Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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China aos 70: ambições globais

Desengajamento americano gera déficit de liderança que não escapa ao país asiático

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Ninguém segura a China. Essa foi a mensagem central do discurso de Xi Jinping por ocasião dos 70 anos da fundação da República Popular da China. As comemorações em todo o país, a grande parada militar em Pequim e as mensagens públicas se combinam a um documento oficial intitulado “China e o Mundo numa Nova Era”, lançado na última sexta-feira (27). 

Tudo aponta para a mesma direção: uma China mais confiante e mais assertiva no plano internacional. Uma China com ambições políticas proporcionais ao peso econômico de um país que caminha para ser a primeira economia mundial. 

Há cerca de uma década a China começou a deixar de lado o perfil baixo no plano externo. O ponto de inflexão foi a crise financeira de 2008, quando os chineses entenderam que não deveriam mais tomar lições da primeira potência mundial a respeito de como manejar a economia. 

A assertividade chinesa ganha mais força agora, momento em que os EUA, arquitetos da ordem internacional, solapam os seus fundamentos. O desengajamento americano em várias frentes externas —inclusive com a decisão de sair de acordos e organizações internacionais— gera um déficit de liderança no mundo que não escapa à atenção da China. 

Nos últimos anos, os chineses assumiram a bandeira da globalização econômica e do combate ao protecionismo. Empenham-se em reformar organizações existentes, como a OMC, o FMI e o Banco Mundial, e não se acanham em liderar a criação de novas iniciativas, como o Banco dos Brics

Na Assembleia Geral da ONU, ofereceram o bom senso que faltou a outros. 

No documento “China e o Mundo numa Nova Era”, os chineses falam em construir novo modelo para as relações internacionais, em promover um novo modelo de globalização econômica e, ao mesmo tempo, em fortalecer a ONU e a OMC. 

Falam em oferecer ideias inovadoras para a governança global, fazendo uso da “sabedoria chinesa”. 

Comportam-se como uma potência reformista em algumas áreas e revisionista em outras. Absolutamente natural para quem conquistou seu lugar à mesa e, aos poucos, passa também a dar as cartas.

O caminho rumo à visão chinesa para as relações internacionais é cheio de percalços. A começar, a China tem desafios internos —e Hong Kong é apenas o mais agudo deles

O mundo também ficou mais complicado. Além de focos de tensão na vizinhança, incluindo Coreia do Norte e Mar do Sul da China, os problemas com os Estados Unidos são multidimensionais e não desaparecerão tão cedo. 

Os chineses reconhecem os desafios internos e externos. Comenta-se por aqui que “grande esforço” (struggle em inglês, ou douzheng, em mandarim) teria se tornado palavra de ordem de Xi Jinping. 

Num discurso a membros do partido no início deste mês, Xi teria pronunciado 58 vezes a palavra douzheng. 

A despeito disso, a avaliação da China é de que sua hora chegou. Lá se vão quase 40 anos desde que Deng Xiaoping disse que os chineses deveriam esconder suas forças e aguardar a oportunidade favorável. 

A China de hoje se sente pronta para o protagonismo e disposta a reescrever as regras do jogo internacional.

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