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Nelita faz cozinha italiana autoral sem fechar os olhos para o mundo

Pratos são precisos e sutis, com construções de sabores muitas vezes surpreendentes

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São Paulo

No miolo de Pinheiros, a rua Ferreira de Araújo se tornou um repentino epicentro gastronômico. A cada semana, um novo restaurante surge no panorama do paulistano faminto que passa pela via sempre abarrotada.

É ali, onde há bares modernos e casas especializadas em trufas, padarias tradicionais e cafeterias hipsters, que a chef Tássia Magalhães e seu marido e sócio, Daniel Steinle, decidiram abrir o Nelita, restaurante que não se limita a uma só definição. A casa acaba de estrear na lista 50 Best America Latina na posição de número 39.

Fachada do Nelita, restaurante italiano na região do Baixo Pinheiros
Fachada do Nelita, restaurante em Pinheiros que faz parte da lista do 50 Best - Amanda Francelino/Divulgação

Inaugurada há quase dois anos, a casa caiu nas graças dos paulistanos por unir muitos elementos: clima extrovertido, mas profissional; comida elaborada, porém afetiva; serviço atencioso e amigável, sem ser "amigão".

A fachada em verde Tiffany com tijolos aparentes indica um restaurante cosmopolita, que poderia estar em qualquer capital do mundo (e que cairia muito bem como um bistrô parisiense, por exemplo).

Mas a comida comprova a origem paulista da chef, que nasceu no interior paulista (Guaratinguetá) e fez carreira na capital, principalmente à frente do reconhecido Pomodori, tendo o desafio de substituir Jefferson Rueda quando o chef saiu dali.

Ao longo dos anos, Tássia criou seu estilo: foco em cozinha italiana autoral e contemporânea, mas sem fechar os olhos para o que acontece em outras regiões do mundo —passagens por cozinhas nórdicas a ajudaram nesse quesito.

Seus pratos são precisos e sutis, com construções de sabores muitas vezes surpreendentes, como no camarão empanado com missô e brodo de acerola (R$ 86). De onde se espera o trivial, a chef surpreende com uma pontinha de ousadia.

Mas é na seção de pastas que ela mostra seu domínio: o agnolotti recheado de cabra com molho de limão confit, mel e alho negro (R$ 101) é uma pequena granada que só detona na boca após a primeira garfada. Suave e potente, é prova de que o trabalho de Tássia é cheio de (boas) contradições.

Linguine, vôngole, lardo e abobrinha servido no restaurante Nelita, em São Paulo
Linguine, vôngole, lardo e abobrinha servido no restaurante Nelita, em São Paulo - Divulgação

Principalmente nos sabores: um dos melhores pratos do menu é o linguine (com massa feita na casa, como todas as outras), com vôngole, lardo e abobrinha defumada (R$ 108). Está tudo ali: umami, iodo, o defumado ligeiro. O lardo ainda dá uma camada extra de textura, um detalhe de quem entende de delicadezas.

Há mais: risotos, carnes (um pato com cebola defumada e "sotaque" francês, R$ 167), e uma pequena seção de vegetais, como pedem os cardápios vigentes. Para quem quer ficar só pelas entradas acompanhadas de vinho (muito da carta é composto por rótulos naturais), há bastante com que se divertir.

Os aspargos confitados com beurre blanc suave e bottarga feita na casa (R$ 76) ou a levíssima mousse de foie gras com maçã verde e matcha (R$ 86) são preparados com apuro —o último melhor se partilhado, para não enjoar.

Com a cozinha aberta, instalada bem no centro (onde somente trabalham mulheres, algo raro na gastronomia), o Nelita tem clima de restaurante do Brooklyn nova-iorquino: decoração industrial chic, um balcão largo de pedra branca e soul jazz soando pelas caixas.

Como no menu, que permite experiências distintas (um jantar leve antes do cinema, um encontro de amigos no sábado à noite), os salões seguem a mesma nota: de mesas com sofás intimistas a uma mesona com até 14 lugares na adega da parte superior para grupos.

Às terças-feiras, Tássia sai do script e presta homenagem às suas cozinheiras, com um menu exclusivo e mais gastronômico de dez pratos (R$ 310) criado a muitas mãos.

Cada uma delas é responsável por uma receita baseada em memórias afetivas, com pratos mais elaborados, como a caixa das bailarinas, servida com quatro bombons (entre mel, milho, beterraba e hibisco).

E, no universo do Nelita, "menu degustação" é também mais uma possibilidade. É mais um restaurante dentro do restaurante, uma outra alternativa para uma chef criativa que tem muito a mostrar.

Nelita

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