Trump reforça influência nas primárias estaduais nos EUA, mas vê derrotas simbólicas

Ex-presidente viu aliados vencerem no Texas e na Pensilvânia, mas perderem na Geórgia

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Washington

Donald Trump confrontou Brian Kemp duas vezes. Em 2020, ainda como presidente, pressionou o governador republicano da Geórgia a ajudá-lo a fraudar as eleições; não conseguiu. Um ano e meio depois, tentou atrapalhá-lo na disputa pela reeleição estadual; também falhou.

Kemp venceu a primária republicada no estado na terça (24), ao lado de Brad Raffensperger, que busca um novo mandato como secretário de Estado —em 2020, ele recebeu uma ligação de Trump pedindo para "achar" alguns milhares de votos e reverter sua derrota. Ele não o fez, e a conversa chegou à imprensa.

Neste ano, Trump apoiou na seletiva o ex-senador David Perdue, defensor da teoria falsa de que a eleição de 2020 foi roubada. O ex-presidente se engajou na campanha e doou mais de US$ 2 milhões ao aliado, mas os esforços foram em vão.

Donald Trump (à dir.) em comício do pré-candidato republicano ao Senado pela Pensilvânia Mehmet Oz, em Greensburg - Hannah Beier - 6.mai.22/Reuters

O atual governador recebeu o endosso de vários outros republicanos (incluindo Mike Pence, ex-vice de Trump), gastou US$ 5,2 milhões só em anúncios de TV e usou bastante a máquina pública: deu descontos em impostos sobre combustíveis e criou um novo auxílio social na época da votação. Acabou vencendo com 73% dos votos, contra 22% de Perdue.

Ainda que simbólica, a derrota pode ter sido pontual no poder de influência do ex-presidente nas primárias. Segundo levantamento do site Ballotpedia, ele anunciou apoio a 16 candidatos a governador; nos seis estados em que a votação já foi realizada, são três vitórias (Texas, Arkansas e Pensilvânia) e três derrotas (Nebraska, Idaho e Geórgia).

Trump também já viu aliados vencerem 13 disputas pela candidatura ao Senado (em 19 realizadas) e 71 primárias para a Câmara (de 72). Ao todo, ele anunciou ao menos 150 endossos para as duas Casas. Apesar de não ter acesso às principais redes sociais, o ex-presidente tem ido a comícios e divulgado mensagens em canais como o Telegram e a rede Truth Social, que pertence a ele.

Os resultados ajudam a mensurar o poder de Trump sobre o Partido Republicano e em que medida seu apoio atrai ou afasta eleitores, mas ainda é cedo para conclusões definitivas, já que só 12 dos 50 estados tiveram primárias. O processo se estende ao longo de meses até a eleição em si, em novembro. Nas chamadas midterms, parte do Congresso e o comando de 36 estados serão renovados.

Entre tantas disputas, a atenção se concentra nos locais onde os partidos costumam se alternar no poder. São os estados-pêndulo, que costumam decidir o pleito presidencial.

Na Pensilvânia, Doug Mastriano venceu a primária do partido para governador. Ele questiona o resultado de 2020 e organizou caravanas para Washington em 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio para tentar mudar o resultado da eleição à força. Um vídeo mostra Mastriano cruzando uma barreira da polícia, em meio ao tumulto, naquele dia.

Já a primária para o Senado segue indefinida nesta sexta (27), dez dias após a votação. Com 99% apurados, Mehmet Oz, nome de Trump, lidera com 31,2%, só 900 votos à frente de David McCormick. Pelas regras locais, haverá uma recontagem, a ser concluída em 8 de junho. Uma das razões do atraso foi uma série de falhas na impressão das cédulas, o que dificultou a leitura do voto em papel pelas máquinas.

O ex-presidente usou a demora para voltar a criticar o sistema eleitoral americano. Disse que os EUA estão virando uma Venezuela e chegou a estimular Oz a declarar vitória antes do resultado final. Nas postagens, Trump segue com seu estilo de autopromoção. "Dr. Oz parece estar em boa forma na Pensilvânia, mas LEMBREM que eu o apoiei muito tarde. Se eu tivesse o apoiado no começo, teria havido grande diferença!", postou na Truth Social.

No Texas, governado por republicanos desde 1995, o ex-presidente viu 33 indicados seus vencerem, incluindo uma disputa simbólica: Ken Paxton bateu George P. Bush na primária para procurador-geral. O resultado reflete o declínio da dinastia Bush, que fez dois presidentes que depois se tornaram críticos de Trump. (George Prescott, 46, é filho do ex-governador da Flórida Jeb Bush e neto do ex-presidente George H.W. Bush, morto em 2018.)

O foco de Trump nas primárias é voltado também para funções secundárias do Executivo —em vários estados definidas por votação popular. O posto de secretário de Estado local, por exemplo, inclui a atribuição de organizar eleições, já que no país não há um órgão federal que centraliza a apuração e cada governo certifica o resultado de seu estado. Assim, o ex-presidente vê como estratégico ter aliados nessa posição, para o caso de encarar novamente uma eleição apertada e tentar algum tipo de manipulação. Ele pode concorrer de novo nas eleições de 2024.

Já os apoios a candidatos ao Legislativo envolvem a tentativa de enfraquecer a metade final do governo de Joe Biden. As midterms renovarão toda a Câmara e 34% do Senado, e os democratas estão sob risco de perder as maiorias estreitas que têm hoje —são 12 deputados de vantagem na Câmara e o poder de desempate da vice-presidente Kamala Harris no Senado, onde há 50 nomes de cada partido.

No sistema eleitoral dos EUA, há primárias para quase todos os cargos eletivos. Para o Executivo estadual, elas definem os candidatos a governador, vice e procurador-geral. No caso do Legislativo federal, indicam o postulante à vaga de um distrito: cada partido aponta um nome por distrito, e quem vencer vai para o Congresso.

Analistas apontam que Trump tem tido vantagem por apoiar muitos candidatos à reeleição. Na Câmara, das 71 vitórias que soma, 65 são nomes que buscam novo mandato. "Apoiar incumbentes não é boa medida do poder do apoiador, pois historicamente eles vencem 90% das primárias. Dinheiro, nome conhecido e serviços públicos contribuem para dar vantagens eleitorais", analisou Elaine Kamarck, pesquisadora do Instituto Brookings, em artigo recente.

Outro ponto para medir a influência do ex-presidente é como os candidatos se posicionam sobre 2020. Um estudo do Brookings com 493 republicanos que disputaram primárias já realizadas apontou que 74% não mencionam a posição sobre a eleição presidencial, 8% dizem crer que o pleito foi roubado e 15% defendem mais investigações, mas consideram Biden o mandatário legítimo.

A pesquisa aponta ainda que 46% dos candidatos citam ideias do político, mesmo que não tenham recebido seu apoio de modo formal. "Até agora, Trump e o trumpismo estão indo bem, mas há outro Partido Republicano sem Trump que está aí, esquecido", pondera Kamarck.


Apoios de Trump nas primárias para as midterms

Câmara

  • 114 candidatos apoiados
  • 71 vitórias, 1 derrota (43 votações ainda não realizadas)

Senado

  • 36 candidatos apoiados
  • 13 vitórias, 6 derrotas (17 votações ainda não realizadas)

Governos estaduais

  • 16 candidatos apoiados
  • 3 vitórias, 3 derrotas (10 votações ainda não realizadas)

As vitórias em disputas para o governo...

  • Arkansas

Sarah Sanders, ex-secretária de imprensa de Trump

  • Pensilvânia

Doug Mastriano, que diz ter havido fraudes nas eleições de 2020

  • Texas

Greg Abbott, que busca a reeleição


... e as derrotas:

  • Geórgia

Brian Kemp será candidato à reeleição, após derrotar David Perdue

  • Idaho

O governador Brad Little superou Janice McGeachin

  • Nebraska

Jim Pillen bateu o indicado de Trump Charles Herbster

Fontes: Ballotpedia.e The Washington Post

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