Descrição de chapéu memes

Água em lata igual à de William Bonner ainda é incomum, mas tem vantagens

Embalagem causou surpresa quando apresentador abriu uma ao vivo, na apuração das eleições

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São Paulo

Sou do tempo em que a expressão "da lata" era sinônimo de coisa boa. Foi no verão de 1987/88, bem quando eu passava do ensino médio para a universidade, que um carregamento de enlatados de excelente qualidade foi despejado por um navio na costa brasileira e fez a alegria de milhares de jovens.

(Para mais detalhes, dê um Google em "verão da lata".)

William Bonner vira meme após abrir latinha de água durante apuração
William Bonner vira meme após abrir latinha de água durante apuração - Reprodução/Globo

Assim, causou-me certo espanto o fuzuê a respeito da latinha que o William Bonner abriu nos estúdios da Globo durante a apuração do segundo turno das eleições. Gente, e se fosse uma cerveja? O Brasil inteiro bebendo —uns para festejar, outros para amortecer a dor de corno—, menos o Bonner?

Enfim, não era cerveja nem coquinha. Era água, como o próprio Bonner anunciou ao vivo depois de perceber a repercussão do barulho de lata nas redes sociais.

Aí a conversa mudou. Onde já se viu água em lata?

De fato, a água mineral representa só 0,05% das bebidas enlatadas vendidas no Brasil —um mercado em que cerveja e refrigerantes levam 95% do bolo. Ainda é difícil de se achar.

Para fazer esta reportagem, precisei pedir amostras para a empresa Ball, fabricante de latas, pois não encontrei a água nos mercados do meu bairro.

A discreta e desconhecida água enlatada já está entre nós desde 2020, com cinco marcas nacionais: AMA, Minalba, Mamba Water, Itacoatiara e Serra do Atlântico.

Fica a questão: por que inventar moda com água mineral quando a garrafa pet já é de casa, quase da família?

O principal argumento para a mudança é a questão ambiental. "O Brasil é recordista de reciclagem de latinhas", afirma Cátilo Cândido, presidente da Abralatas (Associação Brasileira de Produtores de Latas de Alumínio).

"Alcançamos 98,7% de reciclagem no ano passado." Já o reaproveitamento de resíduos plásticos foi de 23,1% em 2020, segundo dados da Abriplast (Associação Brasileira da Indústria de Plástico).

Outra vantagem propagandeada é a melhor conservação da bebida. O alumínio bloqueia totalmente a luz e as latas são invioláveis —uma vez abertas, ninguém as fecha de novo.

"Eu já vi água velha, em embalagem pet, com um bolor rolando lá dentro", conta Gilberto Tarantino, dono da Cervejaria Tarantino. Na fábrica de Tarantino, a linha de envase trabalha exclusivamente com latas de alumínio.

Nas bebidas gaseificadas, a perda de carbonatação é um evento raro.

Aliás, o "clac-tss" da lata que o Bonner abriu ao vivo nada tem a ver com gás na bebida. O barulho acontece porque o conteúdo das latinhas é mantido sob pressão, seja qual for a bebida —água com ou sem gás, cerveja, refri, suco, kombucha, energético, café ou vinho.

Hugo Magalhães, diretor de marketing da Ball, aponta mais dois diferenciais: "A lata é mais leve e não se fragmenta ao cair". Pontos relevantes para quem ataca a geladeira descalço e sujeito a quedas de garrafas de plástico ou de vidro.

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Embalagens de água em teste feito por Marcão Nogueira - Marcos Nogueira

Beleza, muito bom, maravilha. Mas realmente a embalagem faz alguma diferença para quem bebe? Conduzi uma pequena degustação para mim mesmo, sem nenhum rigor técnico, com água sem gás em quatro tipos de embalagem: garrafa de vidro, garrafa plástica, caixa de papelão e lata de alumínio.

No sabor da água (ou na falta dele), não notei diferença alguma entre a as amostras. Há outros aspectos sensoriais a serem considerados, contudo.

A garrafa de vidro, pesada e transparente, remete a um produto mais, sei lá, nobre. É o marketing que o setor explora para vender água a preço de caipirinha em restaurante besta.

Efeito exatamente oposto tem a caixinha de tetra pak. Você espera que de lá saia um leite achocolatado ou um néctar de fruta terrivelmente doce.

Na lata, incomoda um pouco a impossibilidade de se ver, antes de abrir, se o líquido é cristalino —afinal, esse é outro fator fortíssimo do marketing da água mineral. Ao beber direto no bico, minha língua está treinada a esperar a coceirinha das bolhas da cerveja ou do refri, inexistentes na água sem gás.

Por fim, a garrafa plástica é o padrão das embalagens de água. Ocorre que, para mitigar o impacto ambiental dessas garrafas, tem-se usado um plástico fino, mole, flexível depois que você abre a tampinha e libera a pressão.

Você fica com uma garrafa flácida, meio broxa, que não se sustenta em pé e molha tudo ao redor se você não agir rápido para recompor o material molenga.

Isto posto, sou 200% a favor da latinha. Longa vida à água da lata.

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