A AGU (Advocacia-Geral da União) vai encaminhar nesta quinta-feira (14) uma notificação extrajudicial à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo pedindo a remoção imediata de postagens feitas pelo secretário Guilherme Derrite de fotos de pacotes de maconha com adesivo contendo a imagem do presidente Lula (PT) e a mensagem "faz o L".
Em nota, a AGU diz que a notificação ressalta o caráter político das postagens, que veiculam fotos de tabletes da droga com adesivos do presidente.
Em caso de não cumprimento do pedido, o órgão diz que adotará "medidas judiciais cabíveis para reparar o ato e responsabilizar o agente público pela conduta."
Na legenda das fotos, o secretário do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) escreveu que um casal foi preso em Euclides da Cunha Paulista transportando grande quantidade de maconha de Ponta Porã (MS) a São Paulo.
"Policiais militares perceberam a atitude suspeita, deram ordem de parada e o casal tentou fugir, até atolar em uma estrada de terra e ser preso. Parabéns aos policiais. Continuamos nosso trabalho para demonstrar que em São Paulo o crime não compensa", completou.
Em nota, a assessoria de imprensa de Derrite afirma que não recebeu a notificação e que assim que isso ocorrer, analisará o conteúdo para se posicionar.
Derrite é próximo da família de Jair Bolsonaro (PL), especialmente do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e um dos focos de sua atuação política nos últimos anos tem sido o antipetismo.
O secretário de Segurança atualmente está sob pressão no cargo, com problemas na atuação em cracolândia, Santos (operação Escudo, acusada de excessos e irregularidades) e com dificuldades de relacionamento com o coronéis da Polícia Militar.
O presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, diz que a publicação é uma tentativa de Derrite de mobilizar ideologicamente a tropa bolsonarista para se manter no cargo.
"Pode até ser que exista o adesivo, que seja uma estratégia do crime, mas qual é a relevância dele para um gestor? Isso remete ao sequestro do Abilio Diniz", analisa Lima.
Em 1989, no intervalo entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial, o empresário foi sequestrado. Após o estouro do cativeiro, os sequestradores apareceram com camisetas do PT e a polícia divulgou fotos do material de campanha de Lula no local, o que acabou relacionando publicamente o partido à ação dos criminosos, ainda que não houvesse participação da legenda no ocorrido. Na época, a polícia paulista foi acusada de atuar para prejudicar o partido nas eleições.
"Isso é tratar a segurança como moeda política. Jamais uma comunicação institucional da área de segurança deveria sugerir que um segmento politico, por mais que não se concorde com ele, está associado ao crime ", completa.
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