Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Candidatos derrotados voltam aos palanques dos EUA com desculpa de eleição roubada

Nomes como George Santos e Doug Mastriano mostram estupidez cristalina ao repetirem farsas

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Como parece distante o ano de 1992, quando o slogan "é a economia, estúpido" transportou Bill Clinton na campanha que matou o sonho de reeleição de George Bush pai.

Hoje, o triunfo almejado pela ultradireita americana —e a que a imita em Pindorama— parece ser apenas a estupidez cristalina. Os EUA caminham para o ano eleitoral de 2024 com um apetite para repetir farsa como farsa. Candidatos grotescos derrotados em 2022 voltam aos palanques, com a desculpa de que qualquer eleição perdida é uma eleição roubada.

Trump e Mastriano falam em comício pré-eleitoral de 2022 - Mike Segar - 5.nov.2022/Reuters

O líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, culpou o desempenho decepcionante de seu partido em novembro passado pela "qualidade dos candidatos", um eufemismo para a variedade de lunáticos, sociopatas e semianalfabetos reunidos sob o guarda-chuva trumpista.

Um garoto propaganda desta manada de desajustados é Doug Mastriano, fragorosamente derrotado candidato ao governo da Pensilvânia, um violento racista que até republicanos qualificaram como desastroso.

No transe do culto a políticos como Mastriano, que marcou sua volta com um comício no último fim de semana, é o establishment republicano que precisa se adaptar aos agentes do caos, não os renegados que devem seguir um consenso partidário.

Neste ambiente de karaokê entoando os refrões do fim da cadeia alimentar, Nikki Haley, a outrora vista como consistente ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora dos EUA na ONU, usou uma das primeiras vitrines como pré-candidata à Presidência para afirmar que "wokeness" —um clichê vazio de propaganda antiesquerda— é mais grave do que qualquer pandemia. Isto no país em que mais de 1 milhão de vidas foram perdidas para a Covid-19.

Há uma diferença entre malvados com intelecto, como Mitch McConnell, que não hesita em promover a liquidação da democracia para se manter no poder, e beócios como Mastriano, que atraem nichos de apoio, mas com poucas chances de se eleger. Eles ganham até quando perdem.

O financiamento de campanha nos EUA é um laranjal para dar inveja a gângsteres profissionais. Entre Super PACs (abreviação de Comitês de Ação Política, em inglês), capazes de atrair doações anônimas prodigiosas de organizações sem fins lucrativos e empresas que não revelam seus doadores, candidatos azarões, sob a raramente cumprida regra de não se comunicar com estes grupos, tornam-se veículos do esquema que equivale a lavagem de dinheiro.

O americano filho de brasileiros e mentiroso serial George Santos é um exemplo típico. Depois de derrotado em 2020, ele entrou na campanha para deputado em 2022 ainda como uma piada entre líderes do partido em Nova York, antes de um redesenho de seu distrito eleitoral que o tornou um candidato competitivo.

Mas atraiu quase US$ 3 milhões em doações, uma quantia surpreendente que serviu para alimentar fornecedores e outras campanhas, num emaranhado altamente suspeito e, pelo ritmo de múltiplas investigações em curso, possivelmente criminoso.

Sem chance de se reeleger em 2024, Santos acaba de registrar documentos para uma possível nova campanha que permita a ele continuar a levantar fundos, um esforço evidente de pagar os custos de se defender na Justiça. Ele imita a patifaria de seu ídolo Donald Trump, que paga um exército de advogados com dinheiro doado por otários.

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