Não há dúvidas de que todos os holofotes da imprensa brasileira devam estar voltados à cobertura da pandemia de coronavírus que toma conta do mundo.
Mas um acontecimento esportivo importante nesses tempos passou batido por muita gente: o Brasil foi hexa (de novo).
O primeiro hexa conquistado para o país veio pelas mãos (e pés, obviamente) de uma mulher há dois anos. Marta Vieira da Silva se tornou a primeira jogadora (e única brasileira) a ser eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo na premiação da Fifa. Pois bem, agora temos mais um hexa para comemorar.
Na última semana, Amandinha foi eleita pela sexta vez a melhor jogadora de futsal do mundo. E o mais curioso é que muita gente sequer sabe quem é e de onde veio esse fenômeno com a bola nos pés.
Infelizmente, poucos podem dizer que já a viram jogar, porque jogos de futsal feminino são uma raridade sem igual na TV brasileira.
No ano passado, foram cinco transmissões muito comemoradas por Amandinha e suas companheiras na modalidade. “Pra quem não tinha nenhum jogo na TV, ter cinco é um feito inesquecível”, disse.
A história dessa hexacampeã aos 25 anos de idade tem muitas semelhanças com a de Marta.
Amandinha também veio do Nordeste, cresceu no subúrbio de Fortaleza e passou por dificuldades sendo uma menina querendo praticar um esporte considerado “masculino”. Foi proibida de jogar um campeonato com os meninos e precisou da intervenção do técnico para ser liberada na competição.
E também saiu de casa bem cedo, com 15 anos, para viver seu sonho a 4 mil quilômetros de distância da família, em Brusque, Santa Catarina.
“Não foi fácil sair de uma ponta do país a outra, eu como filha única na época, e filha mulher. Meus pais sofreram no início, sabiam que havia a questão do preconceito, mas apoiaram bastante”, conta.
A decisão não poderia ter sido mais acertada. Aos 16 anos, pelo Barateiro Futsal, Amandinha ganhou seu primeiro título no futsal profissional.
Aos 19, já estava na seleção brasileira conquistando o Mundial com um gol na prorrogação e sendo eleita pela primeira vez a melhor jogadora de futsal do mundo.
Hoje, aos 25, ela já conquistou absolutamente tudo pela seleção e pelo seu clube atual, o Leoas da Serra, coleciona seis troféus de melhor do mundo e convites para atuar fora do Brasil.
As propostas são tentadoras financeiramente, mas o objetivo de Amandinha no esporte vai além do dinheiro.
“Hoje eu me tornei símbolo da modalidade aqui, então acho que seria um desperdício pra mim e para a modalidade se eu saísse do país. Só quero fazer o futsal feminino crescer no Brasil”.
É só ir a um jogo do Leoas da Serra em Lages para entender que Amandinha está cumprindo seu objetivo.
O ginásio fica abarrotado para ver o futsal feminino, e a torcida vem abaixo a cada jogada magistral realizada pela camisa 10.
São arrancadas, dribles de corpo, de calcanhar, canetas e chapéus que terminam quase sempre em gols ou assistências.
O que ela faz com a bola nos pés é espetáculo puro e não é à toa que, de 2014 para cá, só teve uma melhor do mundo - e ela só poderia ser brasileira.
“Nunca sonhei com nada disso, nunca pensei que poderia ser a melhor do mundo. Eu só queria jogar”.
Se futsal é sinônimo de Falcão por aqui, já podemos dizer que Amandinha também já entrou nesse dicionário.
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