Descrição de chapéu alimentação

Plataforma digital conecta chefs e agricultores de São Paulo

Projeto levar frescor à mesa dos restaurantes e aprimora logística de produtores

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Ana Mosquera
São Paulo

“Onde tem uma placa dessa, é só encostar o celular e descobrir agricultores da cidade”, ensina Terezinha dos Santos Matos, agricultora urbana, sobre o QR Code do selo da Sampa+Rural, plataforma que conecta profissionais como ela ao seu mercado consumidor.

Lançado em setembro de 2020, o projeto integra o Ligue os Pontos, iniciativa da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento da Prefeitura de São Paulo com apoio da Bloomberg Philanthropies, que, desde 2016, busca promover a sustentabilidade socioambiental do território rural ao sul do município a partir do fortalecimento da agricultura.

A chef Mari Sciotti, do Restaurante Quincho, na Vila Madalena, recebe semanalmente um quilo de Panc (planta alimentícia não convencional) de um produtor na zona leste - Karime Xavier/Folhapress

Desde fevereiro passado, mais de 500 selos —o “Nós Fazemos a Sampa+Rural” e o “Aqui Tem Produção de Sampa”— foram distribuídos. O primeiro vai para todos que integram a plataforma, e o segundo, aos que criam relações consistentes com quem produz na cidade.

“É abrir caminhos para ir encontrando esse rural, que representa 30% do território. É uma oportunidade de fazer relações para além das mais óbvias da produção com a comercialização”, acredita Lia Palm, analista de políticas públicas e gestão governamental da Prefeitura de São Paulo e integrante da equipe da plataforma Sampa+Rural (sampamaisrural.prefeitura.sp.gov.br).

Semanalmente, um quilo da Panc (planta alimentícia não convencional) peixinho cultivada por Terezinha, na Horta Sabor da Vitória, na zona leste, chega para a chef Marina Sciotti, do Quincho Cozinha & Coquetelaria, na Vila Madalena. Na entrada vegana, o peixinho da horta, frito e empanado em massa de tempurá, é acompanhado de molho tártaro.

Para garantir a demanda, o restaurante investiu na parceria, incentivando o comércio justo e estreitando as trocas. “Muitas vezes essa cadeia não consegue se complementar por falta de quem conecte as pontas. Se a gente vive na era da rede de relacionamentos, por que não ter uma que aproxima quem produz de quem compra?”, pontua Marina.

No Quincho, o 'peixinho' é empanado e servido com molho tártaro - Karime Xavier/Folhapress

“As maiores dificuldades para o produtor são logística e escoamento. Essas iniciativas permitem que as cadeias se façam de forma mais curta, dando maior qualidade de vida a ele”, comenta a historiadora Adriana Salay.

No Campo Limpo, o líder comunitário Thiago Vinícius e sua mãe, a chef Tia Nice, estão entre os responsáveis por democratizar a alimentação saudável, por meio do Armazém Organicamente e do Organicamente Rango.

Para Thiago, o mapeamento é primordial para que haja troca social e econômica entre campo e periferia. “É a possibilidade de trazer mais políticas públicas, manter a juventude do campo com drone, fazendo social media da roça. Mesma coisa o jovem da cidade vendendo a comida do jovem da periferia”, avalia.

Tia Nice acredita que, além de “doar vida” por meio da comida fruto da agricultura familiar —no restaurante e pelas 25.000 marmitas doadas na pandemia—, é essencial a conexão com a terra.

“É muito importante você plantar e colher orgânicos, ter as sementes crioulas, que vão durar mais nas marmitas, nas saladas”, conta, animada, sobre a horta própria. “A partir do momento em que o restaurante percebe isso, vai aprender a valorizar o produtor. E o cliente que come um produto desses volta a consumir”, completa a agricultora Terezinha.

Para os chefs de cozinha, os ganhos com sabor, diversidade e frescor são grandes, e adquirem, ainda, um novo significado.

“Para que serve um restaurante se não para restaurar? Se a gente pode restaurar uma pessoa, a gente pode restaurar uma comunidade. Para além da qualidade do produto que está no prato, é a qualidade do relacionamento”, fala Rodrigo Oliveira, do Mocotó.

Além do restaurante, o mapa inclui a CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura) Mocotó —há três anos, o espaço funciona como ponto de entrega de orgânicos da Sta. Julieta Bio a preços acessíveis.

A Cooperapas e o Instituto Ibia também estão entre os parceiros do Mocotó, sendo o último peça-chave para atender 380 famílias por mês no Quebrada Alimentada, projeto de Adriana e Rodrigo.

“É reconhecer a atitude do estabelecimento de comprar, mas aproximar o consumidor dessa perspectiva de conhecer outro lado da cidade”, pontua Palm, sobre a plataforma em que também é possível encontrar projetos ligados à segurança alimentar, hortas, grupos de consumo responsável, feiras livres, mercados e polos de ecoturismo.

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