Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Não vale discutir protocolo do futebol quando o sistema de saúde está em colapso

Será que o foco não deveria estar em fazer tudo para aliviar a sobrecarga de hospitais e UTIs?

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Já faz quase um ano que a palavra “protocolo” entrou de vez no nosso vocabulário. Foi mais ou menos em maio de 2020, quando se passou a discutir a volta do futebol e a gente não parou de ouvir explicações sobre o “protocolo seguro” para o jogo acontecer.

Mas devo admitir: me espanta ver que, no auge da pandemia, o debate ainda seja sobre ele. Não há protocolo quando morrem 3.000 pessoas por dia em um sistema de saúde que está colapsado em praticamente todo o país. Aliás, o único protocolo (nacional) que já deveria haver faz tempo é o de “como tratar pacientes de Covid”, vindo do Ministério da Saúde. Mas em um ano de pandemia, e após três ministros, o Brasil não conseguiu providenciar isso.

O presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, defende a continuidade do Paulista
O presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos, defende a continuidade do Paulista - Moacyr Lopes Junior - 26.jan.2017/Folhapress

O presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), Reinaldo Carneiro, afirmou na semana passada que “a ciência e a medicina dizem que o protocolo do futebol é seguro”. O secretário-geral da CBF, Walter Feldman, reforçou em 10 de março: “A aplicação do protocolo sanitário traz convicção de que o futebol é seguro, controlado, responsável e tem todas as condições de continuar”.

Ao que me parece, quem comanda o futebol não está entendendo que, na atual conjuntura, não é só a segurança do protocolo que deve ser levada em consideração. O sistema de saúde está em colapso. Isso significa que não há certeza de atendimento na emergência de hospitais públicos ou privados até mesmo para um caso simples de fratura –que poderia acontecer em qualquer jogo, aliás.

Para cada partida de futebol de um estadual ou Copa do Brasil, por exemplo, é preciso duas ambulâncias, uma de atendimento básico, com dois enfermeiros e um condutor, e outra de UTI, com dois enfermeiros, um médico e um condutor. São sete profissionais da saúde envolvidos em cada jogo. Além, obviamente, das próprias ambulâncias, que também fazem parte do sistema de saúde (privado).

Num momento em que faltam leitos nos hospitais, em que os profissionais de saúde estão absolutamente sobrecarregados, faz sentido manter jogos de futebol apenas porque “o protocolo é seguro” (e ainda há dúvidas de que seja)? Será que o foco não deveria estar em fazer tudo para aliviar o sistema e tentar contribuir ao menos para as coisas não piorarem?

Quando a FPF, diante da proibição do futebol no estado de São Paulo, procura outras duas possíveis sedes para realizar seu campeonato e a CBF permite a realização de jogos da Copa do Brasil que envolvem viagens passando por cinco cidades em quatro dias, com três voos e um ônibus, com a testagem dos atletas tendo sido realizada antes de todo esse trajeto (como aconteceu com a delegação do Juventude a caminho de Murici-AL), elas demonstram certa alienação a tudo o que está acontecendo no país.

Como bem disse o neurocientista Miguel Nicolelis ao Redação SporTV na última semana, “o futebol precisa parar, porque o Brasil precisa parar”.

“A sociedade brasileira está numa guerra diária, sofrendo com médicos entrando em burnout, com falta de medicamentos, falta de oxigênio. Quer dizer que o futebol não vai fazer absolutamente nada? Pelo contrário, vai contribuir para sobrecarregar o trabalho desses heróis da linha de frente?”, questionou.

Neste momento, o futebol precisa ficar em segundo plano para salvar vidas. Não falta dinheiro à CBF para providenciar ajuda financeira aos atletas e clubes que precisarem. Quando 3.000 famílias ficam órfãs diariamente no Brasil, não fazer nada é se mostrar alheio a essa tragédia.

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