Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Debate sobre gerontocracia marca eleição presidencial nos EUA

Não é etarismo expressar preocupação com presença massiva de líderes idosos na representação política

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Se um par de algemas ou um acaso não excluírem Donald Trump da corrida presidencial, tudo indica que os dois adversários com chances de levar a Casa Branca chegarão à eleição de 2024 somando 159 anos de idade.

Várias pesquisas revelam que, em média, mais de 70% dos americanos consideram Joe Biden, 80, velho demais para disputar a reeleição.

"E Trump, que, com 77 anos, nunca teve rotina de exercícios como Biden e entope suas artérias com Big Macs e baldes de galinha frita?", perguntariam os alarmados com os discursos cada vez mais desconexos do ogro alaranjado nos últimos comícios.

Biden é um homem branco, de 80 anos. Usa terno azul marinho e gravata azul clara
O presidente dos EUA, Joe Biden, durante reunião no estado da Califórnia - Jim Watson - 27.set.23/AFP

Eu responderia argumentando que, fora a hipocrisia que grassa na imprensa política, Trump mantém a mídia hipnotizada com seu estilo bombástico e suas declarações chocantes que servem como objetos brilhantes para distrair a cobertura.

Enquanto o republicano prevê casualmente que o democrata vai levar os EUA a entrar na "Segunda Guerra Mundial" —sim, ele errou a referência— cada tropeço na escada ou deslize verbal de Biden —porque, claro, é ele quem está governando— é examinado sob o microscópio da superficialidade editorial.

Não é etarismo expressar preocupação com a gerontocracia na representação política. E embora o extremismo abraçado pelo Partido Republicano desafie gerações, o Partido Democrata, a agremiação que sobrou como trincheira da democracia, tem um problema real de renovação no Congresso.

A deputada Nancy Pelosi, 83, a mulher mais poderosa da história política americana, poderia ter saído da presidência da Câmara e anunciar uma aposentadoria legislativa coberta de louros. Resolveu se candidatar à reeleição aos 84, no ano que vem.

A senadora Dianne Feinstein, 90, outra democrata pioneira com um currículo notável, insistiu na reeleição, em 2018, e deve encerrar seu mandato, no fim de 2024, usando o Senado, nas palavras de testemunhas, como "um lar de assistência médica para idosos."

É verdade que Mitch McConnell, 81, líder da minoria republicana e um dos mais eficazes orquestradores da crueldade republicana no Congresso, hoje se mostra assustadoramente desorientado em coletivas e poucos esperam que ele mantenha a liderança por muito mais tempo.

O médico e proeminente gerontólogo Jack Rowe, da Universidade Columbia, lembra que tropeçar e esquecer nomes é natural na idade de Biden e nada tem a ver com a capacidade cognitiva.

Há a questão real de percepção na era digital. Franklin Roosevelt, o ídolo de Biden, passou 12 anos na Casa Branca protegido pela imprensa, que não fotografava ou documentava em filme sua incapacidade de caminhar sem ajuda, resultado de poliomielite. Ainda assim, Roosevelt tem pouca concorrência como um dos mais influentes presidentes da história.

Décadas de pesquisa médica sugerem que as pessoas de 30 a 40 anos se assemelham em suas funções físicas e cognitivas. Mas as pessoas de 80 anos são mais diversas, com seu vigor e sua saúde mais determinados por herança genética, classe social, estilo de vida e acesso regular à assistência médica de boa qualidade.

O debate sobre a gerontocracia é legítimo, mas seria outro se a escolha no presente também fosse outra. Na ausência de uma candidatura democrata viável, não há escolha sensata entre Biden e o abismo de Trump, que tem anunciado abertamente a ambição de se tornar o primeiro ditador fascista no Salão Oval.

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