Thiago Amparo

Advogado, é professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP. Doutor pela Central European University (Budapeste), escreve sobre direitos e discriminação.

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Descrição de chapéu Folhajus internet Twitter

Twitter apoia massacres

Resposta do governo, no entanto, é canetada ambígua

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Em reunião com o Ministério da Justiça na última segunda-feira (10), um representante do Twitter afirmou que não restringirá fotos e nomes de autores de ataques a escolas. Para o espanto até de emissários de outras redes sociais, a empresa comprada por Elon Musk se esconde por trás dos chamados termos de uso —que não estão acima da lei e não admitem violência— para permitir imagens, áudios e textos que estimulam massacres em escolas.

A suposta liberdade de expressão irrestrita da plataforma de Musk nem é liberdade, nem é irrestrita: tal como não há liberdade para gritar "fogo" num teatro lotado, na famosa metáfora, igualmente não há liberdade para gritar "matem as crianças" numa plataforma cheia de usuários violentos. Aos amigos, o Twitter garante a violação da lei que, no país, protege crianças e adolescentes com absoluta prioridade; aos inimigos, no caso os que denunciam que desta forma a plataforma apoia massacres, retira magicamente da lista de assuntos mais comentados a hashtag que é título desta coluna.

O bilionário Elon Musk, dono do Twitter - Dado Ruvic/Reuters

A resposta do governo federal veio, no entanto, numa canetada às pressas do ministro da Justiça. Flávio Dino colocou as secretarias nacionais de Consumidor e de Segurança Pública para fiscalizar plataformas, impondo dever de monitoramento prévio por tipo de conteúdo —os mesmos órgãos que até ontem estavam com Anderson Torres, um precedente problemático. Manda instituir um "banco de dados de conteúdos ilegais", sem precisar o que é.

Faria melhor o governo se investigasse via inquérito da Polícia Federal e solicitasse no Judiciário a retirada cautelar dos conteúdos ilegais de apologia da violência; se propusesse lei revisando a regulação de plataformas; se focasse em impor procedimento claro de moderação a plataformas e fortalecesse independência de órgãos como a Autoridade Nacional de Proteção de Dados. Apologia da violência em escolas não é uma zona cinzenta: é ilegal e, ao permiti-la, apoiam-se os massacres. Combatê-la requer mais que uma norma ambígua.

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