Roupeiro e massagista do Botafogo numa época sem estatísticas ou VAR, Neném Prancha resumia o futebol a frases de efeito. “Quem se desloca recebe.”
Geraldo Alckmin fez política à moda antiga. Se mexeu. Pescou um espécime raro no poço do PP: alguém fora do radar da Lava Jato. “Vice dos sonhos”, disse o tucano sobre a senadora gaúcha Ana Amélia.
Vice bom é o do tipo samambaia, que enfeita a chapa e não cria problemas. Ruralista, antipetista e ficha limpa, a senadora é uma planta ornamental frondosa. Não atrapalha e ainda é capaz de atrair a curiosidade de um eleitorado hoje na órbita de Jair Bolsonaro.
Numa campanha com concorrentes achatados, neste momento, pelo capitão reformado e pelo fantasma de Lula, o tucano precisava ampliar seu raio de captação de votos.
Mas a transmutação de Ana Amélia de peça decorativa em puxadora de votos é outra história. Não há evidência empírica de que um vice faça diferença numérica numa eleição.
Em 2002, o senador José Serra disputou o Planalto em companhia da então deputada capixaba Rita Camata. Relatora do Estatuto da Criança e do Adolescente, sem nenhuma bola de ferro presa à canela, ela não ajudou o tucano a vencer Lula nem sequer no Espírito Santo. Tarefa difícil na ocasião, é claro.
Mais uma vez candidato, em 2010, o mesmo Serra, ladeado agora pelo deputado carioca Índio da Costa, voltou a perder no Espírito Santo, dessa vez para Dilma Rousseff, com porcentual de votos válidos próximo ao obtido oito anos antes no estado.
Trocando em miúdos: vice não dá voto nem no próprio estado. Mas ajuda a moldar o perfil do presidenciável, dando-lhe mais latitude para se adaptar ao gosto do eleitorado.
Numa campanha sem Dudas e Joões Santana, redes sociais em ebulição, pode ser boa estratégia fazer a política tradicional, com alianças incômodas e vices decorativos. Alckmin se movimentou em campo. Quantos votos receberá? Isso falta combinar com os russos.
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