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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu agricultura

Asfixiada pelo varejo nacional, empresa parceira do MST vira o jogo com exportação

Raízes do Campo entra em nova fase com loja conceito em bairro nobre de São Paulo e vendas para China e Europa

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Brasília

Carla Guindani, 42, é filha de agricultores de Santa Catarina. Há dois anos, ela comanda a operação da Raízes do Campo, marca que fundou para comercializar a produção de milhares de famílias, boa parte assentados da reforma agrária, como o MST.

Diante das dificuldades de entrar nas grandes redes de supermercado —que pressionam por preço baixo—, decidiram exportar para a China e, a partir do próximo ano, para a Europa. Neste sábado (6), abre uma loja-conceito em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo.

Carla Guindani, sócio fundadora do Raízes do Campo, na loja-conceito da companhia, em São Paulo
Carla Guindani, sócio fundadora do Raízes do Campo, na loja-conceito da companhia, em São Paulo - Divulgação

É mais fácil vender na China do que para as grandes redes nacionais?
Não adianta entrarmos nessas redes cuja principal estratégia é comprar produtos de baixo custo. Hoje, 70% da população vai ao mercado e olha preço. Claro que as grandes redes interessam, mas não queremos estar ao lado de um arroz Camil, porque nosso produto é de alto valor agregado. Queremos a gôndola dos saudáveis, dos orgânicos.

A barreira das grandes redes é só essa?
As grandes redes são extremamente agressivas do ponto de vista de margem. A gente ficou muito preocupado em entrar nessa lógica, de ir lá e ficar apertando o tempo inteiro o agricultor e a cooperativa, dizendo que elas estão pedindo para reduzir preço.
Decidimos, então, reduzir nossa presença no grande varejo e ampliar o volume no pequeno e no médio. Com isso, nossa meta agora é dobrar de tamanho neste ano, faturando R$ 10 milhões no mercado local.

E as exportações?
A empresa foi criada com o objetivo de exportar produtos da agricultura familiar para a China. Fomos super bem aceitos inicialmente, mas recebemos de presente a pandemia, e tivemos de nos voltar para o mercado nacional.
Agora, mudamos a estratégia. Firmamos parceria com a Gondwana, nossa irmã na China, que prospecta contratos. Nesta semana, embarcamos o primeiro contêiner para Xangai com 20 toneladas de café especial. A ideia é movimentar R$ 7 milhões só com isso até o fim deste ano, um contêiner por mês.

Café?!
O chinês tem uma relação muito bacana com o café. Em casa, ele toma chá. Mas sai muito para ir às cafeterias. A primeira vez que fui à China, em 2017, havia pouquíssimas. No fim de 2018, já tinha Starbucks. Hoje, a perspectiva é de um crescimento de consumo de café lá é de 20% ao ano. É muito promissor.

E os outros países?
Já fechamos parceria com uma empresa de Lisboa, em Portugal, que irá nos representar nos 27 países da Europa. Até dezembro, devemos entrar no continente com todos os nossos produtos.

A empresa é do MST?
Nossa raiz é a agricultura familiar, formada, em grande parte, por assentamentos. Das 1.549 famílias que temos agora, cerca de 40% são da reforma agrária. O MST é associado, mas também temos cooperativas do Movimento de Pequenos Agricultores, do Movimento de Mulheres Camponesas.

Por que seus produtos são mais caros?
A agricultura familiar não tem à sua disposição implementos. É tudo manual. Veja o caso do feijão. Choveu demais e a turma perdeu tudo. Não vamos colher um grão neste ano. E a gente perdeu tudo, porque financiamos totalmente essa produção.

Como assim? Não tem seguro?
Os bancos não financiam, não tem seguro agrícola para orgânicos. Então é assim, na sorte, na garra.


Raio-X | Carla Guindani, 42

Começou a trabalhar com cooperativas de produção agrícola no fim dos anos 1990. Formada em História (UFPB) com mestrado em Agroecossistemas (UFSC), é cofundadora da Raízes do Campo. Sua meta é levar, por meio da empresa, comida saudável para a mesa do brasileiro, que, segundo ela, vem trocando o arroz com feijão por macarrão processado.

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