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Descrição de chapéu PIB

Artistas se tornam protagonistas da economia criativa no pós-pandemia

Diante de um mercado de trabalho instável, profissionais do setor viram empreendedores culturais e enfrentam precarização

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Henrique Bussacos

Mestre em desenvolvimento socioeconômico, administrador público e diretor-executivo do Impact Hub São Paulo

Ao observar a história da arte, nos deparamos com o clichê do artista como figura rebelde, que reflete o espírito 'outsider'. No imaginário coletivo, o artista assume a postura do antissistema, que se alimenta de sua paixão. Contudo, essa visão ignora o ar dos novos tempos, da realidade contemporânea da classe.

Ao longo do século 20, vimos a expressão artística tomar proporção de indústria cultural. Também observamos a ascensão da cultura enquanto vetor de desenvolvimento econômico. A economia criativa é hoje um dos setores com mais rápido crescimento no mundo, contribuindo para 3% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial.

No Brasil, segundo pesquisa do Observatório Itaú Cultural, em 2020, a economia da cultura e das indústrias criativas movimentou mais de R$ 230 bilhões, o equivalente a 3,11% do PIB, superando o índice da indústria automobilística, que registrou valor de 2,1% no mesmo período.

Setor da economia criativa apresentou crescimento significativo nos últimos anos - Avener Prado/Folhapress

A crise sanitária de 2020 evidenciou a importância da produção cultural para nosso bem-estar. Em meio ao confinamento, filmes, séries e performances virtuais se tornaram refúgios, destacando o impacto da economia criativa na vida cotidiana.

A Covid-19 trouxe à tona a realidade da carreira artística: ninguém se salvou do impacto econômico das portas fechadas. Sem carteira assinada, "patrões" da própria carreira, os artistas são, na verdade, empregados precarizados. Às margens do mercado tradicional de trabalho, eles não puderam contar com ajudas sociais destinadas a outros setores da economia.

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) respondeu a essa crise, lançando em 2020 o ResiliArt, movimento que vai além dos subsídios pós-pandemia, buscando debater o valor e o impacto de longo prazo da indústria cultural.

A visão defendida pela ONU desde 2015 estabelece a ligação intrínseca entre cultura e desenvolvimento sustentável e projeta uma agenda para transformar o mundo a partir desses dois pilares até 2030.

No Brasil, a iniciativa "Artistas de Impacto" alinha-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, e com captação pelo ecossistema de investimento de impacto da Incentiv, o projeto passou por seis capitais no segundo semestre de 2023, promovendo intervenções artísticas gratuitas.

Foram mais de 200 profissionais remunerados, 62 artistas contemplados e mais de 3.000 pessoas de todo o país participaram das atividades de formação online.

A proposta vai além das estatísticas. Tem a missão de incentivar e valorizar manifestações artísticas locais e regionais, buscando descentralizar ações culturais e criar público, além de promover discussões sobre a importância da arte na iluminação de pautas relevantes para a sociedade.

A atividade artística é, simultaneamente, paixão, dom e profissão. É chegada a hora de reconhecer a figura do artista e do profissional da cultura, que desempenha um papel fundamental na evolução da noção de "trabalhador".

A atuação desse profissional engloba valores simbólicos, conhecimento, cultura, criatividade, economia cognitiva e reestruturação do capital. O artista conectado, polivalente, criativo e autônomo torna-se o empreendedor cultural na nova economia, centrada no "imaterial".

A criatividade não é mais uma indústria do amanhã, é realidade aqui e agora. O Impact Hub São Paulo, parceiro oficial do projeto Artistas de Impacto, reforça seu compromisso com a transformação social, democratizando o acesso à arte e contribuindo para a formação de artistas por todo Brasil.

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