Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Luciana Coelho

'Romanoffs', na Amazon, traz autor de 'Mad Men' de volta a tema da identidade

Coleção de contos independentes amarrados por um tema de fundo não tem heróis ou anti-heróis

O ator Aaron Eckhart e a atriz Marthe Keller passeiam de braços dados, ela segurando um cachorrinho e usando óculos escuros, por rua em Paris
Aaron Eckhart e Marthe Keller no conto 'The Violet Hour' de 'Os Romanoffs' - Amazon/Chris Raphael

Um alívio emocional ante o climão eleitoral, se alguém precisar: estreou na sexta passada (12) na Amazon Video "Os Romanoffs", produção de Matt Weiner que traz aquele cinismo delicado tão presente em sua obra-prima, "Mad Men".

Porque se trata de série antologia, na qual em vez de uma história única há uma coleção de contos independentes amarrados por um tema de fundo, é possível assisti-la de forma pausada, cada um dos oito episódios a seu tempo.

Como em "Mad Men" (2007-15), o tema central é a busca da própria identidade e como essa procura (ou a fuga dela, no caso do anti-herói Don Draper na série sobre a era de ouro da publicidade) afeta gentes e coisas ao nosso redor.

Em "Romanoffs", porém, não há heróis ou anti-heróis, nem tempo para maiores insights dos personagens.

Os protagonistas de cada capítulo são supostos descendentes do último czar russo, Nicolau 2º, assassinado com mulher, filhos e empregados pelos bolcheviques há cem anos, após ser derrubado pela Revolução de 1917.

O desfecho trágico dos Romanov alimentou a mitologia em torno da família, que persiste ainda hoje. E é dessa mitologia, dessa ânsia perene por realeza e da tão contemporânea tentativa de se sentir especial num mar de mais de 7 bilhões, que a série se nutre.

Os Romanoffs de Weiner —os descendentes— são frouxos e carentes, ora ingênuos ora cruéis, mas nunca seguros de seu lugar no mundo.

Os contos são desiguais (dois deles já estão no ar e o terceiro seria disponibilizado no site nesta sexta, 19), mas têm em comum reviravoltas sutis de roteiro e um elenco conhecido e impecável.

Em "The Violet Hour", o astro é Aaron Eckhart, como o hesitante Greg, um sobrinho que espera a tia, Anushka (Marthe Keller, excepcional), morrer para poder herdar seu apartamento em Paris. É Anushka, entretanto, que conduz a história por meio de sua inconstante relação com a cuidadora Hajar (Inès Melab), francesa muçulmana de ascendência magrebina. Os diálogos entre as duas são um retrato contundente da França moderna, ela mesma, enquanto sociedade, em busca de sua identidade.

Em "The Royal We", o Romanoff da vez é Corey Stoll (o eterno Peter Russo de "House of Cards"), na pele de Michael, um sujeito com poucas ocupações e uma crise invisível no casamento que busca se entender, sem sucesso, enquanto parte de um casal.

Em "House of Special Purpose", que vai ao ar nesta sexta e tem Isabelle Huppert no elenco, Christina Hendricks (a Joan de "Mad Men") é uma atriz famosa se digladiando com aparências e realidade.

As mulheres de Weiner, aliás, continuam a aparentar delicadeza ao mesmo passo que conduzem o enredo com força, tão simultaneamente altivas e doces que soam irreais. E, claro, fuma-se sem parar.

São episódios longos, com cerca de 80 minutos, difíceis de apreciar com pressa ou em uma tela de celular. Pede-se entrega, o ritmo é lento como é praxe com Weiner, mas nos conquista pela sutileza em falta. Escape necessário.

“The Romanoffs” está no ar na Amazon Video, com episódios novos às sextas

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.