Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Descrição de chapéu Barbie

'Não precisa ser rica pra fazer filantropia', diz brasileira que já doou US$ 6 milhões a ONGs

Katia Francesconi cria fundação para captar recursos entre milionários americanos para projetos sociais no Brasil

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Radicada nos Estados Unidos, Katia Francesconi criou fundação que leva seu nome para apoiar projetos sociais no Brasil , Foto: Alexandre Virgilio/Divulgação

São Paulo

Ela é loira, de olhos verdes e cabelos longos, o estereótipo da Barbie.

Katia Francesconi, no entanto, deixou de lado a maquiagem e o figurino impecáveis de quem vive no circuito cor-de-rosa de ricos, famosos e poderosos para mergulhar na dura realidade das populações ribeirinhas da Amazônia e das periferias do Brasil.

De boné cor-de-rosa com a marca da Katia Francesconi Foundation, a brasileira radicada há 26 anos nos Estados Unidos foi conhecer de perto o impacto do programa Katia’s Kids (Crianças da Katia), centrado em educação, nutrição saudável e ecologia para a primeira infância.

Entre 30 de julho e 5 de agosto, a paulistana de 45 anos visitou organizações como Casa do Rio, no Amazonas, e Cantinho do Saber, no Pará, além de ter estado com a Gerando Falcões na antiga Favela do Sapo, renomeada Favela dos Sonhos, na Grande São Paulo.

As três ONGs são apoiadas pela fundação que leva seu nome, uma entidade filantrópica criada e mantida nos Estados Unidos. Desde 2014, a Katia Francesconi Foundation já captou US$ 6 milhões (cerca de R$ 30 milhões) para projetos sociais nos EUA e no Brasil.

Nesta quarta-feira (9), a filantropa ainda pouco conhecida no ecossistema de impacto social no país promoveu um encontro em São Paulo para dar visibilidade a ações e lideranças apoiadas pela fundação.

Entre elas, Rita Teixeira, que lidera o Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense, onde criou um projeto de educação infantil na Vila da Telha, município de Primavera (PA).

"Rita não tem filhos, assim como eu, mas cuida das crianças do Brasil. Exercemos a maternidade de outra forma", explicou Katia, ao chamar a empreendedora social paraense ao palco montado na Casa Manioca.

No almoço, foi anunciada uma nova doação de R$ 1,250 milhão para a Gerando Falcões em apoio a projetos como Favela 3D, conjunto de tecnologias sociais inovadoras aplicadas por Edu Lyra em comunidades como Vergel, em Maceió (AL) e a Favela Marte, em São José do Rio Preto (SP).

"Edu me fez acreditar que é possível acabar com a pobreza extrema no Brasil", disse Katia, ao anunciar a doação e chamá-lo ao palco para uma fala inspiradora sobre a missão de combater a miséria e a desigualdade social brasileiras.

"Katia tem a coragem de derrubar muros e construir pontes. E faz pontes internacionais, ao transformar sua rede de contatos em Londres, Miami e Nova York em ativo social", agradeceu Lyra, diante de uma plateia composta por artistas, como Cleo Pires, e formadores de opinião.

Estavam presentes também referências do terceiro setor como Carola Matarazzo, presidente do Movimento Bem Maior, e Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.

Na abertura do encontro, Monica de Roure, vice-presidente da BrazilFoundation, destacou o fato de ter sido ponte entre a Katia Francesconi Foundation e os projetos sociais no país.

"Kátia compartilha investimento social flexível, recursos que podem ser usados para fortalecer as organizações", enfatizou Monica. "É a verdadeira filantropia estratégica."

É investir também em ONGs pequenas, ainda desconhecidas, no momento em que mais precisam de fôlego financeiro para se consolidarem.

Monica cita o exemplo da Casa do Rio, no Amazonas, que nasceu na varanda da residência do empreendedor social Thiago Cavalli, apoiada há mais de cinco anos pela Katia Francesconi Foundation, via BrazilFoundation.

Assim como o projeto Cantinho do Saber, que realizava suas atividades debaixo de árvores e agora passará a contar com uma sede, onde funcionará um centro de educação infantil para o contraturno escolar.

Katia Francesconi tem a coragem de derrubar muros e construir pontes, ao transformar sua rede de contatos em Londres, Miami e Nova York em ativo social

Edu Lyra

fundador da Gerando Falções

"A gente tem força e determinação, mas não consegue ser enxergada", disse Rita, ao contar para os convidados paulistanos a sua lida com mulheres de uma comunidade pesqueira que aprenderam a sonhar a partir de projetos comunitários como Baú do Conhecimento.

Nos telões do espaço, eram projetados vídeos da imersão de Kátia pelos projetos sociais apoiados, com imagens de crianças praticando yoga no meio da floresta e em salas de aula equipadas na periferia de São Paulo.

A jornada de Katia como filantropa é incomum. Começa quando ela vai estudar nos Estados Unidos, onde se forma em finanças e administração de empresas, ganha dinheiro no mercado imobiliário e se casa. Conexões pessoais e profissionais que lhe deram trânsito entre a elite endinheira do planeta e seus potenciais doadores.

Katia se divide hoje entre Miami, Londres, Nova York e Los Angeles. "Os primeiros anos foram bem difíceis, mas depois passei a ter uma vida muito confortável", relata. "Eu tinha tudo, mas algo me incomodava."

Um incômodo que aumentava cada vez que retornava ao Brasil e se confrontava com a desigualdade literalmente à porta. A casa onde cresceu no Morumbi ficava próxima da favela de Paraisópolis.

"Eu não conseguia viver essa vida de luxo sabendo que a 10 minutos da minha casa tinha uma criança passando fome. Diante de tamanha desigualdade, entendi o que precisava fazer."

De início, começou a buscar doações entre sua rede de conhecidos americanos, mas os recursos eram destinados a projetos locais. Katia era voluntária em hospitais, distribuía comida para sem-teto, enquanto buscava formas de atuar também no Brasil.

Quando foi apresentada à BrazilFoundation, achou os canais e a forma para ir além da caridade e estruturar formalmente uma fundação para manejar os recursos doados.

Rita Teixeira não tem filhos, assim como eu, mas cuida das crianças do Brasil. Exercemos a maternidade de outra forma

Katia Francesconi

filantropa, sobre fundadora da ONG Cantinho do Saber no Pará

"Não precisa ser milionário para fazer filantropia", entendeu a brasileira, nascida em uma família de classe média em São Paulo. Katia hoje ostenta o cartão de visitas de filantropa graças à confiança dos doadores, todos norte-americanos do seu network.

"Eles acreditam na minha missão. Consegui inspirar essas pessoas nos Estados Unidos, onde a filantropia é muito forte."

Katia conta com a assessoria da BrazilFoundation para aplicação adequada dos recursos, prestação de contas e se beneficia de incentivos tributários e fiscais que fomentam a cultura de doação nos EUA.

"Com meio milhão de dólares se faz um projeto em Los Angeles, enquanto construímos uma escola na Amazônia com US$ 25 mil", compara, diante do impacto dos recursos captados por ela ao longo de dez anos para transformar realidades e vidas. E ir além de estereótipos.

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