Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Descrição de chapéu The New York Times inflação

É manhã na América de Joe Biden

Por enquanto, notícias sobre a economia são boas, e Biden tem todo o direito de se vangloriar a respeito

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The New York Times

Na última terça-feira (29), o Conselho de Assessores Econômicos do presidente Joe Biden postou uma mensagem de blog pedindo que as pessoas não dessem importância demasiada aos números do emprego em um dado mês. A mensagem presumivelmente foi divulgada antes da publicação do relatório mensal sobre o emprego que sairia na sexta-feira, para rebater possíveis acusações de que o governo estava buscando desculpas para números fracos. Mas o resultado divulgado foi muito forte. A economia criou impressionantes 850 mil empregos novos em junho.

O avanço no emprego foi especialmente impressionante se levarmos em conta as afirmações generalizadas de que as empresas não teriam como se expandir porque benefícios generosos demais para os desempregados desencorajavam os trabalhadores de aceitar empregos. (Os cortes recentes de benefícios em diversos estados chegaram tarde demais para influenciar o relatório de junho.) Bem, de alguma forma os empregadores estão conseguindo contratar muita gente, de qualquer forma.

Oh, e vejam só o quanto Donald Trump estava certo ao alertar que haveria uma “depressão Biden” se ele não fosse reeleito.

Biden discursa na Casa Branca no Dia da Independência nos EUA - Evelyn Hockstein - 4.jul.2021/Reuters/File Photo

Isso posto, as afirmações do conselho de economistas faziam sentido. A Covid-19 criou imensos deslocamentos na economia e, à medida que nos recuperamos desses deslocamentos, as estatísticas econômicas são afetadas por ruídos —em grande parte porque os ajustes padronizados que os estatísticos fazem para normalizar coisas como variações sazonais não funcionam direito em uma economia ainda distorcida pela pandemia.

A esta altura, porém, dispomos de dados suficientes para declarar que a economia vive um boom. O boom é tão forte, na verdade, que os republicanos inverteram sua posição, de declarar (falsamente) que estávamos passando pelo pior desempenho quanto a emprego em décadas a elogiar os números do emprego, atribuindo-os aos... Cortes de impostos de Trump em 2017.

Voltaremos a isso em um minuto. Primeiro, vamos tentar colocar o boom em contexto ao apontar que a economia está mais aquecida do que no período da “manhã na América” que deu a Ronald Reagan uma vitória esmagadora na eleição presidencial de 1984.

Criamos três milhões de postos de trabalho desde que Biden assumiu, ou uma média de 600 mil ao mês. Isso se compara à criação de 340 mil postos de trabalho ao mês antes da eleição de 1984.

É justo acrescentar que os empregos criados na era Reagan partiam de uma base inferior, e por isso o mais justo seria comparar as taxas de crescimento. Mas isso ainda dá vantagem a Biden: um crescimento anualizado de 5%, ante 4,4% em 1983-1984. E a disparidade cresce se compararmos os números de crescimento do emprego aos da população em idade de trabalho, que crescia em 1% ao ano na década de 1980 mas agora está estagnada.

Ou seja, temos um boom. O que está por trás dele?

A determinação republicana de atribuir tudo de positivo que acontece aos cortes de impostos seria absurda até como paródia. Há quem ainda se lembre de como praticamente todo mundo no Partido Republicano previu desastre no momento em que Bill Clinton elevou os impostos e, quando em lugar disso ele presidiu a um período de imensa prosperidade, declarou que o boom do final da década de 1990 se devia aos cortes de impostos de Reagan no começo da década precedente. É claro que, agora, eles estão insistindo em que as boas notícias da metade de 2021 se devem a algo que Trump fez quase quatro anos atrás.

A verdade é que Reagan nem merece muito crédito pelo boom de 1983-1984; a maior parte do crédito cabe em lugar disso ao Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, que cortou os juros em 1982.

Mas quanto do crédito pelo crescimento do emprego em 2021 deve caber a Biden? Se bem que não todo, o presidente certamente merece boa parte dele.

O American Rescue Plan, que elevou fortemente o poder aquisitivo dos consumidores americanos, certamente foi um propulsor importante de crescimento. Ainda mais importante, porém, foi a alta rápida no ritmo de vacinação, que causou uma queda forte no número de contágios e de mortes. Alguns de nós previram muito tempo atrás que os Estados Unidos experimentariam uma recuperação rápida, em formato de “V”, assim que a pandemia se aquietasse e a economia pudesse reabrir. Bem, o sucesso da campanha de vacinação nos conduziu a esse momento.

E a liderança política teve muito a ver com a vacinação rápida. Sim, as vacinas em si foram desenvolvidas antes que Biden assumisse, e o governo Trump encomendou milhões de doses. Mas o governo Biden tocou medidas muito mais fortes do que o de seu predecessor para coordenar a distribuição de vacinas e acelerar sua aplicação.

De modo mais geral, quem quer que duvide da importância da liderança política no progresso contra a Covid-19 deveria considerar as diferenças de ritmo de vacinação entre os estados, que apresentam forte correlação com preferências partidárias: os estados nos quais Biden venceu foram muito mais bem sucedidos do que aqueles nos quais Trump venceu, na promoção da vacinação de seus residentes.

Por isso, sim, estamos vivendo uma nova manhã na América, e Biden merece mais crédito por isso do que Reagan pela que aconteceu em seu governo.

É claro que as coisas ainda podem dar errado. O ritmo de vacinação desacelerou, em parte por conta da resistência nos estados republicanos, e o grande número de americanos ainda não vacinados torna uma nova onda de contágios possível. Além disso, embora eu seja uma das pessoas que veem a atual inflação como transitória, podemos estar errados.

Acima de tudo, sucesso econômico em curto prazo não é garantia de bons resultados em longo prazo. Muita gente esqueceu o desespero econômico generalizado que prevalecia poucos anos antes do triunfalismo de Reagan.

Mas por enquanto as notícias sobre a economia são boas. E Joe Biden tem todo o direito de se vangloriar a respeito.

Tradução de Paulo Migliacci

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