Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo

Mensagens mostram Cris Arcangeli negociando contrato e explicando criptomoedas a Álvaro Garnero

Empresária diz que não assinou nenhum acordo e que pediu dinheiro de volta, mas nunca recebeu

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A empresária Cristiana Arcangeli, que acusa o ex-companheiro e empresário Álvaro Garnero de estelionato, organização criminosa e lavagem de dinheiro em um esquema de criptomoedas, não só investiu como também chegou a negociar um contrato para entrada dela no mercado das moedas digitais.

A empresária Cristiana Arcangeli durante evento no Jockey Club, em São Paulo - Greg Salibian - 6.mai.2017/Folhapress

Na semana passada, a empresária entrou com uma ação no Tribunal de Justiça de São Paulo afirmando ter sido cooptada por Garnero a investir US$ 300 mil (R$ 1,6 milhão) em criptoativos —e não ter tido retorno nem reembolso.

Ela ainda acusa a empresa de criptoativos Hibridus Club, procurada para administrar o investimento, de praticar um suposto esquema de pirâmide financeira.

Mensagens de texto e de áudio obtidas pela coluna revelam que Arcangeli negociou os termos de sua entrada no negócio com o operador da Hibridus Club, Hélio Caxias Ribeiro Filho. Parte do diálogo se deu em um grupo de WhatsApp intitulado "#Bitcoinlife".

As mensagens indicam, na visão de pessoas ligadas ao caso, que a empresária estava a par de detalhes do investimento, o que enfraqueceria as alegações apresentadas à Justiça. Já a defesa dela diz que Cristiana foi lesada por um esquema criminoso.

O empresário Álvaro Garnero durante no show do cantor Evandro Mesquita, no Café Society, em São Paulo - Mastrangelo Reino - 20.dez.2017/Folhapress

"Helio não recebi o contrato Pode mandar segunda? [sic]", diz Cristiana Arcangeli em uma das mensagens. Ribeiro Filho consente e diz que irá cobrar resposta de um advogado. "Vamos q vamos rumo aos bilhões [sic]", completa ele.

Em uma nova troca de mensagens ocorrida no grupo, Arcangeli repassa o que foi acertado entre as partes. "Combinamos contrato de 12 meses / Ganho em Moeda Bitcoin / pagamento cada 3 meses / 5 Bitcoin por trimestre / perda máxima 4% [sic]."

Um áudio enviado a Garnero e obtido pela coluna também mostra a empresária explicando a ele como funciona o mercado de criptoativos, as possibilidades de investimentos e os riscos da moeda. Segundo a mensagem, o empresário estaria perdendo R$ 7 milhões com as condições do negócio estabelecido.

"Nós, mortais, tem [sic] que comprar esse negócio [criptomoeda] e sentar em cima", diz ela. Em seguida, Arcangeli explica as oscilações da moeda e compara sua dinâmica à modalidade de negociação conhecida como day trade, em que a compra e a venda de ativos ocorrem em um mesmo dia.

"Agora, isso é para quem é do mercado, quem está o dia inteiro sentado na frente da tela do computador. Se a gente for se meter a fazer isso, vai perder dinheiro. Só esses caras sabem fazer isso, até porque eles não fazem outra coisa. Tem que ficar sentado, olhando para a tela do computador 24 horas. E aí ir pegando todas essas oscilações", segue.

A empresária, então, afirma que o negócio é rentável tanto para quem vive das oscilações diárias da criptomoeda quanto para quem faz a aquisição e espera um melhor momento para vender sua parte.

"A moeda está dando muita rentabilidade para quem especula com ela. Agora, também dá dinheiro para quem senta em cima e espera", afirma Cristiana Arcangeli.

"O que a gente está tentando costurar é um jeito de a gente morder um pouquinho nas duas pontas. Porque os 10%, apesar de ser muito, a subida dela tem sido muito maior no final das contas. E ele [operador] está ficando com a rentabilidade dessa subida da moeda, do valor da moeda, sozinho. O que não é muito justo, entendeu? Porque, afinal de contas, o capital de giro investido é teu. Ele, para custódia, está ficando com uma rentabilidade muito alta só para custodiar", acrescenta.

Procurada, a empresária diz, por meio do advogado Pedro Abrão, que as mensagens estão fora de ordem e de contexto. Afirma, ainda, que nunca assinou nenhum acordo ou contrato de investimento, e que pediu de volta o dinheiro que havia sido confiado a Álvaro, seu ex-companheiro.

"As condições apresentadas pelo Hélio não foram aceitas e nenhuma autorização de investimento foi assinada por Cris", diz Arcangeli.

"Era só devolver os 300 mil dólares", afirma Abrão. "Porém, para sua surpresa [de Cristiana], ele nunca mais devolveu, alegando ter dado ao Hélio", segue.

A defesa Arcangeli ainda acusa a empresa Hibridus Club, ligada a Hélio Caxias Ribeiro Filho, de estar associada a outra chamada Meu Pé de Bitcoin. Essa última empresa, por sua vez, seria alvo de denúncias de outros consumidores. A reportagem tenta contato com ambas para obter posicionamento.

De acordo com a empresária, elas teriam feito centenas de vítimas do esquema nos estados de São Paulo, Pernambuco e Paraíba.

A defesa da empresária diz não reconhecer os áudios e trechos de conversas, "que nada mais representam que recortes e transcrições em petições cuja autenticidade jamais ficou comprovada".

"Cristiana não concordou com o modelo de contratação e exigiu imediatamente a devolução dos valores por Álvaro, afinal, Cristiana não assinou qualquer contrato ou documento assentindo —a partir daí começaram os problemas", afirma o advogado Pedro Abrão.

O advogado que representa Garnero, Nelson Wilians, diz que não irá se manifestar. "Todas as provas serão apresentadas apenas em juízo", afirma ele.

Leia, abaixo, a nota enviada pela defesa de Cristiana Arcangeli:

"A empresária Cristiana Arcangeli não reconhece os áudios e trechos de conversas apresentados, que nada mais representam que recortes e transcrições em petições cuja autenticidade jamais ficou comprovada.

Cristiana não concordou com o modelo de contratação e exigiu imediatamente a devolução dos valores por Álvaro, afinal, Cristiana não assinou qualquer contrato ou documento assentindo —a partir daí começaram os problemas.

Importante rememorar que Cristiana não consta na planilha de clientes ora descoberta no computador utilizado por Hélio e Álvaro nunca conseguiu juntar comprovantes de transferência dos recursos para Hélio.

A ligação umbilical de Hélio e Álvaro agora configura-se como uma suspeita de integração de uma mesma organização criminosa no âmbito da Hibridos e da Meu Pé de Bitcoin, que é objeto da notícia-crime apresentada.

A condição de vítima de Álvaro não se sustenta, diante:

(1) dos depoimentos colhidos;
(2) Todas as fotos de reuniões de possíveis vendas e captações com a participação de Hélio e Álvaro;
(3) todos os áudios de conversas entre Álvaro e Hélio em 2019 e 2020;
(4) áudios com Hélio o chamando de sócio e Álvaro sugerindo a criação do "Meu Pé de Bitcoin Bank" e até em algum momento sugerindo mandar supostamente Hélio para Portugal.

As provas coligidas indicam, na verdade, possível sociedade de fato e parceria de Álvaro com Hélio e seus companheiros e uma das pessoas lesadas foi a Cristiana, entre centenas de vítimas de uma operação cujo calote pode chegar a 80 milhões de reais.

Pedro Abrão — Advogado Cristiana Arcangeli"

JOELMIR TAVARES (interino), com LÍGIA MESQUITA, BIANKA VIEIRA e MANOELLA SMITH

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.