Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Folhajus Partido Republicano

Encruzilhada de política e Justiça marca o possível indiciamento de Trump

História mostra como há indignação seletiva com os poderosos, e promotor responsável por retomar caso não tem força política

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E Donald Trump continua à solta. O ex-presidente inventou que seria indiciado nesta terça (21), convocou arruaças, custou horas extras à polícia de Nova York, mas o painel de jurados que teria recomendado um processo criminal contra ele cancelou a reunião marcada para esta quarta (22), quando se esperava que uma decisão fosse anunciada.

Um dos clichês mais surrados do anedotário da Justiça americana reza que "um grande júri é capaz de indiciar até um sanduíche de presunto".

O promotor público de Manhattan Alvin Bragg sai de carro em Nova York
O promotor público de Manhattan Alvin Bragg sai de carro em Nova York - Andrew Kelly - 22.mar.23/Reuters

A frase foi cunhada por um juiz perturbado pela facilidade com que a Justiça passava a responsabilidade para grandes júris —painéis de juízes populares que não têm poder de julgamento, mas avaliam provas e recomendam a promotores que avancem com um processo criminal.

A preferência de Trump é por gordurosos Big Macs e baldes de galinha à milanesa do Kentucky Fried Chicken. Mas a fumaça da fritura judicial do republicano, que pode se tornar o primeiro ocupante da Casa Branca indiciado na história, penetra narinas em Nova York e Washington.

O caso de Nova York, no qual Trump é acusado de falsificar recibos corporativos de pagamentos para calar a atriz pornô conhecida como Stormy Daniels, é, ironicamente, um dos menos malignos da esbórnia de ilegalidade que marcou sua estadia na Casa Branca.

Sinais intensos de fumaça vieram da capital na noite de terça, quando um juiz decidiu que os promotores da equipe do conselheiro especial Jack Smith têm argumentos para indicar que o ex-presidente cometeu crime ao mentir para seus advogados, levando a declarações falsas sobre os documentos federais que ele levou para Mar-a-Lago, na Flórida. Isto abre o caminho para um dos advogados de Trump testemunhar sem a cobertura do privilégio do segredo do cliente.

Em 2011, o ex-pré-candidato democrata John Edwards foi preso e indiciado por pagar com doações as contas de uma mulher com quem tinha tido uma filha em segredo, na Carolina do Norte. Ele acabou absolvido, graças à simpatia de jurados que acomodaram o impulso do político de esconder sua roupa suja.

Em Nova York, um possível indiciamento de Trump por um crime que não é tão incomum passa pela encruzilhada da política local com a Justiça. Espectadores da série Billions tiveram oportunidade de ver como um poderoso promotor nova-iorquino, vivido por Paul Giamatti, sofre de indignação seletiva com os poderosos.

O caso se destaca por envolver o primeiro negro eleito promotor pela ilha de Manhattan. Alvin Bragg, no cargo havia 15 meses, atravessou sua carreira sem se destacar por notável ambição política. Ele investigou e multou a Fundação Trump, um laranjal privado da família.

Bragg se elegeu numa onda de reação contra os abusos punitivos da Justiça criminal que recaem de forma desproporcional em negros. Mas veio a pandemia, a morte de George Floyd, a explosão de protestos e o aumento da criminalidade. E Bragg se tornou alvo dos republicanos.

Foi criticado por hesitar em levar a investigação de Trump adiante, em seguida criticado por retomá-la. Se ele se tornar o primeiro promotor da história a obrigar um presidente a ir carimbar suas impressões digitais, não vai assumir o papel numa posição de força política.

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