novo Franklin Roosevelt, o monstro sagrado da generosidade em políticas sociais.

Mas, diz o ex-clintonista, nem Clinton nem Obama fizeram tanto quanto Biden nesse primeiro ano e meio. Domou uma dupla crise –Covid e economia-, criou mais empregos do que qualquer antecessor, passou três legislações maciças, aprovou controle de armas de fogo, e o interlocutor continua a detalhar uma lista que não cabe neste espaço, mas afeta americanos e países aliados.

Na terça (30), durante um comício, Biden virou um feitiço republicano contra os feiticeiros trumpistas, que não param de esculhambar o FBI desde as buscas em Mar-a-Lago, e defendeu mais financiamento na segurança pública. Falou direto ao culto MAGA (faça a América grande de novo, na sigla em inglês): "Não venham com o papo de defender policiais se aprovam a violência do 6 de Janeiro".

Tio Joe pode não ser um Roosevelt, mas talvez seja o mais subestimado idoso a trabalhar do Salão Oval. E não estou contando piada.

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