Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Foi uma alegria difícil, mas chama-se alegria', diz Maria Fernanda Cândido

A atriz resumiu na frase acima, escrita por Clarice Lispector, a emoção de ter estreado na terça (22), em um teatro em Paris, o primeiro monólogo de sua carreira, em francês, interpretando a escritora brasileira nascida na Ucrânia

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A atriz Maria Fernanda Cândido em retrato feito pelo fotógrafo Jairo Goldflus Jairo Goldflus/Divulgação

"Não é uma peça de teatro, é um ‘recital dramatique’", esclarece a atriz Maria Fernanda Cândido, em uma conversa por Zoom que teve continuações por ligação de WhatsApp com vídeo e mensagens de texto depois de estrear na terça-feira (22), em Paris.

O espetáculo se chama "Clarice, Ballade au-Dessus De L’Abîme" —Clarice, balada por cima do abismo, em tradução livre. "É uma adaptação de contos e trechos autobiográficos, que eu interpreto, acompanhada pela superpianista Sônia Rubinsky", conta.

"Foi maravilhoso ter meu marido e meus dois filhos na plateia. Senti nossa união se potencializando", escreveu Maria Fernanda para a coluna, no dia seguinte à estreia.

A atriz Maria Fernanda Cândido em retrato feito pelo fotógrafo Jairo Goldflus - Jairo Goldflus/Divulgação

A entrevista mesmo aconteceu durante a abertura da Copa do Mundo, no domingo (20), e se estendeu até bem depois do final da cerimônia no Qatar. Foi o único jeito de conseguir um tempo na agenda concorrida da atriz paranaense, que acumula obrigações profissionais e familiares na capital francesa.

Casada com o empresário francês Petrit Spahira há 17 anos, com quem tem dois filhos adolescentes, a atriz se mudou para Paris com a família no meio do ano, quando matriculou os meninos em uma escola da cidade. Ainda mantém "um pé" no Brasil, uma "dupla residência", como ela chama a vida que leva na ponte aérea entre os aeroportos de Guarulhos e o Charles de Gaulle.

"Eu tenho uma ligação muito forte com o que construí no Brasil, então vou e volto muitas vezes por ano", afirma. A decisão de se radicar na França foi um assunto muito discutido na família formada por Maria Fernanda, Petrit e os dois meninos.

"Passamos 12 anos em São Paulo, período em que trabalhei muito, toquei meus negócios e Petrit se aventurou no mundo dos restaurantes. Teve quatro. Mas ele não é chef de cozinha nem restaurateur. É empresário, e a empresa da família dele exigia que uma hora ele voltasse para a França para assumir os negócios."

E, depois de passar os dois anos de pandemia em São Paulo, os quatro definiram que era hora de se estabelecer em Paris. "Foi bem difícil tomar a decisão de abrir mão da minha independência financeira, não foi uma coisa simples, eu vim para cá deixando para trás uma rede de conexões profissionais muito consolidada, eu vivia com um certo conforto em São Paulo", confessa a atriz, que chegou na França conformada com a ideia de tirar um período sabático.

E o contrário aconteceu. Sem nunca ter sonhado com uma carreira internacional, Maria Fernanda, hoje, tem seu nome carimbado no cinema francês, no italiano e até em uma franquia de Hollywood, "Animais Fantásticos", spin-off da série Harry Potter que lançou, em abril, o terceiro longa-metragem, "Os Segredos de Dumbledore".

O filme ficou mais conhecido pelos estranhos acontecimentos de bastidores que pela história que conta. Foi desta produção que Johnny Depp foi demitido dias antes do começo das filmagens por causa das acusações de abuso físico, sexual e emocional de sua ex-mulher, Amber Heard, e substituído pelo dinamarquês Mads Mikkelsen, de "Druk".

No elenco também está o ator americano Ezra Miller, de "Precisamos Falar Sobre Kevin", que foi preso duas vezes no primeiro semestre deste ano, no Havaí, e acusado de rapto de uma garota indígena de 18 anos e depois de uma mulher havaiana de 25 anos e seus três filhos pequenos. Eles sumiram de casa sem avisar o marido dela e ficaram morando na fazenda do ator, em Vermont, em uma casa cheia de armas e munição.

No set, no entanto, a atriz brasileira conta que o clima era muito tranquilo, nada indicava que tinha alguma confusão acontecendo por trás das câmeras. Rodado em plena pandemia, enquanto estava todo mundo confinado em suas casas, os atores eram obrigados a fazer exames PCR todos os dias antes de começarem a filmar. Assim como toda a equipe técnica, o que, em uma superprodução hollywoodiana deste porte, significa um monte de gente, na casa das centenas.

"Foi uma sorte muito grande fazer esse filme. Fui recebida de braços abertos pelo [ator inglês] Eddie Redmayne, que eu sempre admirei muito e que é o protagonista desta série", conta. "Conversamos muito, assim como com o Jude Law, que também é fantástico e tem o segundo papel mais importante na trama".

Mas o mais surpreendente, para Maria Fernanda, era que, no meio da maior produção de que já participou, tinha que contracenar com as tais criaturas fantásticas, que não estavam lá, foram botadas por computação gráfica na pós-produção.

"Era quase uma brincadeira infantil, me remetia à infância mesmo, tinha que usar a imaginação de uma forma diferente. Ao mesmo tempo em que a produção estava amparada por muito recurso financeiro, os atores tinham que recorrer à coisa mais simples de todas, ao faz de conta".

O pontapé inicial para a virada na carreira internacional de Maria Fernanda aconteceu por causa de um empurrão do produtor brasileiro Fabiano Gullane, que sugeriu a atriz para o diretor italiano Marco Bellocchio. Ele se preparava para rodar o longa-metragem "O Traidor", em 2018. Bellochio nunca tinha ouvido falar de Maria Fernanda, mas concordou em conhecê-la e a escalou para o principal papel feminino.

"Esse filme foi para o Festival de Cannes em 2019 e foi muito bem recebido. Depois fez sucesso na Europa, tem muita gente que me encontra na rua aqui e me reconhece por conta desse papel", diz.

Por causa dele começaram a aparecer outros convites para produções europeias, como os inéditos "Bastardos à Mão Armada", do italiano Gabriele Albanesi, e "Vermelho Monet", do brasileiro Helder Gomes, mas rodado em Lisboa —além do "recital dramatique" que ela estreou no teatro nesta semana.

A atriz Maria Fernanda Cândido em retrato feito pelo fotógrafo Jairo Goldflus - Jairo Goldflus/Divulgação

Mas Maria Fernanda não deixou o mercado brasileiro de mãos abanando. Pelo contrário. Ela está em duas séries de TV simultâneas, "IndependênciaS", da TV Cultura, e "El Presidente", do canal de streaming Prime Video.

"IndependênciaS", que estreou no dia 7 de setembro, tem 16 capítulos semanais. Maria Fernanda interpreta a inglesa Maria Graham, que entrou na trama na última semana. "Ela é uma mulher muito culta, que conhecia o mundo inteiro e tinha uma visão muito atual em relação a questões políticas e sociais. Estava à frente de seu tempo, era uma abolicionista, uma feminista, uma avant-garde", define a atriz.

"Essa é uma série muito especial, para ser assistida com calma, por todos os brasileiros, porque conta uma história fundamental, a história da nossa formação, da nossa identidade. É uma série obrigatória", afirma.

"El Presidente" é mais polêmica: conta a história do escândalo de corrupção da Fifa, que levou vários de seus principais nomes à prisão, em 2015. "Essa trama não faz parte do meu mundo, mas me deu uma oportunidade incrível de conhecer um pouco mais esse universo do futebol", conta.

Maria Fernanda vive Anna Maria Havelange, mulher do ex-presidente da Fifa, João Havelange, papel do ator português Albano Jerónimo. O ator Eduardo Moscovis também está no elenco, como o bicheiro carioca Castor de Andrade.

A atriz Maria Fernanda Cândido em retrato feito pelo fotógrafo Jairo Goldflus - Jairo Goldflus/Divulgação

Embora tenha marcado de conversar com a coluna justamente na hora da abertura da Copa do Mundo do Qatar, Maria Fernanda contou que assiste aos jogos da seleção brasileira e torce muito nos torneios mundiais. Assim como os filhos e o marido, que torcem tanto para o Brasil quanto para a França.

Mas e se for Brasil X França na final, para quem a família vai torcer? "Para o Brasil, claro", afirma a atriz, que, em seguida, completa o pensamento: "O meu marido vai dar exatamente a mesma resposta para essa pergunta, mas com a França como o time favorito".

Tomara que a família não tenha que resolver esse conflito no próximo dia 18 de dezembro, quando acontece a final da Copa, e que nossa melhor representante brasileira na capital francesa tenha muito a comemorar nesta data.

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