Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

A realidade sempre se impõe

Temos que escolher se seremos Itália ou Coreia do Sul na administração da crise

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Talvez a maior lição que a gente aprenda com o coronavírus é se importar com o outro. Há duas semanas, antes de a Organização Mundial da Saúde decretar pandemia, antes de o Brasil registrar seus primeiros casos, que agora já são quase 300, disse que tínhamos problemas mais sérios do que o coronavírus e que não estava preocupada com a doença. “Claro, devemos seguir as orientações das autoridades de saúde para que o coronavírus não se espalhe ainda mais. Mas há outras urgências que deveriam, de fato, nos deixar em pânico”, escrevi na ocasião.

Sim, temos uma lista enorme que vai de dengue a deslizamentos de terra, que matam uma quantidade escandalosa de gente no país, sem que fiquemos horrorizados como deveríamos. Mas a realidade sempre se impõe e, apesar de continuar pouco preocupada com a minha própria saúde, parei com a estupidez de olhar para meu umbigo, agarrar-me a estatísticas, e entender que o coronavírus entrou pela nossa porta. Essa é a realidade urgente que temos para o momento. É um problema de todos e será devastador para o país e para o mundo, mesmo que o número de mortos seja considerado aceitável para os padrões de uma pandemia. Como se fosse, de alguma forma, aceitável que pessoas morram.

E quando a gente para de olhar para o nosso próprio umbigo acontece uma mágica maravilhosa.

Entendemos que nossos problemas são muito pequenos, quando não inexistentes, diante da tragédia que muitas pessoas enfrentarão com essa doença. A economia vai parar, empresas podem quebrar, haverá mais desemprego, autônomos podem ficar sem renda alguma, pessoas morrerão. Mas o principal, tudo será muito pior, e pior por mais tempo, se não pararmos nossas vidas agora. O sistema de saúde não dará conta dos doentes, não só acometidos pela coronavírus, mas por todas as enfermidades que já superlotam hospitais e postos de saúde.

Precisamos parar e cada um preservar sua saúde para não colocar em risco a daqueles que não poderão ficar em casa. Profissionais da saúde, da segurança, do setor de alimentação, jornalistas, entre outros, estarão na linha de frente e precisam contar com a cooperação de toda a população. Temos que escolher se seremos Itália ou Coreia do Sul na administração dessa crise. Já temos gente demais que refuta as orientações das autoridades, e nossa autoridade máxima que teima em deixar o país à deriva, na contramão do caminho escolhido pelo mundo que é o de parar. Paremos.

Nós, brasileiros, vivemos em constante contradição. Somos capazes de nos mobilizar diante de grandes tragédias para ajudar o próximo, mas nos comportamos como uma corja repugnante que esvazia prateleiras de supermercados quando nosso derrière fica na reta. Pois bem, amigos, estamos todos com o rabo na reta, dependendo uns dos outros, como talvez nunca antes na história.

Queremos um país diferente desde que não envolva sacrifícios pessoais. Ficar em casa nem deveria ser encarado como tal. Bem como disse o jornalista português Rodrigo Guedes de Carvalho, "aos vossos avós foi-lhes pedido para irem à guerra. A vocês pedem-vos para ficar no sofá. Tenham noção!"

Tenhamos noção. A realidade sempre se impõe. Façamos diferente dessa vez, pensemos no coletivo, nos que mais precisam de ajuda, de dinheiro, de esperança, de solidariedade, de cooperação. Pode ser o começo de uma grande mudança.

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