Ross Douthat

Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

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Trump não foi o fim do Partido Republicano, e DeSantis também não será

Quando derrotados, republicanos o fazem menos por fraqueza política inerente do que por força desperdiçada

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The New York Times

Minha última coluna defendeu o argumento, uma vez dado como garantido, mas agora um tanto contestado, de que Ron DeSantis precisa concorrer em 2024 se quiser aproveitar sua melhor chance de ser presidente. As contestações que abordei foram principalmente focadas na potência de Donald Trump como um obstáculo às ambições de DeSantis e nas vantagens de esperar por 2028.

Mas há um argumento secundário que vale a pena discutir: a ideia de que o histórico direitista de DeSantis o condenará como candidato nas eleições gerais, seja por causa de sua guerra com a Disney ou de seu antigo apoio ao corte de gastos obrigatórios com programas ou sua recente assinatura da proibição do aborto com seis semanas na Flórida.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, em evento do Partido Republicano na cidade de Midland, em Michigan
O governador da Flórida, Ron DeSantis, em evento do Partido Republicano na cidade de Midland, em Michigan - Chris duMond - 6.abr.23/Getty Images North America/ Getty Images via AFP

Não acho que esse argumento seja tão pertinente à questão de saber se o governador da Flórida deveria concorrer em 2024 em vez de 2028: se as leis antiaborto e as guerras contra a Disney são criptonita para as eleições gerais, então quatro anos não o tornarão mais vendáveis para os eleitores indecisos.

Mas a diminuição das chances de DeSantis está ligada a uma ideia muito importante nos debates atuais: a de que o Partido Republicano, de certa forma, mal está conseguindo manter a competitividade nacional, que é extremamente vulnerável a erros ideológicos e mudanças demográficas, e que é fácil para um político republicano simplesmente se afastar do caminho para a maioria.

Vê-se isso implícito de maneiras diferentes e em lugares diferentes. Por exemplo, na sugestão recente de Richard Hanania de que a impopularidade da causa pró-vida poderia "destruir" o Partido Republicano. Ou a sugestão de James Surowiecki de que "a única razão pela qual o atual Partido Republicano é viável como partido nacional é por causa da estrutura do Colégio Eleitoral/Senado, combinada com os eleitores brancos do Sul com ensino superior que continuam a votar nos republicanos".

Ou o argumento de Jonathan Chait de que DeSantis poderia facilmente acabar como um candidato significativamente mais fraco que Trump nas eleições gerais, e não apenas cair ao nível de Trump. Ou reações exageradas e descrentes dos liberais do Twitter ao argumento de Michael Brendan Dougherty de que pode haver eleitores que escolheram Hillary Clinton em 2016, mas podem mudar para DeSantis.

Há uma versão branda dessa crença na fraqueza do Partido Republicano que é inteiramente defensável. A sigla dificilmente é um rolo compressor. Ela luta fortemente para obter maiorias de votos populares em nível presidencial. Encontra parte de seu apoio mais forte entre as camadas em declínio. Está ligada a uma variedade de cargos impopulares e muitas vezes é incompetente na formulação de políticas. Definitivamente, não está otimizada para vencer as maiorias esmagadoras das eras Nixon ou Reagan.

Mas as profecias sobre o fim do Partido Republicano como força viável fora do Sul, seu rebaixamento ao status de minoria quase permanente, só eram plausíveis no início da era Obama, após as verdadeiras derrotas esmagadoras que o partido sofreu em 2006 e 2008. Desde então, a história tem sido de resiliência do Partido Republicano em várias encarnações diferentes, seja na forma libertária agitadora ou cautelosa com o establishment ou a forma populista de Trump. O Partido Republicano defendeu causas impopulares, escolheu candidatos amplamente odiados, foi pioneiro em novas formas de autossabotagem e negligência política. No entanto, conquistou vitórias inesperadas e se recuperou rapidamente de suas derrotas, e parece tão competitivo hoje quanto em qualquer outro momento desde 2008.

Não há uma maneira perfeita de avaliar a força de um partido como partido, em oposição ao que um determinado candidato presidencial ou mapa do Senado possa fazer dele. Mas examinar a votação de dois partidos para a Câmara é provavelmente o melhor substituto que temos. Por esse padrão, o Partido Republicano em 2008 parecia estar mergulhado no deserto político: perdeu o voto popular da Câmara por mais de 10 pontos, uma demonstração comparável às perdas que sofreu regularmente nos dias em que a coalizão do New Deal dominava a política americana.

Mas houve sete eleições para a Câmara desde 2008, e o Partido Republicano ganhou o voto popular em quatro delas. Nas outras três, sofreu uma derrota efetiva (2018) e duas derrotas apertadas (2012 e 2020). Suas melhores votações foram em 2010 e 2014, mas conseguiu uma clara maioria apenas em 2022.

Esses não são os números de um partido fatalmente regionalizado, ou de um partido que não pode esperar ganhar o poder sem manipulação de áreas eleitorais, ou de um partido sem apelo para independentes e eleitores indecisos. De fato, você poderia argumentar que eles indicam a sorte dos democratas pelo fato de o Partido Republicano ser tão propenso à autossabotagem –com um pouco mais de normalidade, um pouco menos de loucura ideológica e trumpista e uma agenda política ligeiramente mais sintonizada com o eleitor mediano, os republicanos poderiam ter sido o partido claramente majoritário dos EUA na última década.

Até agora, não há nenhuma boa razão para pensar que o aborto mude radicalmente essa dinâmica. A questão é claramente boa para os democratas. É uma responsabilidade maior para os republicanos em lugares que são mais seculares e onde o partido já multiplicou suas responsabilidades –como Michigan, onde o partido estadual é especialmente cativo da incompetência e do extremismo. Parece ser uma responsabilidade menor em lugares como Geórgia e Ohio, onde governadores republicanos populares assinaram proibições do aborto após a sexta semana sem pagar nenhum preço político notável.

No que diz respeito a DeSantis, a proibição do aborto está em descompasso tanto com o eleitorado da Flórida quanto com o eleitorado nacional, não o ajuda politicamente fora das primárias e pode lhe custar uma eleição nacional acirrada. Mas é muito mais provável que seja mais um problema entre os muitos que impedem o Partido Republicano de atingir todo o seu potencial do que a gota que finalmente quebra as costas do partido.

E esse potencial geral parece mais forte do que nunca em 2024. No momento, como ele ainda está indefinido para muitos eleitores, pode-se pensar em DeSantis como um substituto para um republicano genérico nas pesquisas apertadas contra Joe Biden. Nessa função, ele está liderando em sete das últimas dez pesquisas compiladas pela RealClearPolitics, incluindo uma nova pesquisa do Wall Street Journal divulgada esta semana, bem como pesquisas recentes dos estados indecisos Arizona e Pensilvânia.

É bom e razoável, nesse contexto, olhar as fraquezas de DeSantis e perguntar se, como candidato, ele encontraria seu próprio caminho para algo mais parecido com a posição de Trump –como um candidato competitivo, mas que provavelmente não consegue vencer sem um reforço do Colégio Eleitoral, outro candidato republicano da vida real que perde muitos votos que um republicano genérico poderia ganhar.

Mas ainda devemos ser claros sobre o que esta análise descreve: não um Partido Republicano que é pouco viável, está nas cordas e mal se segura, mas um Partido Republicano que consistentemente tem maiorias ao seu alcance, e, quando não consegue vencê-las, o faz menos por fraqueza política inerente do que por força desperdiçada.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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