Terra Vegana

Luisa Mafei é culinarista e professora de cozinha a base de vegetais

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Descrição de chapéu alimentação

Feira em São Paulo mostra que estamos mais próximos do veganismo do que parece

Vegfest, um dos maiores eventos veganos do mundo, acontece de 8 a 11 de dezembro e tem até escape room temático

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Um dos sentimentos mais desafiadores na vida de uma vegana (ou de um vegano) é o da solidão. Ser a única vegana da família. A única vegana na mesa do bar, no churrasco, na festa de aniversário, no almoço de domingo.

O instinto de sobrevivência faz da bolsa térmica nossa melhor amiga, sempre carregada de marmitas e lanchinhos. Na hora da refeição, não é incomum que nos sintamos deslocados socialmente do contexto de celebração, que envolve bichos que não reconhecemos enquanto comida.

Grupo de cerca de 300 vegetarianos durante manifestação de conscientização dos problemas causados pelo consumo de carne, na rua da Consolação, no centro da cidade de São Paulo - 02.dez.2012-Fabio Braga/Folhapress

Lembro-me bem desse sentimento —cada vez mais minguante com o passar do tempo— sobretudo no período da minha transição para o veganismo. Eu me sentia sozinha na sala de ensaio, na cozinha do restaurante, e na minha própria casa.

Em 2018, fui ao meu primeiro VegFest, uma das maiores feiras veganas do mundo, que este ano acontece simultaneamente à 9ª edição do Congresso Vegetariano Brasileiro, entre os dias 8 e 11 de Dezembro, no Centro de Convenções Anhembi.

Foi no Vegfest que me senti, pela primeira vez, parte do movimento vegano. Olhei ao meu redor e reconheci os meus iguais. Percebi que o caminho que estava tateando quase às cegas era na verdade uma estrada sólida e consistente, na qual eu poderia dirigir com segurança e conhecimento.

A oferta de comidas veganas de todos os tipos, no evento, me fez perceber que, sim, é possível recriar qualquer quitute ou refeição que amamos numa versão 100% vegetal e sem sofrimento animal.

Escutar a Brenda Davis, uma importante nutricionista canadense, falar sobre os benefícios da alimentação à base de vegetais me motivou a organizar uma nova rotina alimentar dentro de casa, e assistir a dezenas de pessoas preparando a maior pizza vegana do mundo foi, no mínimo, divertido.

Esse ano, volto ao VegFest como palestrante, para uma roda de conversa sobre "Veganismo Fora da Bolha", ao lado de outros comunicadores veganos como Fabio Chaves, Marco Clivati, Gabriela Veiga, Grant Lingel e Christian do Valle.

Expandir a comunicação de temas inerentes ou do interesse do movimento vegano para além da nossa "bolha" tem sido justamente o meu objetivo enquanto colunista da Folha.

O meu jeito preferido de falar sobre o veganismo para não veganos é pela comida, pelas receitas e pelo afeto: acredito que essa tríade aproxima e desperta a curiosidade de quem lê em experimentar possibilidades de se alimentar deixando os bichos de fora do prato.

Quem não é vegano pode se aproximar, a partir do garfo, de uma sociedade mais justa e empática com os animais, e de um planeta mais sustentável. Estes são horizontes rumo aos quais podemos caminhar coletivamente, cada um no seu ritmo, ainda que nem todos queiram ser veganos.

Cada refeição importa, e essa diferença pode ser feita com saúde e comida gostosa no prato. Como diria Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), organizadora do VegFest: os três dias de atividades da feira mostram à sociedade que ela está mais próxima do veganismo do que acredita.

Além das palestras, das demonstrações de cozinha, dos pocket shows e dos mais de cem expositores, essa edição do VegFest vai contar com um escape room com galinhas poedeiras, destinadas à produção de ovos.

A expectativa da diretora de comunicação da SVB, Larissa Maluf, é de que os visitantes repensem seus hábitos de consumo a partir da conscientização das práticas cruéis às quais as galinhas poedeiras são submetidas. Ao contrário das galinhas, os jogadores poderão escapar da sala com vitória caso consigam resolver todos enigmas dentro de dez minutos.

Se em 2018 eu me sentia solitária, hoje percebo o quanto o veganismo é também uma comunidade plural e cheia de possibilidades. Até um time de futebol para chamar de nosso já temos, o Laguna, e alguns jogadores viajarão do Rio Grande do Norte para participar do evento, com um desafio de futebol aberto ao público.

Já botei a camisa do timão para doação, agora só falta chegar a camisa do Laguna para vestir no dia 8 de dezembro.

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