Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Renata Mendonça
Descrição de chapéu
Renata Mendonça

CBF não pode estragar o melhor trabalho da seleção feminina em décadas

Que a técnica Pia Sundhage tenha tranquilidade para trabalhar e fechar um ciclo completo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Na última quinta-feira (7), a seleção feminina de futebol fez seu quarto jogo no ano. Um amistoso contra a Espanha, uma das melhores seleções do mundo atualmente – que, inclusive, conta com a atual melhor do mundo, Alexia Putellas. O jogo terminou em 1 a 1 e, depois dele, a treinadora do Brasil, Pia Sundhage, deu entrevista coletiva.

Havia três jornalistas na coletiva, todos de veículos independentes. A treinadora fez a análise da partida, trouxe seu ponto de vista sobre alguns erros cometidos por um time totalmente renovado e cheio de jogadoras jovens. Mas não havia nenhum representante da grande mídia ali.

Isso aconteceu na semana em que um dos jornais mais tradicionais do país publicou a notícia: "Pia Sundhage tem cargo ameaçado na seleção feminina após resultados ruins e convocações equivocadas". E é bem simbólico que, no dia seguinte à publicação dessa reportagem, tenha havido um jogo importante da seleção feminina – transmitido, inclusive, na TV aberta, acessível para todos –, mas só três jornalistas (de veículos independentes) tenham se interessado no que a treinadora tinha a dizer sobre a partida.

Pia Sundhage durante amistoso do Brasil contra a França, em fevereiro
Pia Sundhage durante amistoso do Brasil contra a França, em fevereiro - Franck Fife - 19.fev.2022/AFP

Simbólico sobre como a grande mídia enxerga a seleção feminina – que tem espaço garantido no jornal para "criar polêmica", mas não desperta interesse da mesma editoria de Esportes para acompanhar os processos. E também sobre como a CBF manipula a imprensa de acordo com o que lhe convém.

A mesma entidade que não se importou com a pior sequência de resultados da história da seleção feminina às vésperas da Copa do Mundo de 2019 (nove derrotas consecutivas), agora aparentemente se preocupa com a perda de um torneio amistoso (na disputa de pênaltis, diga-se) na estreia da treinadora sueca em agosto de 2019. A confederação que passou décadas negligenciando o futebol feminino agora acha absurdo que a seleção não consiga ganhar da França ou da Holanda – ou até mesmo da Espanha –, países que, ao contrário do Brasil, investiram muito no futebol das mulheres nos últimos 10 anos.

Diante do caos que vive nos seus bastidores nesse ano que foi eleitoral, seria de bom-tom a alta cúpula da CBF se preocupar com seus conluios políticos e deixar quem realmente quer trabalhar pelo desenvolvimento do futebol no Brasil fazê-lo.

Renovação
É preciso sempre lembrar que há dois estágios no trabalho de Pia Sundhage na seleção feminina. Primeiro havia um objetivo a curto prazo, os Jogos Olímpicos de Tóquio. Era preciso manter a espinha dorsal da equipe e montar o time mais competitivo possível em pouco tempo.

O cenário pós-Toquio é bem diferente. O objetivo, antes de tudo, é renovar a seleção como nunca antes se viu. Os três maiores pilares da história desse time não estão mais lá – Cristiane já havia ficado fora das Olimpíadas, Formiga se aposentou da seleção, Marta está machucada.

Se olharmos para os jogos mais difíceis desse período, primeiro no Torneio da França e agora contra a Espanha, o Brasil teve escalações bem renovadas.

No empate por 1 a 1 diante das holandesas, somente três jogadoras titulares estiveram em Tóquio. Contra as espanholas, foram quatro.

Das gerações anteriores, restaram nesta última convocação duas "veteranas": Tamires e Debinha.

Não é fácil conseguir encaixar um time com tantas mudanças, com tanta juventude. O processo é doloroso até lá. Haverá mais erros do que acertos nos jogos, porque é um time jovem em formação. Mas dá para ver que existe um trabalho em curso. As jogadoras mais novas têm evoluído bastante.

É um processo, que talvez seja mais lento do que gostaríamos para dar resultado. Mas é necessário. Esperamos que Pia Sundhage tenha tranquilidade para trabalhar e fechar um ciclo completo na seleção brasileira.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.