Papo de Responsa

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Descrição de chapéu sustentabilidade indígenas

Unidos do impacto positivo: Carnaval abre alas para boas ações ambientais

Folia de 2024 foi marcada por bailes e blocos que se abriram para inclusão, diversidade e responsabilidade social

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Jeff Ares

Fundador da Pedra, agência de marketing, relações públicas e curadoria com foco em projetos de responsabilidade socioambiental e diversidade

Lá nos idos de não se sabe quando, começa essa história de carnavalizar. Há historiadores que remontam as origens carnavalescas nos primitivos festivais que honravam os astros e os ciclos da Terra. Carnavalizar é da nossa natureza –e sobre ela.

No Brasil, a coisa é seríssima. Nosso Carnaval é um ato político, ecoa o grito de um povo que insiste em sorrir desde a invasão dos colonizadores. Camarotes VIP à parte, a festa é democrática: música e dança colorem as ruas, anestesiando a dor.

Carnaval de São Paulo levou milhares de foliões às ruas - Eduardo Knapp/Folhapress

O Carnaval é também um lugar de práticas discutíveis: o desrespeito ao "não é não", o uso de penas e plumas oriundas de crueldade animal, a imensidão de lixo sem destinação adequada, os microplásticos dos glitters, os preconceitos perpetuados pelas marchinha.

Mas o Carnaval também é lugar de reflexão – e celeiro de boas iniciativas. Neste 2024, ações e intenções social e ambientalmente fundamentais aconteceram, aqui e ali, em blocos, sambódromos e bailes. Dá para unir no mesmo alalaô e impacto.

Na Sapucaí, Sabrina Sato e Paolla Oliveira deram o exemplo vestindo fantasias sem componentes de origem animal –e reinaram.

No camarote N1, uma linha de produtos próprios tem parte do lucro revertido para a ONG Spectaculu, que capacita jovens de favelas para a indústria do audiovisual.

Vários enredos trouxeram luz para questões ambientais e sociais, como o letramento sobre o ameaçado povo Yanomami e a presença simbólica do xamã Davi Kopenawa no Salgueiro. O seminal livro "Um Defeito de Cor", de Ana Maria Gonçalves, foi tema da Portela –e esgotou nas prateleiras.

A Sapucaí se fortalece como uma poderosa mídia para fazer chegar o clamor social ao grande público. Nos megablocos, Anitta criou um espaço para pessoas com deficiência, ação afirmativa para a inclusão –que vai além de convidar... é tirar pra dançar.

Lançado neste ano, o Baile do Rosewood contratou a agência Pedra para pensar no propósito da festa e propor um legado.

Um baile de gala e luxo tem a obrigação de devolver e inspirar, acreditam o hotel e os produtores culturais Gabriela Fontana e Bruno Moura, parceiros da empreitada.

Duas mulheres e um homem. O homem está no meio e veste um blazer branco e calça preta. A mulher da esquerda usa um vestido preto longo e põe a mão na cintura. A mulher da direita usa um vestido vermelho e também coloca a mão na cintura.
Da esquerda para a direita, Gabriela Fontana, Jeff Ares e Tessa Ferraz no Baile do Rosewood - Divulgação/Lu Prezia

A partir do tema "É da nossa natureza", em sintonia com o conceito do hotel, olhamos todos para a Amazônia –nosso passado, presente e futuro.

E propusemos um aporte financeiro do baile para apoiar a construção da sede da ONG Casa do Rio, celebrando os 10 anos de uma organização que atua em uma das mais ameaçadas áreas do estado do Amazonas, no município de Careiro Castanho.

Fundada por Thiago Cavalli, a Casa do Rio acolhe os saberes e as práticas dos povos da floresta, com iniciativas que promovem o desenvolvimento humano e territorial sustentável, estimulando o protagonismo das mulheres e dos jovens.

A ONG protege a primeira infância, defende a educação por meio de uma "pedagogia da floresta" e dissemina a agricultura familiar agroecológica como possibilidade de manter a floresta em pé.

Tudo sob uma filosofia de construção coletiva, em que os ribeirinhos e originários participam do pensamento dos projetos de bioeconomia, no contexto do artesanato, da gastronomia e do empreendedorismo verde.

Para o diretor-geral do Rosewood São Paulo, Edouard Grosmangin, a preservação da cultura dos povos ribeirinhos e originários é um compromisso que assumiram desde o primeiro dia. Daí o alinhamento com os valores da ONG e do que acreditam para o futuro do Brasil.

Além de uma primeira doação em dinheiro, o hotel fez uma compra importante de leques de cipó ambé, que se tornaram os convites do baile, beneficiando grupos de artesãs da rede criada pela ONG, e ainda comprou grande quantidade de castanhadas.

As cocadas de castanha feita pelas cozinheiras da região, para deleite dos foliões.

E não terminou na quarta-feira de cinzas. O hotel quer aprofundar seus laços com a causa – uma tendência importante na filantropia: apoios longevos, essenciais para a segurança financeira das organizações.

A Pedra foi contratada ainda para pensar em diversidade no mailing de convidados e na curadoria artística. Fez uma lista de convidados diversa, com pessoas indígenas, pretas e asiáticas, e pessoas da comunidade LGBTQIAP+, com especial atenção às pessoas trans.

Além de pessoas engajadas, como a filantropa brasileira radicada nos Estados Unidos Katia Francesconi, que há 7 anos apoia a ONG, por meio da Katia Francesconi Foundation, e a atriz Mariana Ximenes, que assumiu o posto de madrinha da causa.

Desde 2016, ela empresta sua imagem para divulgar ações de captação da Casa do Rio.

No palco, a talentosa cantora Assucena cantou com o bloco afro feminino Ilú Obá de Min, em um dos momentos mais significativos da noite.

Quando a diversidade entra no salão, a festa fica mais divertida, as conversas ganham profundidade, os acessos fortalecem quem precisa deles, a reparação histórica começa a se dar. Especialmente nos espaços criados pelo mercado de luxo, a diversidade é inegociável.

Ocupar é resistir, existir e ecoar. É enxergar a potência do Carnaval para gerar impacto social e ambiental positivo. Que a gente possa evoluir e carnavalizar com mais responsabilidade, consciência – =e ação.

Papo de responsa no carnaval? Deu samba.

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