Inhotim recebe 2ª edição do Fartura, que vai abordar origem da comida brasileira

Evento acontece nos dias 30 de setembro e 1º de outubro com participação de chefs da culinária indígena e portuguesa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Nos dias 30 de setembro e 1° de outubro, o Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, recebe a segunda edição do Festival Fartura, um dos principais eventos de gastronomia do país.

No museu a céu aberto, o fio condutor das atrações será "discutir a comida original do Brasil, o que acontecia aqui antes dos colonizadores e quais são os produtos originalmente brasileiros", diz Carolina Daher, uma das curadoras do festival.

Pessoas passeiam e comem em estandes de comida do festival Fartura
No 26º Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes, 14 restaurantes desenvolveram cardápios especialmente para o evento - Gustavo Andrade/Divulgação

Atrações musicais, oficinas de gastronomia e chefs cozinhando ao vivo fazem parte da programação, junto de mesas redondas para debater as diferentes características da culinária indígena no país.

Enquanto o Inhotim receberá o evento pela segunda vez, a cidade mineira de Tiradentes sediou a 26ª edição do Fartura este ano.

O mote do festival realizado na cidade histórica entre 18 e 27 de agosto foi o caminho do alimento da origem ao prato. Lá, o Fartura é conhecido e esperado pela população e, segundo Daher, ocupa cerca de 95% dos leitos em pousadas e hotéis. Ela define o clima da cidade, durante a festa, como receptivo e intimista, "com as pessoas passeando pelas ruas enquanto bebem taças de vinho, conversam e comem".

No entanto, diz, a primeira edição do evento feita no Inhotim, em 2022, teve uma proposta diferente, menos festiva, com mesas redondas para debater a gastronomia brasileira. Para 2023, o objetivo da organização é unir as duas propostas no evento do museu de Brumadinho.

Com base no festival que aconteceu na cidade histórica, o que esperar, então, da festa em Inhotim? À convite da organização, a Folha esteve no 26º Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes. A cidade construída no início do século 18 foi a primeira a abrigar a festa.

Neste ano, as atrações estavam divididas em três espaços. Um total de 14 restaurantes desenvolveram cardápios para o evento; chefs de diferentes partes do país apresentaram oficinas com degustação; houve também uma feira com produtores locais, atrações musicais e os festins, jantares de alta gastronomia assinados por uma dupla de cozinheiros diferentes a cada noite.

A entrada em todas as praças era gratuita, com exceção dos festins. A participação nas oficinas foi feita mediante inscrição prévia, online.

Além de ensinar os preparos ao vivo, os chefs convidados para as aulas compartilharam com o público um pouco de sua história, e da relação com o tema do evento. Este foi o caso de Roberta Sudbrack, chef do Sud, no Rio de Janeiro, que afirma defender desde o começo de sua carreira a valorização da cadeia de produção dos alimentos.

Para ela, diminuir a possibilidade de desperdício não é apenas "uma tendência" mas é essencial para a cozinha nos dias de hoje.

Espaço Brasa e Lenha, no 26° Festival  Cultura e Gastronomia de Tiradentes, realizado pela plataforma Fartura
Espaço Brasa e Lenha, no 26° Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes, realizado pela plataforma Fartura - Victor Schawner/Divulgação

"Desperdiçar comida é você, chef, não usar o seu conhecimento, a sua inteligência e a sua curiosidade para transformar o ingrediente. Como vamos fazer pratos lindos e esquecer o que tá acontecendo na nossa volta?" Para ela, mais cozinheiros devem se posicionem ativamente sobre temas como sustentabilidade.

Todos os festins foram assinados por mulheres. Segundo Daher, do Fartura, essa foi uma forma de valorizar a origem da culinária mineira, porque, no dia a dia, a cozinha brasileira é majoritariamente comandada pelas mulheres, mas o prestígio da alta gastronomia fica com os homens.

Bruna Martins, que comanda uma equipe só de mulheres no Birosca, em Belo Horizonte, concorda, e diz ver "a cozinha mineira uma cozinha feminina".

No entanto, o aumento do reconhecimento das mulheres que seguem carreira na cozinha profissional depende de uma mudança cultural, afirma. E isso vai além da visibilidade, passa pela redistribuição de poder e influência, muitas vezes restrito a um número pequeno de homens. Roberta e Bruna assinaram o menu do último jantar oferecido no Fartura.

Para experimentar os pratos dos restaurantes convidados, o festival montou uma estrutura com estandes e praças de alimentação a céu aberto, localizadas na Praça da Rodoviária e no Santíssimo Resort. As aulas e o espaço degustação aconteceram em tendas, montadas no Largo das Forras.

Todos os espaços são no centro da cidade, que tem o conjunto arquitetônico tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), desde 1938.

Nos dias de sol, o público pôde aproveitar bem as praças e inclusive, acompanhar as aulas do lado de fora das tendas —para quem não estava inscrito nos lugares reservados. Com a chuva que atingiu a cidade no último dia do evento, porém, o aproveitamento das atrações caiu. Não havia lugares cobertos para que os visitantes pudessem se sentar e comer. Os ombrelones instalados nas mesas da praça de alimentação não deram conta de abrigar quem fugia da chuva.

Ao observar o público, por hetero-identificação, a maioria das pessoas aproveitando as atrações era branca, na organização e manutenção do evento, porém, era perceptível a presença de pessoas pretas.

Mais de 65 mil pessoas compareceram ao festival, segundo dados da organização, do total, 74% têm mais de 31 anos e 56% dizem que a gastronomia foi a motivação para a viagem. Daher afirma que os visitantes vêm, principalmente, de Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e de outras cidades de Minas Gerais.

No evento que acontecerá no Inhotim, segundo o Fartura haverá a presença de convidados "trazendo sabores do norte do país a Minas Gerais, além de um convidado de Portugal, berço da cultura nacional". Apesar de tratar da culinária que deu origem à cozinha brasileira, não há, até o momento, menção à gastronomia afro-brasileira.

A jornalista viajou a convite do Fartura

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.